A matéria de capa da revista Galileu desta semana coloca a seguinte questão: por que as pessoas topam fazer qualquer coisa em troca de reconhecimento nas redes sociais? Atualmente, a sensação que fica é que você só existe se for “curtido” nas redes sociais. Há um verdadeiro “campeonato da curtição”, em que se mede o índice de popularidade pelo número de curtidas, e só isso importa.
Claro que isso tem efeitos práticos na vida das pessoas. Desejar ser amado é parte inerente de todos nós. Mas nunca antes na história da humanidade se viu algo dessa proporção, em que tudo passa a ser medido pelas curtidas instantâneas. O resultado é uma geração extremamente narcisista e com expectativas irreais, mergulhada na “cultura da celebridade”, todos em busca daqueles 15 minutos de fama que Andy Warhol havia previsto. Diz a reportagem sobre essa geração Y:
Fica menos tempo nos empregos do que as anteriores, mais preocupada em obter satisfação e significado do trabalho do que em fazer carreira. É uma geração que mira no intangível conceito de felicidade – que parece antigo, mas segundo o economista Eduardo Giannetti, em seu livro Felicidade (Companhia das Letras), é bem recente. Ele demonstra como o bem-estar pessoal está ligado ao bem-estar social, mas que as realizações e ambições mudam de geração para geração. O bem-estar econômico já foi o grande horizonte da realização da felicidade. Para Giannetti, hoje a grande realização é amar e ser amado. “Continuar aumentando a renda e os padrões de consumo não vai tornar as pessoas mais felizes com a vida que têm”, diz o economista. “Somos cada vez mais infelizes porque teimamos em querer saciar todas as nossas vontades, desejos e caprichos. (…) A gente não pode tudo, não.”
Se, como alertava Edmund Burke, é preciso saber conter os apetites para ser livre e genuinamente feliz (dentro das possibilidades sempre limitadas), a geração mimimi vai cada vez mais à contramão desta receita. O que importa é seguir cada impulso, cada desejo, cada capricho, sem refrear as paixões. E a mais forte de todas é essa: ser querido por todos. Vale tudo para ser “amado” pelos outros. “Para escapar da autocomplacência, curtir-se é o primeiro passo para o sucesso”, diz a reportagem.
O “eu” público vem em primeiro lugar, jogando para escanteio o “eu” verdadeiro. Tudo pelas aparências. O gosto dos outros é que vai pautar as nossas ações. E para ganhar mais curtidas vale tudo: “Algumas pessoas topam até se submeter a situações vexatórias/bizarras para angariar mais likes”. Há pessoas já viciadas em curtidas, obcecadas com esse único indicador de popularidade. Vivem em função disso. Há algo mais triste?
Como pai de adolescente, sei bem como os tempos mudaram, e como é difícil evitar esses modismos. Tomo sempre cuidado para não cair na falácia de idealizar o passado. George Orwell disse que cada geração se imagina mais inteligente do que a anterior, e mais sábia do que a próxima. Mas é inegável que certas tendências preocupam.
Quando alguém vive em função dos outros, quando tudo que importa é ser “amado” pela maior quantidade possível de “amigos”, “amor” este medido por curtidas nas redes sociais, então claro que haverá riscos de comportamento inadequado apenas para conquistar mais alguns “likes”. Teremos uma legião de Zeligs, personagem de Woody Allen que se adapta feito camaleão de acordo com o ambiente. E o “eu” verdadeiro?
A última que soube é realmente de arrepiar. Essa garotada, com apenas 12 anos, tem filmado a “pegação alheia”. Eis a grande diversão: cada um com seu smartphone na festinha filmando quando um casal se beija! Podem me chamar de antiquado, mas sou do tempo em que as pessoas apreciavam certa privacidade e discrição. Hoje, pelo visto, tudo é um show para a plateia!
Será que quem fica tirando foto do prato no restaurante para postar nas redes sociais realmente está aproveitando aquele prato de forma genuína? Será que a cada cerveja o sujeito tem que publicar uma foto para mostrar como é “feliz” para seus “amigos” todos? Acho inevitável que esse tipo de coisa reduza o prazer real das ações. Li outro dia que a nova moda era publicar foto após o sexo. Quanto falta para virar moda publicar fotos e vídeos do próprio ato sexual em si? Cada um terá seu momento de fama, ainda que como ator de filme pornô!
Sei que posso parecer aquela tia velha e chata que reclama das novas tendências e diz que tudo era melhor e mais sério antes. Mas caramba!, será que as coisas realmente não saíram do controle? A geração mimimi vive para os holofotes, para ter seu “momento Caras”, receber mais algumas curtidas e se sentir amada. O problema é que Zelig era um ser amorfo, sem identidade, um camaleão moldado de acordo com os outros o tempo todo. Alguém pode ser feliz de verdade agindo assim?
Rodrigo Constantino
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