Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O que o Brasil pode aprender com a evolução das empresas turcas

Estive, na semana passada, visitando algumas empresas na Turquia, na região de Bursa, a quarta maior cidade do país e um dos principais centros industriais.

Fiquei surpreso com a excelente situação econômica. Pleno emprego requerendo importação de mão de obra de outras regiões do país, novas construções, como hotéis, edifícios comerciais e residenciais, novos centros comerciais, novas estradas etc.

A visita a algumas empresas permite identificar as origens dessa riqueza crescente. Estive visitando as operações de uma empresa do setor têxtil, uma montadora de automóveis e um fornecedor de autopeças. Todas as empresas muito bem gerenciadas e bem-sucedidas economicamente.

A empresa têxtil familiar é fornecedora de algumas das maiores empresas de moda do mundo. Organizada de forma horizontal, orientando os seus recursos e processos (desenvolvimento de produtos e produção, principalmente) de acordo com cada cliente importante, conseguiu nível de eficiência e competitividade que tem permitido enfrentar as empresas asiáticas do setor.

A indústria têxtil é uma das mais tradicionais e, há cerca de 7 anos, quando estive visitando a região, sentia-se extremamente ameaçada pela competição internacional.

A transformação nas fábricas e escritórios permitiu que muitas dessas empresas se tornassem muito competitivas e capazes de atingir os mercados europeus com vantagens competitivas importantes. A começar da própria vantagem logística de atingir os mais importantes mercados europeus por rodovias em 3 dias enquanto os produtos asiáticos precisam de 2 meses, fundamental em um mercado volátil como o da moda.

A empresa que visitei exporta mais de 90% de sua produção para os países da Europa Ocidental. E, pelo desenvolvimento de sua capacidade de design, produção e logística, tinha condições de continuar cada vez mais competitiva.

A montadora visitada é uma joint venture de um grupo turco com uma empresa estrangeira. Gerenciada exclusivamente por turcos, alguns apontados pela multinacional que detém as marcas dos principais produtos manufaturados ali, a empresa é um primor de gerenciamento. Fábrica moderna e eficiente, com significativas inovações organizacionais, como automação simples e de baixo custo, abordagens interessantes para a melhoria do desempenho da mão de obra nas atividades de montagem, tornando o trabalho mais eficiente e menos cansativo e perigoso, quadros gerenciais em fase mudança do seu papel etc.

Comparada a sua similar instalada no Brasil, mostra-se muito superior em desempenho operacional, assumindo-se os critérios internos próprios de comparação. A unidade brasileira é mais rentável por conseguir ter preços mais altos dos produtos finais.

E, finalmente, a empresa de autopeças, que é uma empresa familiar de mais de 60 anos de existência que tem uma participação minoritária de um parceiro internacional responsável pela tecnologia, conseguiu progressos significativos em sua gestão que permitiu enfrentar a competição internacional em um setor cada vez mais globalizado. Conseguiu muito sucesso na produção, atingindo níveis competitivos de qualidade e produtividade capazes de permitir exportar parcela significativa de sua produção aos mercados europeus. O próximo desafio da empresa é melhorar a sua capacitação tecnológica para permitir-lhe desenvolvimento de novas tecnologias e ficar menos dependente de seu parceiro internacional.

Assim, no setor automotivo, a participação de capital turco (50%) em uma montadora internacional por parte dos maiores grupos econômicos do país e uma participação majoritária (80%) em uma empresa de autopeças são muito superiores à participação de capitais locais do setor automotivo no Brasil, restrito a uma ou outra empresa de autopeças de primeira camada, e a alguns fornecedores de segunda e terceira camadas na cadeia automotiva de suprimentos.

O que essas empresas têm em comum é uma direção ambiciosa que usa os métodos e princípios da gestão enxuta. Essas empresas que visitei haviam se esmerado na introdução dessa filosofia de gestão (lean), mudando a maneira como o trabalho é realizado.

Assim, um país muçulmano com uma cultura gerencial ainda autocrática, “top down”, tem tido sucesso crescente e vem tornando-se referência na região, inclusive para seu poderoso vizinho gigante, a Rússia, e, até mesmo, para os países do Golfo Pérsico e outros países.

Havia visitado a Turquia outras vezes. Há cerca de dez anos, vi muitas fábricas sujas, inseguras e mal organizadas, com produtos de má qualidade, processos administrativos caóticos e ineficientes, direção de empresas mais preocupadas com a macroeconomia e com a busca de favores do governo do que com a organização de suas próprias empresas. Mesmo empresas médias e pequenas, de gestão familiar, estão tornando-se cada vez mais competitivas.

A lição mais importante foi que, na competição cada vez mais global, surgem novos países no cenário mundial, reforçando, cada vez mais, a necessidade das empresas brasileiras de se tornarem mais competitivas.

(José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil

José Roberto Ferro, presidente e fundador do Lean Institute Brasil

http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2013/12/l...

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 18 dezembro 2013 às 13:18

A lição mais importante foi que, na competição cada vez mais global, surgem novos países no cenário mundial, reforçando, cada vez mais, a necessidade das empresas brasileiras de se tornarem mais competitivas.

Comentário de Romildo de Paula Leite em 17 dezembro 2013 às 15:22

A empresa têxtil familiar é fornecedora de algumas das maiores empresas de moda do mundo. Organizada de forma horizontal, orientando os seus recursos e processos (desenvolvimento de produtos e produção, principalmente).

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