Profissional influenciou a vida política e empresarial do País, tendo se transformado em figura central do processo de profissionalização da publicidade brasileira.
Morreu na noite de sábado, 11 de fevereiro, o jornalista e publicitário Mauro Salles, aos 90 anos. Ele estava internado no hospital Albert Einstein e morreu de falência múltipla de órgãos, em decorrência de encefalite herpética, uma complicação neurológica que limita os movimentos e a fala. O enterro aconteceu na manhã deste domingo, 12 de fevereiro, em cerimônia restrita à família.
Nos 50 anos em que atuou no mercado de comunicação, Mauro Salles influenciou a vida política e empresarial do País, tendo se transformado em figura central do processo de profissionalização da publicidade brasileira. Nascido em Recife, em 6 de agosto de 1932, ele estava doente há 16 anos, tendo se afastado do trabalho em 2007, ano em que recebeu uma homenagem especial no prêmio Caboré, realizado por Meio & Mensagem.
De repórter fotográfico da sucursal carioca da revista norte-americana Life e, posteriormente, da revista Mundo Ilustrado, nos anos 1950, a diretor de jornalismo da Rede Globo, na época da inauguração da emissora, em 1965, Mauro Salles passou pela chefia de redação de O Globo, criado a primeira coluna regular sobre automobilismo da imprensa brasileira. Formado em direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), trabalhou no Grupo Globo por 12 anos.
A paixão pelos carros é uma das marcas que guiaram vários momentos de sua vida, entre eles a estreia como empresário da área de agências de publicidade. Em 1965, a Willis se preparava para o modelo Aero Willis Luxo, quando Mauro Salles convenceu o presidente da montadora de que o nome não era bom. A empresa acatou sua sugestão e convidou o então jornalista para cuidar do lançamento do Itamaraty. Assim nasceu, em julho de 1966, a Mauro Salles Publicidade, semente do que é hoje a Publicis Brasil, 100% controlada por sócios estrangeiros desde 1997.
Com sua agência consolidada, nos anos 1990, Mauro Salles se dedicou à consultoria Interamericana, que teve participações fundamentais na criação da Ambev e da Braskem,
Do pai, Apolônio, senador da república e ministro da agricultura de Getúlio Vargas, Mauro Salles herdou o interesse pela vida pública. Em 1961, foi secretário do Conselho de Ministros do Gabinete Parlamentar do então ministro da Justiça Tancredo Neves. Em 1963, foi nomeado pelo presidente João Goulart chefe de gabinete do ministro da Indústria e do Comércio Antônio Balbino. Pouco depois, Balbino se afastou e Mauro Salles ocupou o posto de ministro por três meses. Mesmo depois de se afastar dos cargos públicos, Mauro Salles continuou próximo do mundo político, tendo acompanhado Tancredo Neves em sua luta pela redemocratização no início dos anos 1980, tendo sido um dos coordenadores da campanha “Diretas Já”. Em 1984, coordenou a campanha de Tancredo à presidência da república.
Em 2007, Mauro Salles foi o primeiro profissional a receber uma homenagem especial no prêmio Caboré. Recebeu o troféu das mãos de Salles Neto, idealizador da premiação e atual CEO de Meio & Mensagem. Mauro estava ao lado do filho Paulo, morto em 2016, aos 60 anos.
Mesmo com a saúde já debilitada, Mauro falou de improviso naquela noite de 4 de dezembro de 2007: “Há um ano estou fora da área de trabalho. Pensei que estava com gripe, mas tive que aprender a viver em uma cadeira de rodas. Essa é minha primeira aparição pública, e só consegui estar aqui porque meu filho Paulo me encorajou. Aprendi com meu pai, Apolônio, a não ter vergonha dos dissabores que a vida me trouxe. Aprendi a deixar de falar com antigos amigos e a conviver com gente nova. Aprendi a sofrer calado e a valorizar alegrias que antes pareciam pouco importantes. Hoje, com 74 anos, tenho obrigação de transformar meu sofrimento em exemplo para quem passou ou passará por provações como as que me afastaram do trabalho”.
Mauro Salles também fez incursões pelo universo lúdico da poesia, lançando seis livros. Seu poema preferido chama-se “Mudança”, no qual sugere: “Supere as amarras do passado/ lance o último olhar ao que existia/ e foi meta e conquista na paisagem”. E assim termina: “Plante a nova semente da esperança / E espere confiante a volta das flores”.
Além das obras poéticas, dos feitos no mercado de comunicação, no campo empresarial e na esfera política, Mauro Salles deixa viúva sua mulher Thereza, três filhos, dez netos e dez bisnetos.
Alexandre Zaghi Lemos
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