Embora não se deva tomar a parte pelo todo e não se deva julgar por igual todos os 170 mil chineses que vivem no nosso país, a expansão dos negócios chineses em Espanha e noutras regiões do planeta apresenta componentes que convidam pelo menos à reflexão.
Como todo o emigrante, o chinês emigra sem outro fim que não seja o desejo de lucro. Mas este processo migratório, de evolução vertiginosa em países como a França, a Itália ou a Espanha, não foi acompanhado por uma integração social completa, limitando-se em demasiados casos ao contacto económico e comercial. E foi precisamente esta falta de integração e ligação às sociedades de acolhimento – expressa, em termos urbanísticos, através do conceito de bairro chinês – que contribuiu para criar "Estados dentro do Estado", segundo as palavras de vários comissários, numa espécie de extraterritorialidade chinesa, na qual a justiça ou as condições laborais, por exemplo, seguem padrões marcados pela comunidade e não pelo Estado.
A operação "Cheqian-Emperador" pôs a claro uma teia de lavagem de dinheiro e de evasão fiscal de proporções gigantescas. Das operações policiais dos últimos anos contra o tráfico de pessoas, a exploração laboral e a fraude fiscal destacam-se dois elementos. O primeiro é a extensão das redes criminosas intrachinesas no nosso território, que se organizam em forma de pirâmide e proliferam paralelamente em vários setores. O setor de importação-exportação é o único evocado por agora na operação em curso, mas provavelmente as reverberações também afetam outros setores tradicionais dos imigrantes chineses (restauração, venda a retalho de têxteis, consultoria administrativa, imobiliárias, bares).
Mobilidade e organização excecionais
O sistema – que investigámos igualmente noutros países – funciona mais ou menos assim: o empresário chinês "importa" mão de obra ilegal, através das suas redes e "cabeças de serpente" e explora essa mão de obra durante anos, nos seus negócios (restaurantes, oficinas, lojas), até ficar completo o pagamento da dívida. A precariedade e as condições de vida e laborais impostas a esses trabalhadores são, por vezes, brutais. Depois de ter pago a dívida por ter sido levado até à terra prometida, o novo imigrante tem de pagar posteriormente a legalização e a obtenção de papéis (na qual intervêm, como que por artes de magia, as consultoras administrativas chinesas controladas ou participadas pelos mesmos barões).
Por último, o imigrante contrai uma derradeira dívida com a rede, sob a forma de crédito informal para poder montar o seu próprio negócio e, desse modo, passar de explorado a explorador. Sugada a margem da venda de uma sopa ou da camisola interior acabada de confecionar, o novo empresário tem de resolver habilmente o problema do pagamento, e recorre a trazer mais imigrantes através do seu negócio, aos quais endivida e explora. Se os setores tradicionais já estiverem muito saturados por outros chineses, quem não tiver medo nem escrúpulos explora setores completamente ilegais, como a prostituição, o jogo e o tráfico de droga.
O segundo elemento que torna esta trama ainda mais complexa é a internacionalização de algumas redes que, no seu lugar de origem, estão curiosamente muito concentradas. No caso da Europa, a maioria dos imigrantes chineses provêm de Zhejiang, onde fica a região de Qingtian, epicentro da emigração para Espanha e Itália, que se desenvolveu aceleradamente graças às remessas.
Estes emigrantes, que chegaram primeiro à Holanda e a França e posteriormente à área do Mediterrâneo, apresentam uma mobilidade e uma organização excecionais. Vão para onde há trabalho ou negócios, para onde se possa ganhar bastante dinheiro, para se reformarem cedo e regressarem à China, para onde seja mais fácil repatriar o dinheiro a custo fiscal zero.
A Espanha, que foi um dos últimos países da Europa Ocidental a receber imigrantes chineses, deveria olhar para os seus vizinhos para evitar males maiores, fomentar a integração e evitar situações como as que se vivem em Prato. Nesta localidade da Toscânia, situada a cerca de trinta quilómetros de Florença, a tensão entre chineses e toscanos é constante.
Uma espécie de apartheid
Berço tradicional dos têxteis mais valiosos da Europa, os chineses começaram a chegar nos anos 1980, empregados pelas empresas familiares italianas que exportavam os seus tecidos para toda a Europa. Em menos de uma década, nasceu a primeira geração de empresários têxteis chineses e, hoje, estes controlam 60% da atividade, com mais de 4800 empresas e uma população oficial de cerca de 25 mil chineses, num total de 200 mil.
A delinquência proliferou ao mesmo ritmo e, agora, a localidade é um epicentro das atividades criminais e lavagem de dinheiro das máfias chinesas de toda a Europa. "A proliferação do crime chinês na região é a mais alta de todos os grupos de imigrantes", explica um subinspetor que acompanha o fenómeno há mais de dez anos.
Na cidade, uns vivem de costas viradas para os outros, numa espécie de apartheid entre cidadãos locais e chineses. Os italianos encaram mal o enriquecimento chinês e acusam-nos de evasão fiscal e de não trazer valor acrescentado para a região: os tecidos, a maquinaria, os trabalhadores e os distribuidores são todos chineses. Só o cliente final é italiano. Como beneficia então a região?
Os chineses condenam que todos sejam julgados pela mesma bitola. Como se isto fosse pouco, o poder político só tem contribuído para dificultar as coisas: em 2009, foi eleito presidente da autarquia o populista Roberto Cenni e as comunidades parecem agora mais afastadas do que nunca. Um conjunto de condições nada ideal para a solução de um problema que – em Itália como em Espanha – exige adaptação do lado chinês, incrementando por exemplo a dispersão de riqueza entre os locais, com contratação de pessoal local, e maior tolerância da nossa parte para com um grupo, cuja presença ganhou merecidamente peso e prestígio nas nossas sociedades.
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