Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

 

É com alegria que estudantes, professores e pesquisadores de moda recebem a edição brasileira do livro “História do vestuário no Ocidente” de François Boucher, que acaba de ser lançada pela Cosac Naify.

Para os acadêmicos e estudiosos, a obra se mostra obrigatória. A moda, tratada normalmente como frivolidade, revela aqui sua potência como índice de acontecimentos históricos, muitas vezes não detectáveis a partir da leitura linear dos fatos.

Se a lógica leva a crer que as vestes tenham surgido de uma necessidade de proteção, como se explica que “os primeiros habitantes parecem ter usado, antes [...] de qualquer ‘roupa’, apenas enfeites, como colares e braceletes [...]”? E o esforço de se desenvolver corantes azuis, vermelhos, liláses para as vestes primitivas? De certo não foi por força do clima.

As necessidades primárias e as implicações econômicas e políticas estão lado a lado com o estilo de vida e com a mentalidade da época, criando, no texto, uma abordagem moderna que envolve as questões coletivas, caras à moda, e a porção de subjetividade, fundamental quando se pensa a moda como participante das construções de individualidades.

Publicado originalmente em 1965, um ano antes da morte do autor, e, considerado a bíblia dos estudiosos de moda, o volume apresenta uma cronologia do vestuário que vai da pré-história ao final do século 20, o que foi possível graças à atualização e ampliação da coautora Yvonne Deslandres.

Além de Boucher, fundador da União Francesa das Artes do Costume, e de Deslandres, que iniciou os estudos científicos na França sobre a vestimenta, o time de pesquisadores é de primeira, formado por curadores e especialistas de alguns dos museus mais importantes da área. Detectar a credibilidade dos envolvidos no trabalho é fundamental, já que o universo da moda é recheado de amadores e amantes que falam como especialistas, mas nem sempre o são.

 

O rigor na terminologia e o olhar atento aos pequenos detalhes proporcionam uma leitura profunda de fatos e significados. A organização do livro e a pertinência das ilustrações permitem uma consulta fácil e rápida, para um momento mais corrido.

O que mais encanta, no entanto, são as descrições, de tom saboroso e preciso: “Em seguida as peças eram reunidas e costuradas com fios extraídos de nervos de animais – tendões de renas, por exemplo – ou retirados de crina e da cauda do cavalo por meio de pinças e agulhas de osso, marfim ou corno de rena com orifício, que encontramos até nas cavernas paleolíticas da Crimeia”. Ou: “[...] a pele aberta sobre um plastrão ricamente trabalhado no mesmo tom carmim que o fundo e o chapéu enfeitado com penduricalhos”. Em alguns momentos, parecem tocar a poesia: “[...] festões de dentes de foca encontrados sobre esqueletos femininos [...]”.

Dedicada principalmente à vestimenta feminina, a obra nos permite ainda observar outras esferas da moda, como as roupas masculinas, o traje infantil e o religioso, e a evolução das roupas militares. Adornos e maquiagem também foram contemplados e analisados cuidadosamente no volume.

 

Algumas curiosidades enfatizadas pelo autor tornam o livro interessante também para os leigos. É o caso da similaridade existente entre a roupa do homem e da mulher na Europa até o século 15, ou os adornos e chapéus de enormes proporções usados na França de Maria Antonieta. As reproduções de pinturas de artistas como Velázquez e Nattier também podem despertar interesse do público em geral.

Há tempos a Cosac Naify se ocupa em editar livros de apoio ao estudo da moda, como "Fashion Design" ou a coleção "Moda brasileira". Comparada a essas publicações e às edições estrangeiras, a edição brasileira merecia um visual mais charmoso. Uma capa dura não seria má ideia, devido ao tamanho do volume. De todo modo, com essa publicação, a editora possibilita o acesso a uma das mais importantes obras da área, acompanhando a democratização da moda como linguagem e também como campo de pesquisa. A tradução competente de André Telles deve ser citada e pode vir a se tornar referência para a padronização da terminologia da moda no Brasil.

 

 

"HISTÓRIA DO VESTUÁRIO NO OCIDENTE"

Autor: François Boucher
Coautor: Yvonne Deslandres
Editora: Cosac Naify
Tradução: André Telles
Preço: R$ 165, em média (480 páginas)

Exibições: 277

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