Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
Em entrevista exclusiva ao IT Forum, Leonardo Santos, CEO da Semantix, explica o que é hype, o que é real e como as empresas latinas devem se preparar.
Leonardo Santos, CEO da Semantix. Foto: DivulgaçãoAs inovações de inteligência artificial (IA) lançadas nos últimos meses, como agentes autônomos, IDEs inteligentes, modelos multimodais ampliados e interfaces que transformam toda a experiência digital, estão inaugurando um novo ciclo tecnológico.
O impacto vai da engenharia de software ao marketing, do front-end ao e-commerce, da infraestrutura corporativa à computação de borda. E, para o ecossistema latino-americano, o momento marca um divisor de águas: mais opções, mais pressão por governança e uma exigência crescente por dados organizados.
Em entrevista ao IT Forum, o CEO da Semantix, Leonardo Santos, avalia que estamos diante de uma mudança estrutural, não de uma onda passageira. “Entramos em uma fase em que agentes de IA deixam de ser ferramentas isoladas e passam a trabalhar como verdadeiros copilotos, atuando em paralelo, aprendendo com contexto infinito e reduzindo etapas inteiras da engenharia tradicional”, afirma.
Segundo ele, o avanço mais visível está no desenvolvimento de software. O Google apresentou o Gemini 3, modelo multimodal de raciocínio avançado, agora equipado com um modo “Deep Think” capaz de lidar com cadeias complexas de pensamento. Ele impulsiona a IDE Antigravity, que opera como um ecossistema de múltiplos agentes funcionando lado a lado, planejando, escrevendo, testando e revisando código simultaneamente. É uma mudança fundamental: em vez de um assistente único, o desenvolvedor passa a contar com “mini time de IA”.
A OpenAI entrou no jogo com o GPT-5.1 Codex Max, cuja principal inovação é a “compactação” da memória, eliminando na prática os limites de janela de contexto. O resultado é um agente capaz de participar de projetos longos, mantendo histórico, decisões e padrões sem perder coerência.
Ainda no Google, o agente Jules ganhou a função “Repoless”, que dispensa repositórios Git para testes rápidos. “Isso reduz dramaticamente atrito no início de projetos”, comenta Santos. “O desenvolvedor humano passa a operar mais como supervisor e designer de arquitetura, enquanto o agente assume tarefas repetitivas e estruturais.”
Mesmo com a aceleração do setor, o executivo reforça que o discurso de “IA que programa tudo sozinha” não se sustenta. “O hype exagera. O caminho mais sólido é construir times nativos de IA, onde o agente é parceiro e não substituto. Revisão humana, segurança e governança continuam sendo essenciais.”
Além do código, o impacto já se espalha para o design e o front-end. A combinação de novos modelos e ferramentas começa a colocar recursos antes restritos a especialistas nas mãos de qualquer profissional.
O NanoBanana Pro, modelo de imagem baseado no Gemini 3, gera visuais profissionais ajustando iluminação, ângulo e câmera, entregando imagens em 2K ou 4K. O NotebookLM Slides transforma documentos, vídeos e PDFs em apresentações completas, enquanto o Replit Design Mode converte protótipos em interfaces navegáveis em um clique.
“Um gerente de produto agora consegue criar protótipos sozinho; um analista de negócio pode gerar visuais sem depender do time de design”, explica Santos. Em clientes de e-commerce e finanças atendidos pela Semantix, pequenas equipes já produzem landing pages, posts e protótipos completos apenas conversando com agentes de IA.
A democratização, porém, vem acompanhada de um alerta: consistência de marca e revisão sênior continuam fundamentais. “A facilidade de criar não elimina a necessidade de curadoria. O papel do design humano se desloca, mas não desaparece.”
No consumo e no e-commerce, o movimento é igualmente radical. Ferramentas como o ChatGPT Shopping Research estão convertendo a pesquisa de compra em uma conversa natural, com comparativos automáticos, recomendações e filtros personalizados.
“Isso muda o funil inteiro”, diz Santos. “O cliente não entra mais em dez abas procurando ficha técnica. Ele conversa com o assistente, recebe um guia completo e confia nele.”
A navegação também muda. O navegador Comet, da Perplexity, transforma buscas em fluxos inteligentes e aumenta de seis a dezoito vezes o volume de perguntas feitas pelos usuários. Já o Manus Browser Operator executa ações dentro de sites logados, preenchendo formulários e realizando tarefas.
Para empresas da região, a consequência é direta: melhorar dados, metadados e descrições para que os agentes compreendam sua oferta. E, ao mesmo tempo, incorporar assistentes próprios, já que parte do tráfego tende a migrar para dentro desses sistemas.
“Não é o fim do e-commerce”, afirma Santos. “Mas é o começo de uma competição por quem entrega a resposta mais útil e isso passa por dados bem-preparados.”
De acordo com ele, o avanço da infraestrutura empresarial também chega em ritmo acelerado. O Foundry Model Router da Microsoft escolhe automaticamente o modelo ideal para cada tarefa, equilibrando custo e complexidade. O SQL Server 2025 incorpora nativamente funções de IA, como busca vetorial e embeddings, viabilizando pipelines completos dentro do próprio banco.
A aliança Microsoft–NVIDIA–Anthropic adiciona musculatura, combinando infraestrutura robusta, chips avançados e novos modelos como Claude 3.7.
“É um salto de maturidade”, observa o CEO da Semantix. “As empresas deixam de depender de um único provedor e passam a testar diferentes modelos, inclusive híbridos e on-premises. Na região, isso importa muito, porque há necessidades legais e linguísticas específicas.”
A Semantix já conduz provas de conceito com múltiplos modelos, incluindo soluções próprias para português, espanhol e dialetos regionais.
Há, porém, um conjunto de tecnologias que Santos acredita ser subestimado. O primeiro é o SAM 3D, da Meta, capaz de reconstruir objetos 3D completos a partir de fotos 2D. O impacto se estende de e-commerce a manufatura e educação corporativa.
“Com isso, qualquer equipe pode transformar um produto em modelo 3D e inseri-lo em catálogos, AR ou treinamentos sem expertise em modelagem”, afirma.
O segundo é o ExecuTorch, que leva IA embarcada para dispositivos como o Meta Quest 3 e os óculos Ray-Ban Meta. Casos de uso incluem assistência remota em campo, inspeção industrial, logística e aplicações veiculares.
“A computação de borda combinada com visão 3D terá impacto enorme na América Latina, especialmente em setores que exigem baixo custo e alto desempenho local.”
A Semantix mantém um laboratório de IA dedicado a protótipos de agentes, copilotos corporativos, automações de workflow e soluções multilingues. Mas, para Santos, a principal transformação é estrutural.
“O maior hype é acreditar que a tecnologia sozinha resolve tudo. IA exige dados organizados, governança e cultura. O maior erro é pensar que basta ativar um agente e demitir equipes. Não é assim que funciona”, assinala.
Por outro lado, ele vê dois pontos subestimados: o valor de dados locais e a crescente demanda por soluções on-premises; e o fato de que empresas médias já estão implementando assistentes internos, longe dos holofotes. “Muitos acreditam que essa revolução é só para gigantes. Não é.”
No balanço final, a leitura da Semantix é pragmática e otimista. “Os agentes de IA vão redefinir processos, profissões e modelos de negócios. Mas o sucesso virá de quem preparar pessoas e dados. É isso que diferencia quem surfa o hype de quem colhe resultado real”, encerra.

Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2025 Criado por Textile Industry.
Ativado por
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI