Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Ironia do destino ( 1)

João Ximenes Braga/O Globo


Mesmo para alguém sem qualquer tendência ao misticismo ou à religiosidade, às vezes é difícil duvidar da idéia, muito popular entre esotéricos, de que todos os seus atos e pensamentos têm conseqüência imediata na sua vida. Por exemplo, eu não gosto de crianças. A informação costuma chocar as pessoas de bem. Você diz não gostar de crianças numa roda e, pronto, todo mundo conclui que você é um crápula. Não entendo isso: crianças também não gostam de mim, é uma relação bem resolvida.

Ou pelo menos assim eu pensava.

Em recente viagem de ponte aérea, entrei no avião, localizei meu assento, botei a mochila no bagageiro e me sentei preparado para sobreviver a 50 minutos de tédio minimizados pelo aparelho reprodutor de arquivos de áudio (soa mal, eu sei, mas depois a polícia lingüística implica com “MP3 player”). Na medida em que novos passageiros entravam, adivinha quem senta à minha frente? Uma senhora com duas crianças.

A esta altura, o reprodutor não servia de mais nada. Aumentar o som o suficiente para isolar os gritinhos, as brincadeiras e os blábláblás infantis significaria danos definitivos aos tímpanos. A música, sim, ficou abafada pelas crianças. Cinqüenta minutos de tédio viraram 50 minutos de tortura claustrofóbica.

Avião pousado, fiz uma panorâmica e observei que não havia quaisquer outras crianças no vôo. Apenas aquelas duas. As duas à minha frente. Tinha que ser.

Logo voltei para o Rio e… a esta altura você já adivinhou. Novamente, o vôo lotado, com apenas uma criança. Dentre todas as possibilidades matemáticas de organização dos assentos, é claro que me coube ficar bem atrás da mocinha.

Vivo dizendo que meu sonho — enquanto o teletransporte não vem — é as companhias aéreas oferecerem opção de vôos sem crianças. Mas obviamente não se defende idéias como essa sem pagar um preço. O mundo é das crianças, eu apenas vivo nele. Nesses casos, Paulo Coelho está errado: quando você quer uma coisa, o universo conspira contra você. Estou certo de que, na próxima viagem, a única criança do vôo vai sentar ao meu lado.

Por essas e outras, morro de medo de avião. Imagina visitar o Gilberto Scofield na China? Quase 24 horas de vôo, com uma criança animada ao lado.


***
Será mesmo uma conspiração do universo? Carma? Algum ser superior me punindo por desobedecer à ordem natural da espécie de achar toda criança fofinha? Ou será pura coincidência sempre me caber o assento mais perto das únicas crianças presentes num vôo?

Bem, não acredito em carma, em justiça cósmica, em Paulo Coelho, na Lei de Murphy, e duvido um pouco de coincidências. Só acredito em ironia do destino.

Note bem, não acredito em destino, mas acredito em ironia do destino.

Mesmo que você adore crianças e não tenha se identificado com nada do que foi escrito aqui até agora, pense quantas vezes por dia você se pega dizendo “Eu mereço” ou “Essas coisas só acontecem comigo”. Pois é. Ironia do destino. Todo ato ou pensamento têm conseqüência imediata na sua vida, nem que seja só para você fazer papel de bobo.


***
Muita gente insiste que o problema não são as crianças, mas os pais ou responsáveis que não lhes dão educação. Pode ser. Mas a responsável pela menina do vôo de volta até se esforçava. Bastante.

— Não grita, não grita. Você é uma mocinha bem educada. Se ficar falando alto desse jeito, as pessoa vão achar que tu nasceu lá nas favela (sic).

Então, tá.





Rio de Janeiro, 25 de março de 2006


IRONIA DO DESTINO 2 (Ingo Joachim Schymura)

Caro João Ximenes Braga.

Vou logo avisando. Não sou criança e não costumo viajar ao lado ou perto destes “diabinhos”. Os gordos não deixam. Explico. Seja no meio de transporte que for, avião, ônibus, bonde, etc. , por IRONIA DO DESTINO, sempre sentam ao meu lado e em torno de mim pessoas obesas. Melhor dizendo e escancarando logo, GORDAS. Muito GORDAS, destas que precisam de cinto de segurança especial. E como transpiram. Como bufam. Espirram e, perdoe, soltam gases. Ou seja, as criancinhas não tem vez comigo. Provavelmente porque já estejam ocupadas contigo.

Para não escrever toda uma crônica, vou direto ao relato do meu destino, aliás, já que também não creio em destino, vamos à ironia deste.

Relato em sinopse: Compro duas passagens em ônibus Juiz de Fora – Rio. Lugares contíguos, para tentar fugir à minha sina do GORDO. Subo no ônibus. Decepção. Ônibus vazio. Gastei mais uma passagem desnecessariamente. Motorista liga o motor. Porta já fechada. Alguém esmurra a porta. Esta é aberta para atender ao retardatário. Penso. Seremos só dois passageiros. Veja quem entra. O GORDO. Senta ao meu lado. Após literalmente me cobrir parcialmente com seus excessos, começa com uma ameaça. “O Senhor não se importa. Adoro viajar batendo papo.” Isto enquanto desembrulha uma pizza, e continua animado me cuspindo de cima abaixo, elogiando a linda paisagem, logicamente debruçado sobre mim para chegar até a janela.

Proponho uma troca. Um GORDO por duas criancinhas.

SDS
Ingo Joachim Schymura
PS- Faço votos não estar me dirigido a alguém, que tenha viajado de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, em ônibus com somente dois passageiros. Aí eu passaria a acreditar em destino.

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