O grupo francês L’Occitane , que atua em 90 países e fatura cerca de € 1,7 bilhão ao ano, fechou 39 lojas no país da rede L’Occitane au Brésil em 2020. O número equivale a 12% da base de pontos de venda do grupo no mercado brasileiro e 20% das lojas da marca no Brasil. A informação sobre os encerramentos consta de apresentação feita a analistas pela direção global da empresa em novembro.
Segundo o comando do grupo, a operação brasileira é uma das que mais perdem dinheiro no mundo e serão necessários dois anos para colocar o negócio de volta no azul. Lançada em 2013, a cadeia de lojas L’Occitane au Brésil existe apenas no país e foi criada para ser mais acessível ao consumidor local, concorrendo mais diretamente com linhas de produtos da Natura e do Boticário.
No total, existem 157 lojas no país da L’Occitane au Brésil atualmente – eram quase 200 unidades no começo de 2020, antes da redução. Estima-se que mais da metade dos pontos da marca sejam franquias. Há outras 122 unidades da L’Occitane Provence.
Procurada para comentar o assunto, a companhia no Brasil confirma os fechamentos, como reflexo de uma reestruturação global iniciada antes da pandemia da covid-19. A reorganização teve foco na interrupção de negócios ou unidades que operavam no prejuízo pelo mundo, disse aos analistas o CEO global do grupo, Reinold Geiger. O estudo interno para esse enxugamento no Brasil teve início no fim de 2019.
Apesar de ressaltar a questão dos resultados antes da crise e de “agilizar a estrutura” para justificar os ajustes, Geiger não descarta o efeito da pandemia, e da lentidão na retomada nas vendas, na decisão tomada no país.
“O Brasil, hoje, é um dos países mais atingidos pelo coronavírus. Com uma forte reestruturação, incluindo o fechamento de 39 L’Occitane au Brésil, esperamos que o país voltará ao positivo em 2021 [no grupo todo]. Para au Brésil, a nossa meta é ser lucrativo no ano fiscal de 2023”, disse Geiger em novembro. A intenção agora é concentrar o foco principalmente nos mercados da França, Japão e China.
De março a dezembro, segundo relatório de vendas publicado na semana passada pelo grupo, as vendas líquidas no Brasil caíram 43%, para € 27,4 milhões. Em moeda local, a queda é de 20%, a segunda maior entre os nove países citados no relatório. A participação do Brasil nas vendas do grupo caiu de 3,7% para 2,3%.
No mundo, de março a dezembro, as vendas de todas as marcas da multinacional caíram 5,4%.
Para um consultor do mercado de venda direta, marcas como Natura, Avon e Boticário tem uma rede de distribuição mais ampla, produção ágil e de baixo custo. “Mesmo com a fábrica local que [a L’Occitane] anunciou, em Itupeva (SP), em 2017, que agiliza a fabricação, as marcas brasileiras têm escala maior, forte ligação com fornecedores e uma imagem de biodiversidade, especialmente a Natura, bem mais forte e com linhas mais acessíveis”, diz ele.
Na metade do ano passado, período de comércio fechado em boa parte do país, a empresa reduziu preços de certas linhas básicas entre 10% a 30% para tentar competir com marcas locais e ganhar escala, disse a direção na época. Mas, para consultores, acabou pesando no desempenho o fato de o grupo francês ser mais dependente do que seus concorrentes da venda em shopping centers, que teve um 2020 bem negativo, e ter uma operação digital menos representativa do que em outras cadeias locais, que são fortes na venda direta.
Nos EUA, a subsidiária da L’Occitane en Provence, com US$ 160 milhões em dívidas, pediu concordata (Chapter 11) uma semana atrás e prepara 23 fechamentos de lojas. Analistas entendem que a empresa já vinha perdendo vendas para marcas com forte atuação no on-line em diferentes mercados, como o americano, e a pandemia piorou esse cenário.
Na nota encaminhada ao Valor, a empresa ressalta que vem expandindo sua operação de comércio eletrônico, com alta de 139% no último ano fiscal em comparação ao ano anterior, acima da projeção inicial. E afirma que há um plano de crescimento sendo desenvolvido, apesar da redução de lojas
A marca conta que inaugurou em novembro o seu primeiro SPA no país, em São Paulo. Sobre os fechamentos, disse que eles são fruto de uma “adequação dos espaços no varejo, que vem mudando cada vez mais”. “Com a pandemia, houve um novo estudo, com fechamentos de alguns locais que se tornaram inviáveis operacionalmente”, acrescentou. (Colaborou Raquel Brandão)
Fonte: Valor Econômico
http://sbvc.com.br/loccitane-fecha-39lojas/
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