Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Feiraguai é a 3ª feira do país em contrabando

 

Feira de Santana, a 108 quilômetros de Salvador, cresceu e se desenvolveu como uma feira criada na porta de entrada para tropeiros do sertão rumarem ao Recôncavo baiano. Ironicamente, hoje é uma outra peculiar feira da cidade que se destaca como ponto de entrada e de comércio. Dessa vez, do contrabando e de produtos piratas.

É a Feiraguai, o maior polo de comércio informal de toda a região Norte e Nordeste do país. De bugigangas a um mar de produtos eletrônicos chineses, a sua movimentação já se tornou tão grande que hoje Feira de Santana, quem diria, pode ser considerada como um polo turístico. É o turismo da muamba.

De balcão em balcão, dos mais variados produtos, o comércio no varejo corresponde à grande parte do lucros dos comerciantes, que negociam para muitas cidades.

“Já temos clientes fiéis que toda semana vêm aqui. Serrinha, Ribeira do Pombal, Conceição do Coité, Estância...” - a lista se estende enquanto a vendedora Mayra, que vende celulares e câmeras digitais, explica de onde vem parte de seus consumidores.

Aliás, lá, toda e qualquer forma de falsificação  pode ser encontrada. De camisa de futebol a relógios “Suatch” - em alusão à marca Swatch - tudo pode ser achado por preços e qualidade inferiores.

Facilitado pela localização entre duas importantes rodovias de ligação nacional, a BR-101 e a BR-116, a tradicional feira hoje é como uma meca da pirataria, onde milhares de comerciantes munidos de enormes sacolões pretos, fazem a festa comprando no varejo para cidades de todo o Nordeste do país.

Feira do Rôlo
Do seu início, na década de 80, quando ainda se situava na Praça da Bandeira e era conhecida como  Feira do Rôlo, o comércio se desenvolveu, mudou de local - hoje se encontra na Praça Presidente Médici - e foi reconhecido pela prefeitura por  sua importância na captação de receitas da cidade.

Hoje situa-se em local cedido pela prefeitura e possui  80% de seus estandes com CNPJ e facilidades, como compras no cartão de crédito e cheques pré-datados, garante o presidente da Associação dos Vendedores Ambulantes de Feira de Santana, Nelson de Assis.

“Antes era no Mercado de Arte Popular (Praça da Bandeira). Como era um centro comercial, os proprietários começaram a reclamar. Em 1994, junto com o prefeito da época, começamos as primeiras negociações para mudar o local. Em 1996, fomos deslocados pra onde nos encontramos agora”, conta.

A evolução em 14 anos é, com o perdão do trocadilho, de ritmo chinês. Hoje são 434 boxes, divididos em acanhados corredores que vão da letra A à Z. Uma taxa de administração é cobrada a todos os comerciantes que varia entre R$ 9,50 e R$ 25 e serve para limpeza, manutenção do espaço e segurança. Nelson garante que ninguém reclama.

“A procura é bastante alta. Somos organizados e todos os boxes são registrados e recebem uma carteirinha de permissão. O aluguel pode variar de R$ 400 a R$ 800”. O valor é divergente. Há  pontos mais quentes, onde o aluguel pode chegar a valores de shopping centers: R$ 6 mil.


Contrabando
De Feira do Rôlo ao maior comércio ilegal do Norte e Nordeste. Quem dá o título é o chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminha da Receita Federal (Direp), Joselito Correia. “O Feiraguai hoje só perde para a 25 de Março (São Paulo) e a Feira do Paraguai, em Brasília. Vêm pessoas de todo o Nordeste, até do Espírito Santo”.

Como terceiro maior mercado de contrabando do país, a Receita Federal não tem estimativas do valor circulado anualmente pelas vielas do espaço. Segundo Correia, no ano passado, o órgão recolheu cerca de R$ 12 milhões em produtos apreendidos.
 
Somente numa operação, no dia 8 de maio de 2009, foram recolhidos em 56 boxes, R$ 1,6  milhão em produtos eletrônicos. Um dia de Feiraguai correspondeu a 14% do valor apreendido no ano.

 “A Feiraguai representa um desafio para nós. Desde 2005, quando foi criada essa divisão (Direp), viemos nos profissionalizando no combate a esses locais. Ano a ano, o valor de mercadorias apreendidos aumenta. Não queremos acabar com a feira. Queremos que eles entrem dentro da legalidade”, explica Correia.

O centro também foi apontado pela revista de tecnologia Info Exame como o único polo nordestino entre os cinco maiores mercados nacionais de eletrônicos chineses.

Conhecidos como “Ching Ling”, esses produtos entram no país de forma ilegal, não pagam tributos, nem se adequam às especificações impostas pelos órgãos de controle de qualidade. Dentre eles se destacam o HiPhone, Sumsung e Nckia, em claras alusões a marcas mais famosas.

Jeitinho brasileiro na Feiraguai
Não culpem só os chineses. Muito do material pirata encontrado nas lojas, principalmente produtos de confecção simples, são produzidos em pequenas fábricas da região de Feira de Santana. Bolsas, mochilas e camisas de qualidade bastante duvidosa recebem a identificação de grandes marcas internacionais de alto valor simbólico.


Nike, Adidas, Dolce & Gabbana e Armani fazem sucesso para os consumidores e revendedores empolgados em estarem vestidos com o melhor da grife internacional. O problema é que a estampa, o tecido e, principalmente,  a costura destoam um pouco da alta moda usada em Nova Iorque, Milão e Paris.

Em Feira, quem compra uma bermuda Quicksilver por R$ 15, pode estar comprando na verdade um produto da  Ravage Confecções Ltda. e que descreve em sua etiqueta que o produto é "Produzido no Brazil".

Outra item produzido  são as camisas de futebol. Das simples réplica dos modelos nacionais, hoje é possível encontrar uma grande variedade de clubes de todo o mundo. Alguns ainda abusam da criatividade e vendem uniformes como o uniforme fantasioso do Real Madrid patrocinado pela Unicef.


Produtos saem da China e vêm pelo Paraguai
Brinquedos, equipamentos eletrônicos e o que mais for possível produzir em larga escala. O maior pólo de fábricas da China fica em Shenzhen, zona econômica exclusiva, onde existe a maior parte das fábricas de réplicas de aparelhos eletrônicos. De lá, eles são largamente exportados para todo o mundo.

No caso do Brasil, o comércio passa primeiro pelo Paraguai, onde eles têm livre acesso para entrarem no país sem atentar para as especificações dos órgãos de controle de qualidade nem pagarem os tributos sob importação. E  Feira de Santana hoje é o terceiro maior pólo de produtos ilegais do país.

Fonte: Correio




Exibições: 247

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço