A maioria das pessoas concordaria que viver de maneira mais sustentável é algo pelo qual vale à pena lutar. Com cerca de 7 milhões de toneladas em alimentos sendo desperdiçados a cada ano apenas no Reino Unido – chegando em 1,6 bilhões de toneladas em todo o mundo – e as temperaturas globais quebrando recordes a cada três anos, ser verde é mais importante do que nunca. Mas é muito mais fácil falar do que fazer.
Para a grande maioria, a tentativa de viver um estilo de vida mais sustentável se restringe à reciclagem semanal de garrafas, papel, plásticos e resíduos de alimentos. E consumir menos também representa uma questão complicada para os governos já que consumir mais em um ano em comparação ao ano anterior impulsiona o crescimento econômico.
Uma questão duradoura permanece: o que realmente é “sustentabilidade” e o que “consumir de forma sustentável” significa, em primeiro lugar? Como David Harvey apontou, pode significar qualquer coisa que as pessoas queiram que signifique.
Na sua forma mais simples, no entanto, o consumo sustentável pede que as pessoas considerem o impacto que suas escolhas (quando se trata de comprar coisas ou usar energia) terão na capacidade das gerações futuras de fazer suas escolhas. Infelizmente, a probabilidade da maior parte das pessoas agir dessa maneira é pequena. A maioria de nossas escolhas diárias de consumo é feita de forma habitual ou emocional e não de forma racional. Como observou Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel, as pessoas tendem a pensar rapidamente, motivadas por hábitos e intuições – e não de forma lenta e reflexiva.
Sobrecarga de Informação
Então: como governos, ONGs – até as próprias empresas – podem incentivar as pessoas a consumir de maneira mais sustentável? Atualmente, a lógica dominante é fornecer às pessoas mais informações para que elas possam tomar decisões mais assertivas sobre com o que gastam seu dinheiro.
Embora isso possa ser bem-sucedido para uma minoria, nessa visão, supõe-se que as informações sejam precursoras da mudança de atitudes das pessoas e – no devido tempo – de seu comportamento. O problema é que há pouca evidência de que o fornecimento de informações faça isso.
Por outro lado, essa lógica é problemática, pois faz com que as pessoas sofram com a sobrecarga de informações. Muita informação pode causar confusão e, se não for relevante para elas, as pessoas simplesmente a ignoram.
No entanto, mesmo as pessoas que adotaram a mensagem de sustentabilidade têm dificuldade em praticá-la. Essa descoberta surgiu dos dados coletados por uma de nossas ex-alunas de doutorado Cristina Longo (atualmente pesquisadora da escola de negócios da Universidade de Lille). Para entender as provações e tribulações de tentar viver de maneira mais sustentável, Longo conduziu um estudo etnográfico e se incorporou a uma comunidade local da Rede de Transição, um movimento que promove uma vida sustentável.
Ela passou dois anos saindo com pessoas altamente conhecedoras e comprometidas em viver um estilo de vida sustentável. Ela participou de palestras, reuniões e de movimentos de jardinagem de guerrilha, cuidando de espaços públicos negligenciados, antes de entrevistar membros da comunidade.
Nossa análise dessas entrevistas destacou alguns dos principais problemas quando se trata de viver valores sustentáveis – mesmo quando você tem as melhores intenções. O paradoxo do consumo sustentável parece ser que, quanto mais você está ciente dos problemas em jogo, mais difícil fica de fato viver seus valores.
Dilema, Tensão, Paralisia
Quanto mais as pessoas se tornam conhecedoras em relação às inúmeras questões relacionadas à sustentabilidade, mais esse conhecimento se torna fonte de dilema. Por exemplo, Tessa, membro da Transition Network, com interesse e compreensão de longa data das questões de sustentabilidade, nos contou sobre seu “dilema do feijão verde do Quênia”. Para ela, o feijão verde do Quênia era definitivamente um não-não, por causa da distância percorrida para transportar o feijão da África para os Estados Unidos. No entanto, ela descobriu que sua clareza sobre a questão foi turvando-se quando soube dos benefícios sociais e econômicos do cultivo de feijão verde para os agricultores locais do Quênia.
Além disso, para aqueles que já estão comprometidos com os ideais de sustentabilidade, não conseguir cumpri-los se torna uma fonte de tensão considerável. Veronica, por exemplo, contou uma história sobre uma palestra que ela deu sobre redução de pegadas de carbono. Depois, ela passou de carro por uma família que estava na reunião e que andava de bicicleta. Ser confrontada por não praticar o que ela estava pregando foi muito desconcertante para ela. Irene também quer comer alimentos orgânicos de origem local sempre que possível, mas com seu orçamento limitado, a prática é onerosa para ela. Essa tensão existencial que Veronica e Irene experimentam é em grande parte autoinfligida.
Descobrimos que, quanto mais conhecedoras as pessoas se tornam, mais isso pode resultar em paralisia ou incapacidade de agir de acordo com os ideais ou objetivos de sustentabilidade. Uma informante, Kate, descreveu uma conclusão que é um ponto de virada. À medida que acumulava cada vez mais conhecimento que tentava colocar em prática, ela também percebeu que seus esforços seriam insustentáveis. Judith também experimentou algo semelhante, mas viu seu fracasso – no caso dela, de não comprar nada de origem chinesa – como parte de um processo geral de aprendizado.
Claramente, ser um consumidor sustentável é problemático e a incorporação de ideais sustentáveis na vida cotidiana está repleta de dificuldades. Até que a obsessão da sociedade com o crescimento econômico seja abordada em um nível muito mais amplo, o consumo sustentável permanecerá uma fantasia.
Texto escrito por Peter Nuttall e Avi Shankar. Artigo originalmente publicado em The Conversation e traduzido para o Modefica sob licença Creative Commons.
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