Open Finance, Banco como Serviço, iniciadores de pagamentos e Real Digital podem dominar debate dos próximos dias. IT Forum fará cobertura completa.
Começa nessa terça-feira (27) e vai até quinta (29) em São Paulo a edição 2023 do Febraban Tech – o antigo Ciab, para os saudosistas. O evento da Federação Brasileira de Bancos, sempre lembrado como o principal de tecnologia e inovação para o setor financeiro, terá (de novo) a missão de apresentar ao público que tendências vão pautar o ecossistema setorial e chegarão à sociedade nos próximos meses e anos – isso se já não chegaram.
O IT Forum fará uma cobertura intensiva do evento e você poderá acompanhar tudo nos próximos dias.
Embora o tema seja A Bioeconomia e as Oportunidades em uma Sociedade Digital e faça alusão a temas ligados ao ESG, há quatro grandes tendências identificadas pelo IT Forum e que podem dominar as discussões no evento. Elas estão em maior ou menor grau na maioria dos painéis e tem alterado a forma como o próprio setor financeiro atua no País.
São elas:
Com o Open Finance funcionando a pleno vapor, as instituições financeiras começam a debater com mais profundida os casos de uso. No fim de março de 2023, conforme dados do Banco Central, a quantidade de consentimentos superou 28 milhões, contra 18,7 milhões de dezembro de 2022. Desses quase 10 milhões a mais, a maioria era de pessoas físicas interessadas nos benefícios prometidos pelo sistema.
Mas que benefícios, exatamente?
Levantamento da própria Febraban aponta que, entre as mais de 800 instituições associadas para receber dados dentro do Open Finance, só 45 produtos e serviços são oferecidos aos clientes.
Wagner Jesus, da Wipro. Foto: Divulgação
“Por mais que a terminologia do Open Finance esteja aí há algum tempo, acho que está longe de atingir todo potencial. Em torno de 10% das contas ativas já concederam direito de enxergarem dados entre si, o que é muito tímido ainda”, pondera Wagner Jesus, country head da Wipro no Brasil. “É um movimento que ainda vai nos ocupar pelos próximos três anos.”
Para o executivo da empresa de origem indiana, que tem grande parte do faturamento atual vindo de empresas do setor financeiro, a grande vantagem do sistema de dados abertos é justamente olhar mais para os clientes, não os produtos. E que quanto mais o banco se emprenha em conhecer a jornada do cliente, melhor posicionado estará.
“Mais uma coisa que o Open Finance fez: trouxe a decisão e o poder para a mão do cliente. Hoje eu é que decido se compartilho meus dados. [Eles] não são mais de uma instituição financeira, quem define somos nós”, pondera Luciano Sobral, sócio e diretor executivo da consultoria Capco, especializada no setor financeiro. “Mas é claro que ainda temos que evoluir.”
No campo dos casos de uso, eles já são muitos, pondera Karen Machado, gerente executiva de Open Finance do Banco do Brasil. O banco público, explica ela, tenta usar os dados de forma eficiente para aprimorar produtos e serviços seus e do ecossistema. São, segundo ele, mais de 30 modelos de uso atualmente.
“A gente usa para gestão financeira, tanto de pessoa física como jurídica. O Minhas Finanças, serviço ‘multibanco’ no app [do BB] agrega valores de várias contas diferentes e consegue em único ambiente fazer gestão financeira”, explica a executiva. “Também conseguimos fazer atualizações cadastrais sem necessidade de o cliente apresentar documentos ou comprovações.”
Luciano Sobral, da Capco. Foto: Divulgação
Segundo Karen, o banco também já consegue, usando dados oriundos do Open Finance, reavaliar limite de empréstimo, de limite de cartão de crédito e até personalizar taxas oferecidas de acordo com os preços praticados por instituições concorrentes.
O BB também é capaz de usar os dados de uso dos clientes dentro do próprio app para diversificar seus serviços. A empresa tem um e-commerce – o Shopping BB – que oferece produtos de parceiros de forma customizada.
São itens não financeiros no app oferecidos de forma mais eficiente e com benefícios que estimulam a fidelização. “Com as informações do Shopping BB e do Open Banking, eu consigo cruzar as fronteiras e dizer para o cliente que com a compra que ele fez no cartão do Santander na Amazon ele deixou de ganhar cashback com o BB. A gente consegue cruzar fronteiras do banking”, explica ela.
São possibilidades já fazem parte do futuro do setor. Mas não somente, diz Karen.
Para a executiva do BB, o banco como serviço é outro caminho natural para o setor com o crescimento do Open Finance. Se o “business as usual” deve continuar importante para parcela dos clientes, outra terá sempre a expectativa de receber serviços financeiros sem deixar as jornadas de compra nas quais já estão inseridos.
“Vou ter que pensar no banco como serviço, vou ter que estar embarcado em outras jornadas”, pondera a executiva. “Temos APIs para levar esses serviços para outros ambientes. Parte já está no nosso portal do desenvolvedor. Nesse momento cada vez mais aberto e interconectado, o cliente financeiro vai escolher o que o atende de forma melhor.”
Enquanto bancos comerciais como BB já trilham um caminho baseado em APIs, instituições de outros segmentos ainda estão alguns passos atrás. No caso do Banco do Nordeste, que é um banco de fomento regional, o desafio ainda é adotar uma “cultura open”, conforme explicou Raquel Ximenes, gerente de Open Banking do Banco do Nordeste, durante participação no APIX 2023, da Sensedia.
