Fazer merda é uma dádiva humana. Um presente, dado a nós, e somente nós, por qualquer criador, extraterrestre ou processo evolutivo que você deseje acreditar. Enquanto outros seres vivos se contentam fazendo merda no sentido literal, nós, humanos, levamos isso a um outro nível.
Às vezes nos deparamos com uma pessoa X e resolvemos arriscar algo junto a ela, pensamos “Vai dar merda!” e seguimos em frente mesmo assim. Meu cachorro, após anos passeando comigo, nunca se jogou deliberadamente na frente do perigo com tamanho prazer e alegria.
O "fazer merda consciente” do caso acima, aquele em que sabemos aonde estamos nos metendo, ainda é um fenômeno à parte. Bonito mesmo é o “fazer merda” sem nos darmos conta do que está acontecendo. É quando nos pegamos pensando coisas como: “O que passou pela minha cabeça?”, “O que eu estava pensando?” ou ainda o famoso “Eu devia estar louco!”.
Isso porque, quando erramos, e erramos feio, geralmente não temos noção do que estamos fazendo até ser tarde demais. Você está na empresa há algum tempo, gera algumas inimizades e só se dá conta da armadilha em que caiu ao pegar aquele último projeto planejado “especialmente" para você quando está tirando suas coisas da gaveta e se preparando para uma temporada enviando currículos. Anos após fechar sua empresa, você se pega pensando no que, exatamente, devia estar pensando ao arriscar suas economias entrando naquela furada.
Não se sinta mal. Tal coisa acontece coletivamente nos mercados mundo afora. Seja na bolsa de valores, em imóveis, moedas, corridas de cavalos ou na infinidade de modalidades que o ser humano inventou para perder dinheiro de uma forma mais eficiente. A cada ciclo de mercado, alguns milhares de investidores se pegam coçando a cabeça e pensando todos juntos: onde, afinal, estávamos com a cabeça?
Claro que errar desse jeito não é privilégio de investidores e empresários. Esse comportamento se estende ao dia a dia de todos nós. Como você vai explicar, por exemplo, o rombo no cartão de crédito por causa daquela TV nova, os gastos absurdos em uma ida ao cabeleireiro, aquela roupa que sorriu para você na loja e pareceu ridícula no seu armário?
O interessante – e divertido – da vida é que só nos damos conta das merdas que fizemos depois delas acontecerem. Somos como personagens de desenho animado. Entramos cantando em uma armadilha para sermos esmagados por um piano sem nos darmos conta do que está para acontecer, até arrancarmos algumas risadas da plateia.
E essa é a graça. Engana-se quem acha que pode passar pela vida, construir uma carreira de sucesso ou ter uma bela empresa sem fazer merda nenhuma. Engana-se quem faz planos, elaborou esquemas certeiros de como conseguir seus objetivos, achando que dessa vez, e somente dessa vez, nada vai dar errado.
Não é a capacidade de estar sempre certo que diferencia uma grande jornada de uma medíocre. Alguém que passa a vida inteira sem fazer umas belas merdas pelo caminho ou teve uma vida muito chata ou não chegou muito longe.
Abra qualquer biografia sincera e você vai aprender que os grandes nomes da humanidade são aqueles que aprenderam a se levantar após um tombo (alguns até morreram prematuramente pagando por isso). No mundo real, uma bela lista de erros é quase uma obrigação. A diferença está em quem percebe a merda que fez e quem vive em negação sem reconhecer merda nenhuma. O mínimo que se espera de uma pessoa inteligente é aprender a não fazer sempre a mesma merda. Faça, limpe-se, aprenda, viva para fazer mais em outro dia. Infelizmente, muitos passam pelo mundo sem reconhecer as próprias besteiras. Aquele senso de estarem sempre certos que os bobos e prepotentes mundo afora parecem ter sempre.
Aprender, diz uma velha frase, é olhar para algo que acaba de dar errado e pensar: “Viu o resultado disso? Não faça mais!” Pois bem, como você pretende aprender sem querer errar? É sentindo na pele a sensação de estupidez, aquele sentimento que todos passamos quando percebemos que fizemos merda, que realmente ganhamos o tipo de experiência que os antigos chamavam de sabedoria. Essa tal da “experiência”, tão valorizada e tão pouco buscada por uma geração de profissionais que se estapeia para fazer os mesmos cursos, ter as mesmas carreiras, trabalhar nas mesmas empresas e fazer exatamente tudo igual ao que todos os outros fazem. Jura que esse é seu projeto de vida? Alguns cachorros têm planos mais interessantes.
Portanto, caro leitor, em vez de lhe dar alguma dica certeira de como “chegar lá”, tomar uma decisão acertada, criar uma estratégia infalível ou ter uma ideia realmente fantástica e insuperável, hoje só tenho isso a dizer: vá ao mundo, e faça alguma merda!
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