Desde a crise financeira global, economistas têm tentado explicar por que os Estados Unidos e outros países vêm apresentando um crescimento econômico constantemente decepcionante. Após culparem desde a austeridade fiscal até a crise europeia, eles agora estão concluindo que um dos maiores obstáculos é a questão demográfica.
No próximo ano, as economias mais avançadas do mundo vão atingir um marca crítica. Pela primeira vez desde 1950, o total de sua população em idade de trabalhar vai diminuir, segundo projeções da Organização das Nações Unidas. Até 2050, essa população vai encolher 5%. O número de trabalhadores também vai cair em importantes mercados emergentes, como a China e a Rússia. Ao mesmo tempo, a proporção de pessoas com mais de 65 anos vai disparar em todos esses países.
As gerações passadas se preocupavam com o excesso de pessoas no mundo. Hoje, o problema é a falta delas.
Essa mudança reflete duas tendências há muito estabelecidas: o aumento da expectativa de vida e a queda da fertilidade, ou fecundidade. Ainda assim, muitas das consequências econômicas só agora se tornam aparentes. Em resumo, as empresas estão ficando sem trabalhadores, clientes ou os dois. Em ambos os casos, o crescimento econômico sofre. À medida que a população envelhece, o que as pessoas compram muda, fazendo a demanda pender mais para os serviços, como os de saúde, e menos para os bens de consumo, como carros.
Presume-se que as forças demográficas sejam previsíveis e se movam lentamente. Do ponto de vista histórico, porém, as mudanças que estão sendo registradas são “drásticas e sem precedentes”, diz Amlan Roy, especialista em demografia do banco Credit Suisse, observando que levou 80 anos para a mediana da idade dos americanos subir sete anos, para 30, até 1980, mas somente 34 anos para ela avançar outros oito anos, para 38.
Não há respostas simples para como empresas e governos devem lidar com essas mudanças, já que cada país está envelhecendo num ritmo diferente, por razões diferentes e com diferentes graus de preparação. A automação pode aumentar a produtividade dos trabalhadores e suportar o número crescente de pessoas idosas. As premissas sobre o envelhecimento também precisam mudar. Hoje, uma pessoa com 65 anos é, em média, quase tão saudável quanto alguém de 58 anos era nos anos 70 e, portanto, pode se aposentar mais tarde.
Se conseguirem superar a oposição política em casa, países mais ricos e de população mais velha podem receber mais imigrantes das economias mais pobres, principalmente da África e da Ásia, que vão responder por uma fatia crescente da população mundial em idade de trabalhar.
Questões populacionais sempre preocuparam economistas, como as previsões do ensaísta britânico Thomas Malthus — que em 1798 afirmou que a população mundial cresceria mais rapidamente do que a capacidade de alimentá-la, provocando miséria e fome. Malthus estava errado. O aumento da produtividade agrícola provou ser capaz de fazer frente ao rápido crescimento populacional observado nos séculos XIX e XX.
Quando o crescimento populacional dos EUA desacelerou nos anos 30, Alvin Hansen, economista keynesiano de Harvard, alertou que isso causaria uma redução nos investimentos das empresas porque elas teriam menos empregados para equipar.
Os prognósticos de Hansen também se mostraram precoces diante da explosão de natalidade após a Segunda Guerra Mundial, o chamado “baby boom”, quando a taxa de fertilidade dos EUA saltou de 2,3 filhos por mulher, nos anos 30, para 3,6 em 1960.
Populações no mundo todo experimentaram um crescimento vertiginoso graças a avanços na saúde e na nutrição, que derrubaram as taxas de mortalidade infantil e ampliaram consideravelmente a longevidade, alimentando temores de um excesso populacional.
Mas as taxas de fertilidade voltaram a cair tanto nos países avançados como nos mercados menos desenvolvidos. Com atraso, algumas previsões de Hansen começaram a se tornar realidade, principalmente no Japão, onde a população economicamente ativa entrou em declínio em 1996, seguida, anos depois, pela população total.
O Japão é um caso extremo, mas o resto do mundo avançado e muitas economias emergentes estão trilhando um caminho semelhante. Em 2050, a população mundial terá crescido 32%, mas a população em idade de trabalhar (entre 15 e 64 anos) terá se expandido apenas 26%.
Entre as economias avançadas, a população economicamente ativa vai encolher 26% na Coreia do Sul, 28% no Japão e 23% na Alemanha e na Itália, segundo a ONU. Nos países de renda média, ela vai subir 23%, liderada pela Índia, com 33%. Mas, no Brasil, a alta será somente de 3%, enquanto na Rússia e na China haverá uma contração de 21%.
Os EUA continuam sendo o país demograficamente mais privilegiado entre os países ricos, uma vez que sua população em idade de trabalhar deve crescer 10% até 2050. Mas ela vai encolher de 66% para 60% da população total. O efeito maléfico da demografia sobre o crescimento, portanto, vai durar décadas.
De fato, o crescimento “potencial” de longo prazo de um país depende de duas coisas: do número de trabalhadores e do quanto eles são produtivos. Um crescimento populacional menor reduz diretamente o número de trabalhadores.
