A cada dia que passa, a ficha cai mais um pouco.
Quanto mais os investidores compreendem que as novas regras do FIES podem estrangular o capital de giro das empresas de ensino superior, mais eles se livram das ações, que até recentemente eram um oásis de bons resultados na Bolsa.
Desde 30 de dezembro, as quedas já chegam a 40,8% na ação da SER Educacional, 38,6% na Anima, 32,7% na Estácio e 26,3% na Kroton.
Por enquanto, as evidências sugerem que os investidores estrangeiros é que foram os maiores responsáveis pelas vendas, enquanto muitos gestores locais ainda estão na torcida para que as mudanças no FIES sejam parcialmente revertidas ou para que, uma vez que as novas condições sejam esclarecidas, o cenário para o setor não se mostre tão sombrio.
“Estamos em pleno período de matrículas,” diz um investidor. “Vai ter empresa que não vai querer botar aluno pra dentro com medo de ter que botar ele no FIES.”
Alem de criar uma nota de corte para elegibilidade ao FIES, as novas regras estabelecem que, a cada ano, o Governo pagará às empresas apenas oito mensalidades, em vez das 12 atuais, deixando toda a diferença para ser paga depois da formatura do aluno. Em um curso de quatro anos, por exemplo, isso significa que a faculdade receberá 16 mensalidades apenas após a formatura do aluno, e em um prazo de dois anos — totalizando seis anos para pagamento completo daquele curso de quatro anos.
Os investidores agora debatem quais empresas serão mais afetadas.
Para uns, o Grupo SER Educacional, a última das empresas de ensino superior a ser listada na Bovespa, sofre com as novas regras porque a média de notas do ENEM no Nordeste, o principal mercado da empresa, é mais baixa que no resto do País. No Nordeste, mais de 50% dos alunos de escolas públicas (que, por sua vez, representam mais de 80% dos alunos das instituições de ensino superior listadas na Bolsa) têm notas abaixo de 450, a nova ‘nota de corte’ do FIES.
A Anima estaria mais exposta porque, depois da aquisição da Universidade Veiga de Almeida e da Unijorge, a companhia zerou o caixa que tinha desde o IPO e aumentou seu endividamento para em torno de 2,5 vezes sua geração de caixa. Se a geração de caixa cair daqui para frente, a alavancagem pode aumentar. Além disto, para esta aquisição, a Anima fez um empréstimo-ponte que terá que ser refinanciado no mercado de capitais, agora provavelmente a um custo mais alto.
A Kroton, a empresa que usava o FIES mais agressivamente como chamativo para recrutar novos alunos, estaria um pouco mais insulada porque cerca de 30% de sua geração de caixa vem da educação à distância e de cursos pré-vestibular, como o Pitágoras em Minas Gerais. Estes dois negócios não são impactados pelo FIES.
Numa carta interna a seus colaboradores, o CEO da Estácio, Rogério Melzi, disse que a empresa sempre se recusou a ‘abusar’ do FIES. “Durante três anos, Virgilio [Gibbon, CFO da empresa] e eu fomos duramente questionados pelo mercado sobre os motivos que nos levaram a ser ‘mais lentos’ na adoção do FIES,” escreveu Melzi na carta, obtida pelo blog. “Curiosamente, esse mesmo mercado que agora nos ‘pune’ por conta das mudanças no FIES.”
Vários gestores ouvidos por VEJA Mercados disseram que o impacto das mudanças nas empresas deve ser pior do que o mercado já colocou no preço.
“Os ‘comprados’ estão em denial (negando a realidade),” diz um investidor que não tem ações no setor. “Quando o Governo aumentou a TJLP em meio ponto percentual, ninguém achou que ele tinha terminado ali.. Todo mundo entendeu que ele estava só apontando a direção. Agora, no caso do FIES, as pessoas querem achar que ele não está apontando a direção, mas que ele vai voltar atrás… Não faz sentido.”
Uma reunião das empresas com o Ministério da Educação que estava marcada para hoje em Brasilia foi adiada para quinta, supostamente porque o novo ministro, Cid Gomes, tornou-se pai (pela terceira vez) ontem à noite. Mas no clima atual, até um simples adiamento dá margem a mais dúvidas. “Será que não tinha consenso e o secretário executivo está buscando até a próxima reunião?” perguntou um investidor.
Por Geraldo Samor
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