Camboriú recebe a partir de hoje até quarta-feira nomes de peso do mercado da moda brasileira para discutir experiências, o futuro e as histórias de sucesso do setor na conferência O Negócio da Moda. Mas por que o Estado sedia esse debate? Inovação, cadeia completa, investimento e preparo para enfrentar a crise são algumas das respostas.
Superar períodos de baixa demanda no setor ou mesmo de recessão, como o momento que o país enfrenta, é uma das características do segmento em Santa Catarina e, principalmente, no Vale do Itajaí, região que é referência em produção têxtil. O coordenador do curso de Design de Moda da Unifebe, Rodrigo Zen, explica que muitas vezes o restante da categoria não enxerga o Estado como um eixo inventivo da moda, mas ressalta que a criação é apenas uma das pontas dessa cadeia:
— Além de criar é preciso saber fazer, e essa é uma característica muito forte daqui. A indústria têxtil tem inovado como um todo, na base, e isso faz a diferença para o produto lá fora.
Inovação é, de fato, a palavra que coordena os movimentos da indústria de moda na região – seja em produtos, métodos ou conceitos –, e que também ajuda as empresas a passarem por momentos de baixa nas vendas. A presidente do Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC), Amélia Malheiros, afirma que, como as crises são processos cíclicos, é possível se preparar para esses períodos, e foi o que o segmento aprendeu a fazer no Estado, aproveitando os diferenciais que já possuía, como a cadeia industrial completa – da produção de matéria prima à venda no varejo para o consumidor final.
— Tínhamos que entender qual é o valor que essa moda catarinense gera e compartilhar isso. Então, começamos a trabalhar dentro das empresas, desde a alta liderança, a média gestão, a equipe criativa, para falar de uma inovação mais disruptiva, porque a indústria da moda já é inovadora e criativa, mas começamos a trazer elementos que mostravam uma transformação no cenário global em relação ao posicionamento das marcas.
Mudança de pensamento
Outro fator que fez com que a indústria da moda na região se reinventasse foi a mudança de pensamento em relação à produção e consumo. As empresas tiveram que entender os novos anseios dos consumidores – que consideram muito mais do que tendências na hora da compra – e mudar as próprias concepções.
— Os empreendedores e gestores entenderam que quem manda é o consumidor, que abastecer a fábrica sem demanda é jogar dinheiro fora. Isso foi fundamental para garantir a sustentabilidade dos negócios — destaca Bruna Brandes, diretora de Desenvolvimento de Produto da Brandili, marca que começou em Apiúna e é líder de mercado em moda infantil.
Para ela, a história do segmento na região mostra que a indústria soube se posicionar.Nesse ponto, Amélia também ressalta as lições deixadas pelos pioneiros do setor:
— A cultura de um lugar é absolutamente determinante e as pessoas que formaram a indústria da moda catarinense deixaram bases muito sólidas, para que mesmo, e principalmente, em tempos de crise a gente consiga superar isso antes de outros
mercados.
A revisão de processos é outra ação para superar momentos difíceis. Marcelo Caetano, proprietário e diretor comercial da WJ Acessórios, de Brusque, explica que a perda de poder aquisitivo da população fez com que a empresa lançasse uma linha de produtos mais em conta, mantendo a beleza e o design característicos da marca. Além disso, o investimento em softwares focados em produtividade também auxiliam na tomada de decisões:
— Quando começamos a sentir os efeitos da crise decidimos que nossos produtos não poderiam perder o glamour. Ao contrário, agora é a hora de encantarmos o cliente com o nosso desenvolvimento.
Investimento na juventude
Além das mudanças internas, outro fator que diferencia a indústria catarinense é a busca por mão de obra jovem e local para os setores criativos. Amélia Malheiros, presidente do Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC), estima que cerca de 400 novos designers já passaram pelas capacitações promovidas pelo grupo desde 2005, que busca promover a inovação nas empresas através de novos talentos:
— Muitos desses jovens têm as suas marcas, mas a maioria está revolucionando as nossas próprias indústrias, está dentro das áreas criativas fazendo uma evolução do modelo mental e criando esse negócio do futuro na qual eles mesmos querem trabalhar.
Para Rodrigo Zen, coordenador do curso de Design de Moda da Unifebe, de Brusque, a busca das empresas por essa nova geração de profissionais também vai determinar um novo futuro para o setor de moda em Santa Catarina.
— Esse “bairrismo” é uma coisa positiva, já que muitas vezes as indústrias vão buscar esses designers fora do Estado. E ter essa formação aqui também é uma maneira de inovar — completa.
O Negócio da Moda
A conferência O Negócio da Moda 2016 (ONDM) traz autoridades do segmento para debater o mercado em Santa Catarina. De hoje até quarta-feira, em uma estrutura montada em Camboriú, nomes como Amélia Malheiros, presidente do SCMC; Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil; e Paulo Borges, criador e diretor do São Paulo Fashion Week, participam de uma programação intensa de debates sobre diversos aspectos da moda brasileira.
Entre as empresas participantes das rodas de conversa, nomes importantes do Vale do Itajaí vão relatar experiências de sucesso: Adriana Zucco, estilista da Colcci; Bruna Brandes, diretora de Desenvolvimento de Produto da Brandili; Jussara Caetano, diretora criativa da WJ Acessórios; e Daniel Mafra, fundador da Damma, são alguns dos nomes que participam do evento.
O ONDM 2016 tem ingressos à venda pelo site ondm.com.br e o evento será transmitido pela internet.
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