Os hábitos de consumo das pessoas também mudam à medida que elas envelhecem. Nos EUA, por exemplo, as pessoas entre 35 e 44 anos dedicam, em média, 8% do total que gastam para o pagamento de juros de hipoteca, comparado com 3,6% para alguém com mais de 65 anos. Já aqueles com mais de 65 anos usam uma média de 13% do total em suas despesas com saúde, ante 6% no caso dos americanos entre 35 e 44 anos.
Essas novas mudanças demográficas terão um efeito profundo nas empresas, definindo novos vencedores e perdedores. Para algumas empresas, como as construtoras, o novo cenário significa ficar pressionada entre a aposentadoria dos trabalhadores atuais e a falta de aprendizes jovens. Para a Seiyu, a unidade japonesa do varejista Wal-Mart Stores Inc., ele representa uma base de clientes menor. Michael Green, gestor do fundo de hedge Ice Farm Capital, diz que as vendas e a cotação das ações da grife de roupasAbercrombie & Fitch Co. não estão perdendo força devido ao desencanto com jeans rasgados, mas porque o grupo demográfico de adolescentes, o alvo da empresa, está encolhendo.
A cerveja Budweiser, da Anheuser-Busch Inbev, e a fabricante de motocicletas Harley Davidson Inc. estão em situação semelhante em relação ao público-alvo, já que sua base de clientes é formada, principalmente, por homens brancos da geração do “baby boom”. Já as farmacêuticas serão as grandes beneficiadas. O número de receitas médicas prescritas para cada americano passa de uma média de 3,3 na faixa dos 50 anos para 4,4 depois dos 65.
Por mais sombrias que sejam as tendências populacionais em curso, porém, elas não são uma lei imutável. Políticas governamentais e mudanças nas atitudes sociais podem elevar a fertilidade. Em outubro, a China eliminou sua política do filho único. Ainda assim, em lugares como Cingapura, Austrália e a província canadense de Quebec — que têm oferecido incentivos financeiros para encorajar famílias maiores e uma assistência mais generosa às crianças de mães que trabalham —, as evidências mostram como é difícil dar impulso a taxas de fertilidade. Nesses lugares, elas permanecem bem abaixo de 2,1 filhos por mulher — a chamada taxa de substituição natural da população, ou seja, a fertilidade necessária para sustentar os níveis populacionais correntes. Mesmo a taxas maiores, levaria décadas para que houvesse uma alteração significativa nas tendências populacionais.
As empresas que enfrentam escassez de funcionários podem recorrer à automação. A China se tornou o chão de fábrica do mundo graças a um aparentemente ilimitado suprimento de trabalhadores rurais. Mas, com esse suprimento agora encolhendo, os salários dos chineses estão subindo rapidamente e muitos exportadores chineses estão usando robôs para elevar a produtividade.
Outro caminho é impulsionar a imigração, embora seja uma solução problemática. As maiores fontes de imigrantes para os EUA, como o México e a China, também estão envelhecendo e a parcela da população que costuma sair em busca de uma vida melhor no exterior está diminuindo. A taxa de fertilidade do México recuou de 5,4 no fim dos anos 70 para 2,3 hoje e será de 1,9 em 2030, a mesma dos EUA — e inferior à taxa de substituição.
A maioria dos países com alta fertilidade está na África e na Ásia. Em 2050, a Índia será o país mais populoso do mundo, a Nigéria, o terceiro e a Indonésia, o quinto, segundo a ONU. A maioria, porém, ainda será pobre. Os países de renda baixa representarão 14% da população mundial em 2050, comparado com 9% hoje. Esses países serão, portanto, as fontes mais prováveis de imigrantes.
Em muitos países ricos, empresas precisando de funcionários estão ansiosas por mais imigrantes. Mas, para estabilizar a proporção de idosos nos países avançados, seria necessário multiplicar imediatamente por oito o número de imigrantes vindos de países menos desenvolvidos, segundo o Fundo Monetário Internacional. Isso não é politicamente viável, dada a resistência que até mesmo os níveis correntes de migração geraram.
A maneira mais promissora de lidar com o envelhecimento da população é, provavelmente, incentivar os trabalhadores de hoje a trabalhar mais tempo. Isso já está sendo feito no Japão, onde 22% das pessoas com mais de 65 anos trabalham, comparado com 18% nos EUA. Esse dado sugere que há potencial de sobra para os trabalhadores americanos e europeus se aposentarem mais tarde.
As empresas vão ter de adaptar a uma força de trabalho mais velha. Em 2007, a montadora alemã BMW AG redesenhou uma linha de produção de caixas de marcha para que ela ficasse mais adequada aos operários mais velhos que a empresa espera ter em 2017. As mudanças incluíram um piso de madeira e sapatos especiais para reduzir o estresse nas juntas, lentes de aumento flexíveis para se trabalhar com peças pequenas e caracteres maiores nas telas de computador. As alterações tornaram a produtividade dos operários mais velhos igual à dos mais jovens a um custo mínimo e, desde então, foram aplicadas em toda a empresa.
Vários estudos, de fato, concluíram que os trabalhadores mais velhos são tão — e muitas vezes mais — produtivos quanto seus colegas mais novos.
(Colaborou Miho Inada.)
http://br.wsj.com/articles/SB11205087632349953341504581374281059673...
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