Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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"Lidar com Diversidade é uma questão de sobrevivência"

“Lidar com diversidade é uma questão de sobrevivência”

Quem ainda não aprendeu a agir com equidade jamais será bem-sucedido como profissional ou à frente de uma empresa, diz Sergio Borriello, CEO das Pernambucanas

Por Sergio Borrielo*

Para entender o que é diversidade de gênero, e como esse conceito afeta a sua empresa, é preciso passar por um longo aprendizado. No meu caso, começou com o choque de participar de uma reunião de diretoria onde a maioria era formada por mulheres, e passou por descobrir, na prática, o real sentido da palavra equidade. Ao final, a lição é de que lidar com diversidade é uma questão de sobrevivência. Quem não levar isso em conta não vai ser bem-sucedido. Ponto final.

Meu primeiro contato real com a questão foi em 1998, quando fui trabalhar como CFO no Citibank de Bogotá, na Colômbia. Logo que cheguei ao país, me espantei um pouco porque descobri que o presidente do banco central era uma mulher, quem cuidava do Conselho Monetário Nacional era uma economista, e a coordenação da Receita Federal também era feminina.

Mas o choque mesmo foi participar de uma reunião de diretoria e perceber que, em um grupo de 18 pessoas, havia 5 homens e 13 mulheres. Pensei: “Nossa, mas o que está acontecendo aqui?” Eu vinha de uma experiência no Citibank Brasil em um ambiente extremamente masculinizado. Então, primeiro senti uma estranheza, mas logo fui tentar entender.

Acabei descobrindo que havia razões históricas para que as mulheres ocupassem tantas posições de liderança no mercado financeiro por lá. A partir dos anos 1960, com o surgimento das guerrilhas, muitos homens foram chamados para combater as forças rebeldes [as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) eram um dos grupos armados que, por quase 50 anos, esteve em conflito com o governo colombiano. Em 2016, foi firmado um cessar-fogo que previa o desarmamento da organização]. Enquanto isso, as mulheres ficavam nas cidades, onde havia menos conflito. Foram, então, movimentos históricos que geraram esse domínio feminino nos negócios.

Fui percebendo que, nas decisões que eu tomava na Colômbia, sempre havia um foco humano muito mais forte do que no Brasil. No passado, havia me acostumado a tomar decisões de cima para baixo, sem me importar com o que as pessoas estavam pensando. Mas, em Bogotá, passei a pensar em como as minhas palavras afetavam as pessoas – e isso melhorou a qualidade das minhas decisões durante os quatro anos em que fiquei no país.

O segundo contato marcante com a diversidade aconteceu quando me tornei CEO de uma varejista de moda, em dezembro de 2016. Hoje, o setor é totalmente dominado pelas mulheres. Na Pernambucanas, 80% dos nossos clientes são do sexo feminino. Então, é claro que precisamos de mulheres cuidando das lojas – hoje, elas compõem 80% do quadro de funcionários e 60% dos cargos de gerência.

Essa representatividade é fundamental na gestão das lojas, por exemplo. Se os homens estivessem encarregados de cuidar do ponto de venda, colocariam o foco na liquidação, no saldo, o preço na frente para chamar. Mas essa não é a lógica das mulheres no consumo. O que domina é a compra por impulso. Então, o que importa é mostrar bem as peças, e não os preços.

À frente das Pernambucanas, adotei várias medidas para garantir oportunidades para as mulheres. Mas, se você me perguntar se tenho políticas, práticas, metas, não vou falar de nada disso. Não sou uma pessoa de discursos. Eu acredito que, num mundo prático, você precisa agir. Falar menos e fazer mais. Por exemplo, eu fiz mudanças nos processos de licença-maternidade. Muitas vezes, quando as mulheres saem de licença, ficam inseguras, porque não sabem se manterão o emprego na volta. Então, no terceiro mês da gravidez, já começamos a conversar com ela sobre como será seu retorno pós-licença. Ela já sai sabendo como irá retornar.

Uma das lições mais importantes que aprendi – e que aplico na empresa – foi a diferença entre igualdade e equidade. Aprendi de maneira bem prática, com um exemplo que me apresentaram. Imagine que existe um muro alto e um homem e uma mulher precisam ver além do muro. Daí eu dou dois banquinhos iguais para eles. Como o homem é mais alto, ele vai enxergar além do muro, mas a mulher não. Então, é preciso pensar em equidade, e não em igualdade. Para que os dois realmente tenham as mesmas oportunidades, o banquinho dela tem que ser mais alto. Nunca me esqueci disso.

Vou dar outro exemplo. Houve um momento em que precisava reformar duas lojas, e aí tive que fazer uma escolha: reformar a que tem um homem como gerente ou a que tem uma mulher no cargo? Eu escolhi a da mulher. E fiz isso com muita transparência, baseado em números. As lojas que são gerenciadas por mulheres têm um NPS [Net Promoter Score, métrica que avalia a satisfação dos clientes] maior do que as lojas comandadas por homens. O índice de crescimento de vendas nas lojas com gerência feminina também são melhores. Esses dados ajudam você a botar os banquinhos no lugar certo.

Não sei se vou deixar um legado para as futuras gerações. Muito do que faço hoje é invisível. Mas gostaria de deixar três lições para os profissionais que estão começando hoje e ainda não aprenderam a lidar com a diversidade de gênero. Número 1: não se preocupe com o discurso, e sim com o resultado. Número 2: não fale em igualdade, fale em equidade. E o terceiro seria: “Fica esperto, irmão, porque elas vão tomar conta de tudo. Pode esperar. O que vem por aí é um mundo feminino.”

*Sergio Borrielo é CEO das Casas Pernambucanas desde 2016; antes disso, atuou como CFO na KPMG, Citibank e ABN Amro Brazil

Fonte: Época Negócios

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