Os preços das principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional voltaram a registrar quedas generalizadas em outubro, pelo segundo mês seguido e novamente influenciadas pelas turbulências financeiras em países desenvolvidos (sobretudo na Europa) e seus reflexos sobre o comportamento do dólar americano e sobre os rumos da demanda global por alimentos.
Segundo cálculos do Valor Data baseados nas cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) de produtos transacionados nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) e Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão), o café liderou as perdas na comparação com setembro, mas a "concorrência" foi bem acirrada. Apenas o suco fechou outubro com preço superior ao observado no mês anterior.
Em Nova York, além da queda do café (9,34%), recuaram as cotações médias de algodão (6,30%), cacau (5,51%) e açúcar (4,20%). Todo esse grupo, o das "soft commodities", sofreu particular pressão das dúvidas em relação à firmeza da demanda nos próximos meses, já que são produtos teoricamente mais dispensáveis na mesa do consumidor do que os grãos, por exemplo.
Se a robustez da demanda é motivo de incertezas, e se essas incertezas já não se concentram mais só em países desenvolvidos, mas também em locomotivas emergentes como a China, a oferta também "colaborou" menos como sustentáculo para as cotações das commodities negociadas em Nova York em outubro.
Multiplicam-se estimativas de aumento da oferta nas próximas safras brasileiras de açúcar e café, e mesmo para o suco, cujos estoques mundiais estão historicamente baixos, a atual supersafra paulista não colabora. Em outubro, o produto encontrou suporte nas ameaças de furacões à citricultura da Flórida, mas esse fator tende a exercer uma influência cada vez menor conforme novembro for ficando para trás.
Para essas e outras commodities, inclusive não agrícolas, o foco das atenções está cada vez mais concentrado na China, cujos sinais de desaceleração econômica ganharam novos contornos no mês passado e provocaram arrepios em algumas frentes. O algodão, que já despencou das máximas históricas recentes e ainda testa novos patamares de preços, já atravessou outubro ao sabor dos movimentos chineses de compra, e o mercado de soja segue atento ao apetite de seu maior cliente global.
Dos três principais grãos negociados em Chicago, a soja foi o que registrou a maior baixa em seu preço médio de outubro na comparação com setembro (9,17%), seguida por milho (8,21%) e trigo (7,07%). O trigo já era o que tinha menos gordura para queimar, já que a crise de oferta que emergiu em meados de 2010 por causa de problemas nas safras de países do Hemisfério Norte aos poucos está sendo superada. Hoje, aliás, o escoamento da colheita da região, especialmente dos EUA, ajuda a pressionar as cotações dos grãos.
Dez meses de crises, institucionais, políticas ou econômicas, no Oriente Médio, Europa ou EUA, deixaram como saldo mais baixas agrícolas do que altas na comparação entre as cotações médias de outubro e de dezembro de 2010. Nessa relação, caem algodão (25,54%), trigo (16,28%) e açúcar (8,99%).
Na comparação com as médias registradas em outubro de 2010, aparecem com variações negativas o algodão (8,81%), o trigo (8,49%) e o cacau (6,11%). Conforme o Valor Data, o cacau registrou no mês passado a menor média mensal desde junho de 2009, enquanto o trigo desceu à menor média desde julho de 2010 e no algodão o resultado foi o menor desde setembro do ano passado.
No caso das demais commodities agrícolas que fazem parte desse levantamento e recuaram em outubro, as médias observadas são as mais baixas desde outubro de 2010 (soja), novembro (café), dezembro (milho) e junho (açúcar).
Tendo em vista os problemas que pairam sobre o mundo desenvolvido e contaminam os emergentes, analistas veem nessas variações sinais de firmeza das commodities agrícolas. Esses mercados também seguem a atrair o interesse dos fundos de investimentos, que viveram surtos de aversão ao risco e reduziram suas apostas, mas seguem com quase US$ 400 bilhões aplicados em commodities. O que ninguém espera é que a volatilidade diminua.
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