Fernando Henrique Cardoso é uma figura diplomática, até demais. Muitos do lado de cá o criticam por excesso de complacência com o PT, talvez por ser um homem de esquerda que jamais aceitou ter perdido os votos de sua base tradicional e ainda ser “acusado” de “neoliberal” pelos petistas.
FHC sempre tentou ser cordial com aqueles que desejam abertamente destruí-lo, e pecou, em minha opinião, por ter concedido ao PT um status de apenas mais um partido democrático, ignorando sua essência diferente, estalinista, jacobina, chavista. Nunca soube enfrentar o PT como este merecia.
Dito isso, até mesmo FHC parece finalmente cansado. Nem participou das eleições, e já saiu do governo há 12 anos, mas foi o principal alvo dos ataques do PT, que sempre precisou de um inimigo para sobreviver. Em sua coluna de hoje, Fernando Henrique diz que não é possível dialogar com o governo Dilma se sua postura não mudar:
É bom retomar logo a ofensiva na agenda e nos debates políticos. Para começar, não se pode aceitar passivamente que a “desconstrução” do adversário, a propaganda negativa à custa de calúnias e deturpações de fatos, seja instrumento da luta democrática. Foi o que aconteceu, primeiro com Marina Silva, em seguida com Aécio Neves. O vale-tudo na política não é compatível com a legitimidade democrática do voto. Marina, de lutadora popular e mulher de visão e princípios, foi transformada em porta-bandeira do capital financeiro, o que não é somente falso, mas inescrupuloso. Aécio, que milita há 30 anos na política, governou Minas duas vezes com excelente aprovação popular, presidiu a Câmara e é senador, foi reduzido a playboy, farrista contumaz e “candidato dos ricos”.
Até eu, que nem candidato era, fui sistematicamente atacado pelo PT, como se tivesse “quebrado” o Brasil três vezes (quando, como ministro da Fazenda, ajudei o país a sair da moratória), como se tivesse deixado a Presidência com a economia corroída pela inflação (como se não fôssemos eu e minha equipe os autores do Plano Real, que a reduziu de 900% ao ano para um dígito), como se os 12% de inflação em 2002 fossem responsabilidade de meu governo (quando se deveram ao temor de eventuais desmandos de Lula e do PT). Não me refiro à língua solta de Lula, que diz o que quer quando lhe convém, mas ao fato de a própria presidenta e sua campanha terem endossado que o PSDB arruinou o Banco do Brasil e a Caixa, quando os repôs em sadias condições de funcionamento.
[...]
Só se pode confiar em quem demonstra com fatos a sinceridade de seus propósitos. Depois de uma campanha de infâmias, fica difícil crer que o diálogo proposto não seja manipulação. Só o tempo poderá restabelecer a confiança, se houver mudança real de comportamento. A confiança é como um vaso de cristal, uma pequena rachadura danifica a peça inteira.
Antes tarde do que nunca! FHC ainda dá um enorme benefício da dúvida ao PT, ainda se mostra disposto ao diálogo se houver sinais de mudança do lado de lá, como se tivessem alguma possibilidade de ocorrer. Não têm. Estamos falando, afinal, do PT, de uma presidente que sequer teve a coragem de responder se é solidária ou não com bandidos de seu partido presos na Papuda. Que diálogo é possível?
A máquina do lado de lá já começou a trabalhar com tudo no minuto seguinte após a vitória. Ali estava uma presidente em busca de união, e vários colunistas simpáticos ou a soldo do PT tentam vender a ideia de que é fundamental partir para um diálogo, que seria um ato intolerante e antipatriótico partir para o confronto. Claro, depois de tudo que o PT fez, querem simplesmente passar uma borracha no passado e vida que segue.
Não! O PSDB precisa ser a pedra no sapato bolivariano do PT. Precisa ser um foco de resistência aos seus anseios autoritários e antidemocráticos. Precisa ser uma oposição de fato, representante legítima de 51 milhões de eleitores insatisfeitos, cansados disso que está aí, ansiosos por mudanças. Não tem diálogo com quem quer nos destruir e está disposto a tudo por isso. Até o cordial FHC percebeu isso e subiu o tom…
Rodrigo Constantino
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Tão liberal que teve sua fazenda invadida, beberam sua bebida, dormiram em sua cama e nada aconteceu. Foi um fraco com os invasores, tanto de terras, como de ideias.
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