Ícone do carnaval carioca na década de 1980 quando era uma das grandes estrelas da Beija Flor de Nilópolis e ensinou o Príncipe Charles a sambar, a negra Pinah trocou a passarela do samba pelo universo dos negócios. À frente do Palácio das Plumas, com duas lojas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e duas franquias em Buenos Aires, ela faz questão de atender pessoalmente foliões e carnavalescos. O forte da casa, - aberta há 32 anos e hoje com 100 funcionários -, são as plumas, importadas da África, e uma variada linha de galões e pedrarias, próprias para decorar fantasias e carros alegóricos. As cinco lojas chegam a vender 5 mil quilos de plumas para o carnaval, a R$ 100 o quilo.
"Cerca de 70% do nosso faturamento está ligado ao samba", afirma Elias Emile Ayoub, 52 anos, marido e sócio de Pinah. Segundo ele, 20% dos 7 mil itens disponíveis em estoque são importados, com preços abaixo dos produtos nacionais. "Uma peça de fita galão importada custa para o consumidor final R$ 2,80, enquanto o mesmo produto feito no Brasil gira em torno de R$ 3,20. Um rolo de fio de paetê nacional, número 6, com 50 metros, custa cerca de R$ 15, enquanto o importado, com 80 metros, sai por R$ 10", exemplifica.
Segundo Paulo Sérgio Ferreira, presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo e da Escola de Samba Unidos de Vila Maria, quem for à avenida assistir aos desfiles deste ano verá fantasias de alas, de destaques e carros alegóricos decorados com 60% de produtos importados, contra os 25% registrados no meio da década. Hoje, para colocar o carnaval na avenida, uma escola de samba de grande porte gasta em média R$ 3 milhões, 70% desse valor consumido pela compra de matéria-prima.
"A preferência pelos artigos vindos da Ásia, principalmente galões, pedrarias, bolinhas de ouro e prata, fios de paetês, plumas e tecidos, vem crescendo nos últimos três anos, não só pela baixa do dólar que viabiliza a queda dos preços, como também pela variedade de ofertas, já que a qualidade é similar", afirma Ferreira.
A dificuldade de reposição de pedidos e de exclusividade são, segundo Fábio de Azevedo, consultor do Sebrae-SP, um dos grandes entraves para quem deseja encher as prateleiras com produtos importados de época. "Assim como os carnavalescos precisam planejar muito bem suas compras, o varejo não pode agir diferente. Se apostar demais em um único produto sazonal pode correr o risco de conviver com encalhes nas prateleiras, caso as vendas sejam aquém do imaginado", diz. "Mas, se subestimar a oferta, pode deixar de atender às necessidades da clientela e perder dinheiro." O segredo para fazer a conta dar certo, segundo ele, é basear as compras no histórico de vendas da casa, com aumentos gradativos acompanhados de ações de marketing, por exemplo, como um bom posicionamento dos produtos dentro da loja e adoção de vitrines temáticas.
Outro cuidado para quem quer investir nas importações é origem dos produtos. "Artigos de má qualidade, mesmo que a preços atraentes, podem vender em um primeiro momento, mas podem comprometer a credibilidade do negócio", diz Azevedo. "Por isso, seletividade é a palavra de ordem". Essa é a cartilha seguida há sete anos pela designer de moda Cláudia Sakuraba, 44 anos, sócia da Carnaval Store, com sede no bairro paulistano do Bom Retiro.
Especializada em tecidos e adereços para escolas de samba, a loja funciona como um show-room e só atende com hora marcada. "O carro-chefe são os tecidos, com mais de 1.500 ofertas de estampas, mas há muitas opções de galões, aljôferes (bolinhas douradas e prateadas), paetês, fios de lantejoulas e plumas. Cerca de 70% de tudo o que tenho em estoque vem do exterior, principalmente da China e Coreia. Importo via distribuidores ou trade, sempre confirmando a procedência, o que nos garante a qualidade do produto e negócios futuros." Com 150 clientes em carteira, a Carnaval Store espera faturar R$ 1 milhão em 2011 só com o carnaval, mais 20% em relação a 2010.
Há 12 anos no mercado e há 11 dedicando-se ao Carnaval, a tecelagem paulista Lamitex, importa matéria-prima do exterior e faz da estamparia e dos laminados seu carro-chefe. "Nosso grande diferencial são os efeitos aplicados às estampas", diz José Gomes da Silva Filho, 52 anos. "São mais de 1.500 motivos, desenvolvidos em boa parte em parceria com os carnavalescos."
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