Dubladores brasileiros participam de movimento que pede a regulamentação da IA em séries, filmes, animações e jogos de videogame.
A inteligência artificial generativa (GenAI) já é uma realidade no cotidiano da produção audiovisual. Apesar das promessas de maior velocidade e até redução de custos, preocupação recorrente do mercado é o impacto em áreas como a dublagem, que tendem a se transformar à medida que as ferramentas se aprimoram.
Assim como foi parte das reinvindicações da greve dos roteiristas e atores nos Estados Unidos, o assunto é pauta de debates entre dubladores do Brasil. Desde o início de 2023, representantes setoriais de dentro do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de São Paulo (Sated-SP) passaram a analisar novos modelos de contratos do mercado local.
Inicialmente, as cláusulas abriam a possibilidade para a criação de novas obras a partir de uma original. Com o tempo, no entanto, surgiram trechos que evidenciavam a utilização de dublagens humanas para alimentação de machine learning.
Com as manifestações norte-americanas e na Europa, a mobilização no Brasil ganhou força e expandiu para outros estados. Assim, surgiu o Dublagem Viva, movimento que pede a regulamentação do uso de IA em séries, filmes, animações e jogos de videogame. Em manifesto, o grupo tenta proteger os direitos autorais e conexos dos donos das vozes.
“Começamos, desde o ano passado, a ampliar essa pauta de pedido de uma cláusula de proteção, porque foram aparecendo uma série de infrações às leis vigentes. Quando um trabalho é realizado, o que está autorizado é aquela mídia que está no contrato. Se surgem outras, é preciso renovar o acordo”, diz Angela Couto, cofundadora do Dublagem Viva.
O caminho, segundo a representante, foi a aproximação com deputados federais para incluir, por meio de emenda, reinvindicações no Projeto de Lei nº 2338/2023. O PL, que dispõe sobre o uso da IA no País, está em tramitação no Congresso. Em julho, houve o adiamento da votação e o texto voltou para debate em comissão especial do Senado.
Para Angela, a questão cultura, de proteção da língua como símbolo nacional, é uma das principais problemáticas da questão. À medida que a IA automatiza e padroniza a dublagem, a língua poderá perder seu poder de identificação social. Como exemplo disso, ela lembra que, tradicionalmente, há a adaptação de animações às peculiaridades regionais, o que tenderá se perder com a mecanização.
“O audiovisual participa da alfabetização da sociedade e da atualização da língua. Quando isso vem por meio de uma máquina, vem pasteurizado. Ou seja, tudo será igual a partir de um ponto de vista de linguagem dominante”, explica.
Outro ponto de atenção, além da substituição de profissionais humanos e seu impacto na perda de empregos, é o que ela chama de “evasão de divisas”. Em outras palavras, as produções estrangeiras, dubladas automaticamente para outros idiomas, poderão ser veiculadas no Brasil sem nenhum fomento à economia local.
“Toda a economia criativa que passa pelo setor audiovisual através da dublagem, como estúdios e dubladores, não passaria mais. Dessa forma, não tem como quantificar o quanto isso deixaria de ser revertido do ponto de vista econômico e fiscal”, complementa.
Nos Estados Unidos, a IA esteve entre as principais reivindicações das greves dos roteiristas e dos atores no ano passado. O sindicato dos roteiristas (WGA, na sigla em inglês) assinou em setembro acordo com os estúdios para regular o emprego da tecnologia. Assim, com o contrato, as produtoras passaram a ter a obrigação de informar aos roteiristas se usaram IA em algum material.
No caso dos atores, as negociações do sindicato da categoria (SAG-AFTRA) incluíram a definição da maneira como a inteligência artificial passaria a ser usada, a fim de evitar recriações sem autorização. A greve terminou em novembro de 2023 e, neste mês, o SAG-AFTRA firmou acordo para garantir os direitos em relação ao uso da voz na criação de anúncios de áudio por genAI.
O pacto recente prevê que atores possam definir, com base no piso salarial do sindicato norte-americano, o preço para cada réplica digital que as marcas utilizarem. Os anunciantes, obviamente, precisam do consentimento do artista para cada uso da voz.
Além desses dois movimentos, no mês passado, o mesmo SAG-AFTRA anunciou a greve dos atores que trabalham em videogames. No país, o setor engloba cerca de 2 mil pessoas. O argumento para a paralisação é que os profissionais não têm proteção quanto à recriação de suas vozes e movimentos em outros produtos.
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