Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Lixo zero: conheça 3 setores da indústria que reaproveitam ao máximo seus resíduos

No Dia Internacional do Resíduo Zero, CNI aponta iniciativas que contribuem significativamente no combate às mudanças climáticas.

Os resíduos sólidos são responsáveis por parcela significativa da emissão de gases de efeito estufa (GEE). Pensando em chamar atenção para o tema e promover padrões de consumo e produção sustentáveis, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estipulou a data 30 de março como Dia Internacional do Resíduo Zero.

Dados da ONU indicam que a cada ano cerca de 11,2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos são coletados globalmente e aproximadamente 931 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas a cada ano.

No entanto, em alguns setores da indústria já é possível diminuir ou até mesmo zerar a quantidade de resíduos que resultam dos processos produtivos, reaproveitando-os como insumo e evitando o acúmulo de lixo e a emissão de GEE.

Entre os setores de destaque, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) cita os de papel e celulose, o sucroenergético e o da carne.

“São setores que estão avançados na questão do reaproveitamento e preocupados em utilizar seus insumos ao máximo, evitando o descarte e a emissão de carbono”, resume gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.


Bomtempo ressalta que a gestão dos resíduos é um dos caminhos da economia circular, que é um dos quatro pilares da indústria para transição para economia de baixo carbono, ao lado da conservação florestal, transição energética e mercado de carbono.

“Buscar iniciativas para o lixo zero além de estimular a competitividade da indústria, reduz a poluição, mitiga a crise climática, contribui para a conservação da biodiversidade, traz benefícios para segurança alimentar e para a saúde humana”, pontua.

Ele acrescenta que pesquisa realizada pela CNI com executivos de 1.004 empresas industriais de diferentes portes mostrou que 91% disseram adotar medidas para reduzir a geração de resíduos sólidos na produção.

“Há interesse em aprimorar os processos, mas ainda é preciso políticas públicas e um sistema de governança que impulsione essa busca. O Brasil tem condições de ser uma potência em economia circular, pela abundância de recursos naturais, biodiversidade e amplo mercado consumidor”, diz.

Vale ressaltar que uma sólida gestão de resíduos é pré-requisito para o ingresso do país na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil possui sua Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), com vários de seus instrumentos em processo de regulamentação.

Muitos desses instrumentos previstos na PNRS encontram-se atualmente em fase inicial de implantação. A legislação, em vigor desde 2010, obriga setores industriais a desenvolverem a logística reversa de resíduos pós-consumo, como para as embalagens em geral. Conheça três setores industriais que conseguem esse feito:

Reciclagem animal e sustentabilidade

O setor de reciclagem animal é um dos principais cases do país. Cerca de 99% dos resíduos produzidos pela cadeia da carne é coletada e é o único que processa 100% de tudo o que recolhe.

De acordo com a Associação Brasileira de Reciclagem Animal (Abra), todo ciclo de produção é pensado em sustentabilidade, pela logística reserva, evitando que estes resíduos do abate animal poluam o solo, o ar e a água.

Lixo zero: conheça 3 setores da indústria que reaproveitam ao máximo seus resíduos

A associação explica que a pecuária brasileira abate mais de 41 milhões de toneladas de bovinos, aves, suínos e pescados por ano. Deste total, uma parte significativa não segue para a mesa dos consumidores.

Entre os mercados aos quais esses resíduos são destinados estão os de saboaria, higiene e limpeza, que são tradicionais e importantes para as gorduras, e na última década, o biodiesel também despontou como um grande mercado consumidor.

As farinhas de origem animal costumam ser direcionadas para a alimentação animal, de pets, por exemplo, onde são fontes preferenciais de sabor, proteínas, minerais e energia.

“Este ciclo de produção que desenvolvemos é o que chamamos de trabalhar para o desenvolvimento verde. Imagina que sem fazer o trabalho da reciclagem animal, o Brasil precisaria abrir mais 921 aterros sanitários. Ou seja, esse trabalho pelo meio ambiente evita o aumento de aproximadamente 30% nos aterros sanitários, contribuindo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos. É a contribuição efetiva do setor para a saúde pública. Isso mostra que é possível fazer a sustentabilidade acontecer”, diz o presidente do Conselho Diretivo da ABRA, Pedro Bittar.

O papel e celulose e sua cadeia de reaproveitamento 

Outro exemplo vem da indústria de papel e celulose. Uma das principais iniciativas é o reaproveitamento de resíduos para geração de energia por meio da reutilização do subproduto do processo fabril, chamado licor negro.

Nesse processo, 88% da energia produzida pelo setor vem de fontes renováveis, como licor negro e biomassa. De acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o setor é responsável pela produção de 74,6% de toda energia elétrica que consome.

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A Ibá também ressalta que o setor de papel nacional é um dos maiores recicladores do mundo. As empresas têm investido em programas, parceria com catadores e até mesmo na tecnologia blockchain para reduzir os resíduos. Com isso, em 2021 foram 5,02 milhões de toneladas de aparas coletadas, chegando a um índice de reciclagem de 66,7%, de acordo com dado do IBRE/FGV.

Economia e eficiência do setor sucroenergético (açúcar e álcool)

O setor é reconhecido pelo êxito em iniciativas de gestão de resíduos. Um case de sucesso é o da Copersucar, que usou a metodologia Lean – que consiste em deixar operações de uma empresa mais enxutas, com foco em diminuir desperdícios - para trabalhar o reaproveitamento de parte do material de varrição produzido no Terminal Açucareiro Copersucar (TAC), localizado em Santos.

De acordo com a empresa, o terminal retira uma média de 220 toneladas de resíduos orgânicos por ano, compostos em sua maioria por restos de produtos (como açúcar, soja ou milho), água e outros componentes e materiais (impurezas). Até então, a compostagem deste resíduo, que tinha como produto final o adubo, gerava um custo de mais de R$ 100 mil por ano. 

O projeto, porém, focou na economia circular e recuperação energética, reciclando o material de varrição para produzir álcool de limpeza. Esse processo permitiu eliminar os custos de transporte e tratamento, agregando principalmente um ganho ambiental ainda maior, uma vez que o álcool produzido retorna como material para limpeza.

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“Muitas vezes um projeto ambientalmente adequado não se viabiliza devido ao alto custo, e para que se sustente é importante olhar para soluções que contemplem tanto os aspectos ambientais quanto os financeiros”, completa Renata Junko, responsável pelo projeto.

Além da iniciativa, nas últimas quatro safras, a destinação de resíduos para os aterros caiu 84% devido à expansão do trabalho de reciclagem, reutilização e compostagem dos resíduos. Desde a safra 2018/2019, o volume de resíduo orgânico tratado cresceu 45%, totalizando, no último ciclo, mais de 951 toneladas.

Por: Grasielle de Castro
Da Agência de Notícias da Indústria

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