Projeto do Senado Federal, Instituto Avon e Gênero e Número usa dados e tecnologia para estimular políticas públicas de proteção às mulheres.
A ausência de um sistema nacional unificado e integrado de dados era, historicamente, um desafio crônico no enfrentamento à violência contra as mulheres no Brasil. Em 2022, no entanto, surge o Mapa Nacional de Violência de Gênero, uma plataforma que reúne dados públicos oficiais sobre o tema.
Disponível online para consulta pública, a iniciativa reúne bases de dados do Senado Federal, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Sistema Único de Saúde (SUS). Sua criação foi uma parceria entre o Senado Federal, o Instituto Avon e Gênero e Número, com o objetivo de disponibilizar dados atualizados e abertos sobre a violência de gênero no país.
Para tornar o projeto uma realidade, a tecnologia teve um papel fundamental. Em 2016, por iniciativa da então senadora Simone Tebet, foi criado o Observatório da Mulher Contra a Violência, órgão vinculado ao Datasenado, instituto de pesquisa do Senado. Naquele mesmo ano, uma primeira versão embrionária do mapa foi lançada, fazendo uso da ferramenta QlikView, da Qlik, que contava com pouca interatividade e uma base pequena de dados.
Através de um Acordo de Cooperação Técnica, o Instituto Avon e a associação Gênero e Número se integraram ao órgão do Legislativo para expandir a iniciativa, dando origem ao Mapa na forma como existe hoje. “A gente acredita que o dado é um meio de acesso à cidadania”, disse Beatriz Accioly, coordenadora de Parcerias e Relações Institucionais do Instituto Avon, em entrevista ao IT Forum.
Segundo a coordenadora do Instituto Avon, o projeto esbarrou em alguns desafios ao longo de seu desenvolvimento. O primeiro foi na própria obtenção de alguns dos dados relativos à violência contra mulheres. A ação precisou, por exemplo, coordenar uma parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para a extração de dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), já que 19 das 27 secretarias estaduais não forneceram as informações solicitadas pelo grupo através da Lei de Acesso à Informação. “Foi a primeira vez que se abriram esses dados”, pontuou Beatriz.
Além disso, a estruturação e sanitização dos dados também foi complexa. Como conta a executiva, as informações usadas provinham de múltiplas fontes e estavam organizadas de formas diversas e não interoperáveis. “O primeiro desafio de tecnologia foi a quantidade de dados das bases”, explicou. “Eram bases robustas, mas em diferentes formatos. Uma ferramenta que tivesse a segurança e velocidade para armazenar essas informações era inegociável.”
Por fim, havia também a ambição de que o projeto fosse acessível, o que levou a um esforço de letramento de dados. Isso porque a preocupação, segundo Beatriz, era que o Mapa desse origem a uma plataforma que pudesse ser utilizada não só por pesquisadores ou especialistas do tema, mas por usuários leigos, incluindo estudantes, ativistas e gestores públicos.
“Tão importante quanto ter o dado é mostrar o dado de uma forma que faça sentido e seja atraente”, contou. Para isso, a iniciativa contou com a colaboração da Cluster, uma parceira da Qlik, que foi responsável pela organização dos dados em uma plataforma visual através do QlikSense. Durante o Qlik Connect 2024, evento global da empresa realizado nesta semana em Orlando, nos Estados Unidos, o projeto foi reconhecido pela premiação interna da companhia, na categoria Global Impact Award.
Com o lançamento do Mapa, a ideia é que a iniciativa se torne uma ferramenta para a tomada de ações informadas pelo poder público. Segundo Marcos Ruben Oliveira, coordenador do Datasenado, o projeto já tem dado frutos positivos. “O Observatório da Mulher tem usado estes dados para fazer pressão política junto ao parlamento para que os senadores façam pressão em seus estados para que governos estaduais disponibilizem e higienizem melhor esses dados”, afirmou em entrevista ao IT Forum. “Colocar esses dados no sol chama atenção.”
Quanto ao futuro, Beatriz e Marcos destacam que o Mapa continuará evoluindo. Uma das iniciativas buscadas é trazer mais automação para o projeto, para que as informações possam ser alimentadas de forma automática e em tempo real. Há também um interesse em explorar possibilidades de aplicações de inteligência artificial para trabalhar os dados de forma mais dinâmica e gerar insights sobre o tema da violência contra as mulheres no Brasil.
“Os dados, a tecnologia e as ferramentas digitais são inescapáveis, mas são meios para contar histórias de direitos violados – de mulheres que perdemos para mortes que são evitáveis, como é o feminicídio”, finalizou Beatriz. “A gente ouve falar muito de tecnologia para os negócios, mas nós estamos falando da usabilidade da tecnologia para melhora da qualidade de vida e para monitorar políticas públicas.”
Para o coordenador do Datasenado, o projeto mostra como a tecnologia pode ser uma ferramenta de transparência e de impacto social “A gente mostrou como, pelo uso da tecnologia, é possível tornar um tema complexo em algo legível e inteligível para a população”, indicou. “Esse uso da tecnologia para a transparência aumenta muito o controle social”.
*o repórter do IT Forum está em Orlando a convite da Qlik
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