Três em cada cinco empresas que exportam ou importam foram altamente afetadas pelas condições do mercado marítimo internacional nos últimos meses. De acordo com a Consulta Empresarial: Logística Internacional, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o aumento do frete internacional foi o principal problema para empresas com operações de comércio exterior, citado por 90% das empresas. Ao todo, 83% das exportadoras e 71% das importadoras precisaram suspender ou postergar algum embarque.
Com as dificuldades ocasionadas por problemas na logística mundial, entre as empresas que tiveram de suspender ou postergar o transporte de produtos muitas não conseguiram cumprir contratos com clientes, o que ocorreu para 90% em exportações e 80%, em importações.
"O mundo ainda sente os efeitos da desorganização do transporte marítimo mundial, que sofreu uma reação em cadeia devido a fechamento de portos em importantes mercados, a consequente retenção de navios e de contêineres. Esse desequilíbrio levou a aumento de preços, que ainda persistem e se somam aos desafios estruturais de competitividade do comércio exterior brasileiro ", analisa a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri.
Essa conjunção de fatores que marcam o desarranjo do transporte marítimo internacional acirrou a disputa por navios e contêineres, pressionando o valor de frete, em comparação com o período anterior à pandemia. O custo elevado foi o principal problema enfrentado pelas empresas, com 92% das exportadoras impactadas, percentual que sobe para 95%, entre as importadoras.
“No caso do Brasil, a indisponibilidade de contêineres pode ser mais agravada em função da baixa eficiência aduaneira-portuária, pelo fato de o país estar distante das principais rotas de navegação e movimentar apenas 1% do fluxo global de contêineres”, afirma Constanza Negri.
Nas operações de exportação, a falta de contêineres é tida como segundo maior empecilho, sentido por 80% das empresas consultadas. Na sequência, a indisponibilidade de navios ou de espaço nas embarcações e o cancelamento/omissão dos embarques programados dividem o terceiro lugar, com impacto em 76%.
Nas importações, a baixa oferta de navios disponíveis ou de espaço nas embarcações é a segunda grande dificuldade na atuação, enquanto a falta de contêineres é a terceira. Ambas afetaram sete em cada dez empresas.
Como resultado da escassez de navios e de contêineres em algumas rotas e o consequente aumento de prazos de permanências das embarcações nos terminais, as empresas brasileiras tiveram de suspender ou adiar embarques com maior frequência. Entre as importadoras, 73% recorreram às medidas, enquanto nas exportadoras esse percentual sobe para 81%.
Das empresas exportadoras que precisaram suspender ou postergar, 90% relataram descumprimento dos contratos, 91% mencionaram alteração da modalidade de embarque, e 94% registaram cobrança adicional sobre o uso do contêiner.
No caso das importadoras que precisaram suspender ou postergar, 80% listaram problemas de não cumprimento dos contratos. A cobrança adicional sobre o uso do contêiner foi citada por 88%, e 91% mencionaram alteração da modalidade de embarque.
A maioria das empresas declarou que as condições pioraram nas relações com os seus mercados mais importantes, sejam de destino ou origem. Em comparação com o início de 2021, as exportadoras brasileiras experimentaram uma piora com Estados Unidos/Canadá (73%), Europa (69%) e China (66%). As importadoras, por sua vez, reportaram piora de 66% com os mesmos mercados.
Todos os principais mercados das companhias consultadas registraram um amplo aumento no custo do frete, quando comparados com os valores pré-pandemia. Um crescimento superior a 500% foi vivenciado por um quarto das exportadoras que operam com o mercado norte-americano, e por um quinto das que trabalham com o latino-americano.
“Além disso, novos fatores intensificaram as questões da logística global. O outro lockdown ocorrido em Xangai afetou ainda mais as linhas comerciais com a Ásia, enquanto o conflito entre a Rússia e a Ucrânia suspendeu rotas com origem e destino para esses dois países”, complementa Biasutti.
Em relação às importadoras, o percentual de empresas que perceberam aumento acima de 500% foi maior no caso de mercadorias originárias da China (23,9%). Em seguida, têm-se o frete originário na Ásia (19,6%), com exceção da China.
Para acompanhar a evolução dos valores do frete e outros dados relevantes, basta acessar o Painel CNI da Infraestrutura Brasileira, painel virtual que acompanha mensalmente essas e outras informações da área.
Por: Pedro Ferraz
Ilustração e infografia: Juliana Bezerra
Da Agência de Notícias da Indústria
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