Raquel Ximenes, do Banco do Nordeste. Foto: Reprodução, LinkedIn
“É um desafio porque nosso público-alvo precisa de um trabalho de aculturamento”, explica a executiva. “E quando a gente fala de cultura, é data driven, ter o processo decisório baseado em dados. Os negócios sendo geridos com dados do Open Finance.”
Segundo Karen, do BB, é de fato um grande desafio pois o banco como serviço é uma mudança de paradigma para os bancos. Afinal, se no passado o que se valorizava eram relacionamentos longos e fieis, agora o mundo mudou, e ficou fácil abrir uma conta digital em um fintech.
“Quando se tirou a fricção se começou a ter uma briga maior pela propriedade do cliente. E ficou claro para os grandes bancos que parte de uma coisa é melhor que nada”, disse Karen, durante o mesmo APIX. “Para os grandes bancos, além de ser uma oportunidade de gerar receita, é de eficiência.”
“A tendência é que não se tenha mais um atendimento direto. O cliente é do banco é o daquele momento. No dia seguinte alguém stalkeou ele no Open Finance, que eu brinco que é a ‘rede social dos bancos’”, disse, rindo, Raquel Ximenes.
O Pix, lançado em abril de 2020, já pode ser considerado um sucesso absoluto. Tão absoluto que já é o meio de pagamento mais usado no Brasil, tendo sido inclusive responsável pelo quase desaparecimento de produtos financeiros tão tradicionais como o TED. Mas sua próxima grande revolução ainda está por vir e responde pelo nome de iniciadores de pagamento.
Para Karen Machado, do BB, parte do futuro do setor financeiro passa, para bem e para mal, por essa nova categoria, que só existe graças à junção do Pix com o Open Finance. Os iniciadores são instituições com capacidade de iniciar uma transação de pagamento, mas “sem participar do fluxo financeiro”, conforme define o Banco Central.
Karen Machado, do Banco do Brasil. Foto: Reprodução, LinkedIn
Na prática, é a capacidade que qualquer empresa certificada terá de gerar ela própria uma ordem de pagamento à uma instituição financeira, mas sem que o usuário precise para isso abrir o aplicativo do banco ou fintech. O valor chega a um recebedor sem a necessidade de o usuário acessar uma conta.
“Para mim é uma ferramenta que vai ser fundamental na briga pela principalidade do cliente”, pondera a executiva. Maravilhoso, super fácil. Mas qual o risco para o banco? E se você parar de frequentar meu ambiente? Eu não estou mais vendo suas necessidades.”
Para ela, ao transferir parte relevante do processo de pagamento para uma instituição não-financeira, os bancos deixam de ter a primazia da experiência para o cliente. “Com o iniciador funcionando corretamente, é ele quem vai ter esse contato com o cliente no dia a dia”, pondera.
Duas medidas recentes devem afetar bastante o setor financeiro nos próximos meses e anos. O primeiro é o chamado ProjetoRD, do Banco Central, que selecionou recentemente um conjunto de empresas e organizações para começar os testes do chamado Real Digital. No piloto serão testadas funcionalidades de privacidade e programabilidade da versão digital da moeda brasileira.
A segunda medida foi a publicação de um decreto, por parte do Governo Federal – nº 11.563, que se sucede à Lei 14.478 de 2022 – e que estabeleceu competências do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na regulamentação e fiscalização do mercado brasileiro de criptoativos. Os detalhes dessa regulação ainda devem ser definidos por ambas as instituições, mas os efeitos já podem ser sentidos, principalmente no setor das fintechs.
Segundo Diego Perez, presidente da ABFintechs, entidade representativa do setor, o Real Digital, por exemplo, tem potencial de “modificar as estruturas” do sistema financeiro brasileiro. “Mas isso não vai acontecer de maneira repentina e o Brasil não é conhecido internacionalmente como País de inovar muito no segmento. Geralmente ele segue inovações de outros países”, pondera o executivo.
Diego Perez, da ABFintechs. Foto: Divulgação
Para o especialista, a tokenização de títulos públicos que vem sendo experimentada pelo BC é cria soluções de automatização de processos, via contratos inteligentes, e de finanças descentralizadas. “Você passa a não depender da eficiência de um ente privado e passa a delegar isso para o Banco Central. E aí a rigidez do sistema fica na mão do Estado, não vulnerável às flutuações de mercado”, explica.
No que diz respeito às criptomoedas, as novidades não só dão força para as startups que já atuam com criptoativos, mas também dá mais respaldo para instituições tradicionais para investimentos e transações em cripto – operações que até agora eram experimentadas de forma incipiente.
“Eu não acho que as criptomoedas perderam hype. Elas tão com força total, mas passando por um momento de consolidação e maturação”, explica Perez. “O Brasil tem mais investidores em criptomoedas do que na bolsa [de valores]. E a partir do momento em que o BC se move para criar soluções e existe uma lei que regulamenta a atividade no País, não tem mais volta.”
Luciano Sobral, da Capco, faz eco à opinião de Perez. Para ele, o Real Digital e o movimento de tokenização são “inevitáveis” a partir do momento em que o governo trabalha para regulá-los de forma sustentável, principalmente após a série de problemas ligados à fraudes e golpes relacionados às criptomoedas.
“O passo do BC é bastante acertado e levado de maneira bastante séria”, pondera o executivo, que ressalta o papel do regulador no ambiente brasileiro. “O BC tem um papel interessante, tanto do ponto de vista de fomentar a inovação como de fomentar a competitividade.”
Marcelo Gimenes Vieira
https://itforum.com.br/noticias/febraban-tech-2023-4-tendencias/
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