Mat Velloso, VP do Google DeepMind para plataformas de IA para desenvolvedores, diz que tecnologia transformará a forma como programamos por completo.
A trajetória do paulistano Mat Velloso é bastante singular. Entusiasta da tecnologia desde a juventude – ele conta que começou a programar aos nove anos de idade –, frequentou aulas de desenvolvimento para adultos porque não existia outra opção para aprender tudo o que queria. No começo da vida adulta, foi direto para a faculdade de ciência da computação, acreditando que esse seria o melhor caminho para ter uma carreira no setor.
Mudou de ideia. Largou a faculdade e decidiu abrir uma empresa de consultoria em tecnologia com um grupo de amigos quando morava em Belo Horizonte (MG). O negócio prosperou e Velloso viu que as habilidades que precisava desenvolver estavam em outro lugar. “Eu precisava aprender a administrar uma empresa”, contou em conversa com o IT Forum durante o Google Cloud Next 2025.
O plano deu certo. Na capital mineira, conseguiu fazer sua empresa crescer e ultrapassar o número de 100 colaboradores. Mas, quando estava se aproximando dos 30 anos, uma nova vontade de mudar chegou. “Pensei: ou faço isso para o resto da minha vida e sigo em Belo Horizonte, ou vou conhecer o mundo”, diz.
A segunda opção venceu. Ele conta que vendeu tudo o que tinha, colocou seus pertences mais queridos em uma mala e zarpou para outro lado do mundo – literalmente. Começou do zero em uma nova empresa de consultoria em tecnologia na Nova Zelândia. “Foi o lugar mais diferente que consegui pensar.”
Velloso não demorou a desenvolver seu networking no país da Oceania e, em 2018, conseguiu uma vaga na Microsoft. Atuava como consultor de serviços como SharePoint, .Net, SQL Server e outros. O novo emprego marcou o começo de uma trajetória que durou quase 13 anos na gigante de Redmond.
Em 2011, se mudou para os Estados Unidos e começou a atuar na matriz da Microsoft. De engenheiro sênior de desenvolvimento de software, foi crescendo na companhia. Se tornou evangelista técnico, fez mestrado em tecnologia, e virou conselheiro técnico do CTO. Em 2018, alcançou o posto de conselheiro técnico de Satya Nadella, CEO. “Fui conselheiro dele por quatro anos.”
Naquela altura, a inteligência artificial (IA) já era parte de seu dia a dia. O executivo conta ter sido uma das primeiras 20 pessoas a terem visto o ChatGPT nascer, muito antes da plataforma da OpenAI tomar o mundo de assalto no final de 2022. A carreira bem-sucedida da Microsoft, no entanto, não segurou o desejo de mudança que parece sempre acompanhar Velloso.
Olhando ao redor do mercado, o executivo sentiu que a empresa, apesar de estar envolvida no mercado de IA, não tinha uma estratégia de vanguarda. “Fiquei meio frustrado porque a Microsoft não cria IA. Ela faz outsourcing de IA”, diz. “Não queria estar em uma empresa que fica esperando a OpenAI me entregar um novo modelo para fazer alguma coisa. Queria estar à frente da curva”.
No início de 2024 se juntou ao Google. Desde fevereiro deste ano, atua como vice-presidente de Produtos da DeepMind, empresa do grupo Alphabet, do qual o Google é parte, conhecida por desenvolver tecnologias de ponta. Lá, é responsável por plataformas de IA para desenvolvedores, incluindo o Google AI Studio, APIs Gemini e Gemma, de código aberto.
“Meu trabalho é conquistar o coração dos programadores”, brinca. “Quero entender o que eles estão tentando fazer e como posso ajudar a resolver isso”.
No DeepMind, atua no desenvolvimento de ferramentas de IA que estão impactando o trabalho de programadores de software diretamente. Hoje, se considera novamente na vanguarda da transformação trazida pelo avanço da IA e, na sua avaliação, vivemos o começo de uma nova revolução.
“Os próximos cinco anos vão mudar como o software é criado e usado. É algo que não vimos nos últimos quarenta anos”, indica.
Essa revolução, diz, trará uma transformação completa na forma como o software é desenvolvido. A era de escovação de bits ficou para trás e programadores terão um papel cada vez mais próximo ao de um “orquestrador” do processo. “Precisamos dar um zoom para fora. Invés de olhar cada linha de código, ele vai pedir que a IA faça as mudanças e ficar no ‘cockpit’, garantindo que tudo esteja certo”, avalia.
Ele reconhece que a ideia ainda é difícil de ser aceita por programadores. Especialmente entre aquelas que aprenderam a a desenvolver no modelo antigo – como ele mesmo o fez. Mas, diz, hoje o humano já é o “gargalo” e é preciso confiar nas ferramentas disponíveis para agilizar a criação de software. “Ir avaliando linha por linha de código é um pensamento da minha geração. A próxima não vai mais ter isso”.
Ainda há desafios para a IA no desenvolvimento de código, é claro. Velloso avalia, por exemplo, que o custo é um deles. “A maior parte dos cenários que vejo as pessoas querendo construir ainda são economicamente inviáveis”, diz. Mas isso também está se transformando. Durante o Google Next, por exemplo, a empresa já anunciou a nova TPU Ironwood, que entrega o dobro da performance por watt em comparação à geração anterior, lançada em 2024.
“Eu programo computadores há 40 anos, mas nunca estive tão empolgado por essa área como estou agora”, finaliza.
*O jornalista viajou a Las Vegas a convite do Google Cloud
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