Vejam esta foto.
A América Latina já viveu o seu patético momento com uma múmia (com os vivos, então…) — no caso, a de Evita Perón. A história é misto de comédia com filme de terror — o que não chega a ser uma síntese ruim da história da América Latina, muito especialmente a da Argentina, que experimenta, no momento, o pastelão trágico de Cristina Kirchner, que vai ficar lá até a última besteira, até conduzir o país para um beco sem saída. Essa tem sido a rotina desde Perón, não é?, com alguns poucos espasmos de lucidez.
Evita, mulher de Perón, morreu de câncer no dia 26 de julho de 1952. Era a “mãe dos descamisados”. A exemplo de Chávez, o general era autoritário, autocrata, mas um grande distribuidor de prebendas que minoravam o sofrimento dos mais pobres. Evita já era adorada em vida quase como uma santa. A Argentina assistiu, no dia de sua morte, a uma das maiores manifestações públicas de sua história.
Perón mandou embalsamar o corpo, que ficou abrigado na sede da central sindical peronista, a CGT. O chefe populista foi deposto por um golpe em 1955, liderado pelo general Eduardo Lonardi, logo deposto por outro, Pedro Eugênio Aramburu, que governou até 1958. Para evitar que o corpo se tornasse objeto de culto, Aramburu determinou que Carlos Eugênio de Moori Koenig, chefe do serviço de inteligência do Exército, sepultasse o corpo em local secreto. Não foi obedecido. Koenig mandou um subordinado seu esconder a múmia no porão de sua própria casa, o que deu margem, depois, a falatórios, segundo os quais ele teria se apaixonado por ela, exercitando, digamos, paixões necrófilas. Calma, que isso é só o começo da loucura.
NOTA UM – Koenig, um oficial graduado, iniciava ali o caminho do fim. Tornou-se um alcoólatra e passou a perambular pelas ruas.
NOTA DOIS – O pobre rapaz que guardava a múmia de Evita em casa também se desgraçou. Vivia aterrorizado. Um dia, ouviu barulho no porão e desceu armado. Atirou. Matou a mulher, grávida de seis meses, que descera para saber, afinal, que mistério se escondia lá. Não acabou, não!
Aramburu ficou furioso ao saber que o corpo ainda estava na Argentina. Mobiliza a cúpula da Igreja Católica para que fosse transferido para a Itália. Foi enterrado com nome falso: Maria Maggi de Magistris. Reza a lenda que uma série de acidentes incomuns ocorreram no trajeto até o aeroporto. Aramburu documentou toda a operação, deixando ordens expressas de que o material só fosse aberto depois de sua morte.
Em 1970, foi sequestrado por terroristas montoneros. Uma das exigências é que revelasse onde estava Evita. Não revelou. Foi assassinado. Em 1971, o governo argentino devolve o corpo para Perón, que estava exilado na Espanha. Uma nova onda de boatos tem, então, início. José López Rega, um misto de secretário e faz-tudo de Perón, dizia-se também um bruxo. Foi acusado de usar a múmia em rituais de magia para transferir a alma de Evita para Isabelita, a nova mulher do caudilho. Os montoneros não se deram por satisfeitos: sequestraram o corpo de Aramburu e prometeram entregá-lo apenas quando Evita voltasse à Argentina.
Em 1973, com a redemocratização argentina, Perón volta ao país e se elege presidente. Morre no ano seguinte, e Isabelita, que era sua vice (afinal, havia roubado a alma da outra, né?) assume a Presidência. Manda buscar o corpo de Evita na Espanha, em 1974, e o deposita ao lado do de Perón na Quinta de Olivos, residência oficial. É a fato que vocês veem lá no alto.
Ainda não era o descanso final. Em 1976, Isabelita é deposta por um golpe de estado. Os generais decidem, então, entregar o corpo de Evita às suas irmãs, que o enterram no Cemitério da Recoleta. Em 1977, o corpo de Perón é sepultado secretamente no cemitério La Chacarita. Ele não tinha sido exatamente embalsamado, mas substâncias conservantes tinham sido injetadas no corpo. Em 1987, seu túmulo foi profanado, e suas duas mãos foram decepadas e roubadas, como se vê na foto abaixo.
Pois é…
A América Latina desafia a imaginação do realismo mais fantástico. Uma nova múmia está chegando por aí. A ela, desconfio, outras se seguirão. A civilização costuma prezar a obra de seus heróis. A estupidez adora seus cadáveres.
Por Reinaldo Azevedo
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caro romildo,
claramente, pode ser definido que: A estupidez adora seus cadáveres.
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