No início deste ano, o governo estipulou que as dívidas dos consumidores, contraídas a partir de 1º de janeiro, não podem exceder seu valor original, limitando, assim, os juros do rotativo do cartão de crédito. Este é apenas um dos assuntos acompanhados diariamente por Marcelo Tangioni, CEO da Mastercard Brasil.
Na companhia há 21 anos e no cargo de executivo-chefe desde setembro de 2022, ele ajudou a Mastercard a migrar de um perfil de empresa de cartão de crédito para uma de tecnologia financeira que conta, atualmente, com cerca de 200 produtos – 35% da receita já vêm de serviços que não têm qualquer relação com transações em si.
Para o CEO, o parcelado sem juros é uma “inovação brasileira”, no sentido da escala em que acontece, e virou uma opção forte para consumidores e varejo, em substituição ao cheque. O cenário, quando a modalidade começou a ganhar força, era de hiperinflação, juros “altíssimos” e baixa oferta de crédito às pessoas e ao comércio em geral. Os cartões passaram a substituir o cheque, dada a facilidade, segurança e conveniência.
Considerando dados atuais do Banco Central de que 40% das vendas do comércio no Brasil são feitas no parcelado sem juros, ele garante que não é interesse nem dos bancos acabar com essa modalidade, mas reconhece um porém: “Existe, sim, uma conversa sobre um melhor equilíbrio entre as partes, para que o sistema funcione de forma saudável para todos”.
Fase de ajustes
O problema, comentou o CEO em entrevista ao M&M, foi que um movimento amplo de inclusão financeira nos últimos anos, envolvendo bandeiras, fintechs e credenciadoras, levou a uma “superexposição de crédito”. Além disso, a aceleração da digitalização na pandemia e a chegada do Pix também contribuíram para isso.
“Tivemos um crescimento muito grande e, depois, passamos por uma ‘ressaca’ de crédito, porque as pessoas tiveram uma oferta exacerbada – aí vai um mea culpa da indústria – sem o acompanhamento da educação financeira e exageraram na utilização do crédito. Isso, combinado com uma taxa de juros alta, causou um nível de inadimplência também muito alto”, explica Tangioni.
O resultado – com efeito do segundo semestre de 2022 ao primeiro de 2023 – foi um pico de inadimplência de cartões de crédito, desequilibrando a indústria como um todo. Hoje, a discussão diz respeito a que o serviço tenha “o tamanho certo, seja remunerado da forma certa para todos os participantes do sistema e continue tendo papel fundamental e saudável para economia brasileira, para os consumidores e para os varejistas”, acrescenta o executivo.
Depois da gangorra de uma hiperexposição a uma restrição grande de crédito, ele afirma que o ponto de inflexão nesse cenário já foi atingido, portanto, a inadimplência vem caindo há alguns meses, a taxa de juros começou a baixar e o cenário geral é mais favorável. Segundo Tangioni, 2023 foi um ano fechado com a indústria crescendo dois dígitos. “Então, espero um 2024 ainda melhor”, pontua.
Benchmark no mercado
Já questionado sobre as dificuldades de manter diferenciação quando se é a referência do mercado na comunicação ao transformar um business transacional em algo com valor além do dinheiro – ou Priceless – o CEO da Mastercard afirma que embora o cenário pareça hoje mais complexo, dada a multiplicidade de canais de mídia, em essência as dificuldades são as mesmas.
Ele reconhece um trabalho de construção de marca “excepcional” feito no Brasil e no mundo para a Mastercard. “O desafio, quando você já está lá em cima, é ‘quanto mais tem de espaço pra crescer?’. Fica mais difícil, então, é se sustentar e continuar crescendo e se reinventando”, argumenta.
E ele deixa claro que esse se reinventar não implica por enquanto em abandonar a campanha Priceless, que completou 26 anos e, segundo pesquisas da companhia, segue tendo apelo forte junto aos consumidores. Logo, o trabalho é a marca se reinventar em cima desse conceito.
Outro campo de inovação são os serviços prestados. A Mastercard é quem opera, por exemplo, o recentemente lançado programa de fidelidade do McDonald’s. Trata-se de uma ferramenta, segundo o CEO, que ajuda a rede de fastfood a customizar campanhas de lealdade. Uma segunda frente, é ajudar clientes b2b a autenticar pessoas, garantindo segurança e evitando fraudes em transações. “Temos ferramentas que ajudam a identificar potenciais riscos numa transação, a evitar transações que tenham probabilidade maior de ser lavagem de dinheiro. Vai desde o ajudar na experiência do consumidor, na conversão de vendas, até contenção e gestão de risco, cybersegurança”. E a inteligência artificial, cada vez mais tem um papel a desempenhar nesses e em todos os serviços da companhia, afirma Tangioni.
Por Roseani Rocha
Fonte: Meio e Mensagem
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