Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

‘Mostramos que a Americanas continua no jogo, diz CEO

Leonardo Coelho projeta saída da recuperação judicial em 2026 e que clientes poderão voltar a encontrar tudo nas lojas.

 Um ano após a revelação de uma das maiores fraudes corporativas da história brasileira, e em meio a um processo de recuperação judicial de início conturbado, a Americanas sobreviveu. Leonardo Coelho, presidente da companhia, diz que isso foi possível porque clientes e fornecedores não abandonaram a varejista.

“O que permitiu que as lojas físicas continuassem operando foi uma combinação de sortimento, nossos fornecedores não nos abandonaram, e tivemos como colocar produtos em nossas lojas”, disse ele ao Estadão/Broadcast. “Nossos clientes também não nos abandonaram nas lojas físicas.”

Outro fator decisivo foi o empréstimo DIP (debtor-in-possession, concedido a empresas em dificuldades) de R$ 2 bilhões feito pelo trio de acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, e que permitiu que a Americanas cumprisse as obrigações no dia a dia sem recorrer a linhas mais caras ou vender ativos a preços muito baixos.

Os R$ 2 bilhões são parte do aporte de R$ 12 bilhões que o trio fará na companhia. Outros R$ 12 bilhões virão da conversão de dívidas em ações pelos bancos credores. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Como a Americanas conseguiu operar em 2023 após o anúncio do rombo?

A resposta tem três partes. A primeira é a operação das lojas físicas: o que permitiu que continuassem operando foi uma combinação de sortimento, os nossos fornecedores não nos abandonaram, e tivemos como colocar produtos nas lojas. Segundo, nossos clientes também não nos abandonaram nas lojas físicas. O terceiro fator foi conseguirmos manter e inclusive aprimorar os produtos nas lojas físicas a partir da linha de crédito DIP. Essa combinação acabou fazendo com que no físico mantivéssemos vendas similares às de 2022.


As vendas pela internet foram muito afetadas?

Naturalmente tem um choque de confiança. O tíquete médio é mais alto, os produtos são muito comparáveis e com várias opções a um clique de distância. Sofremos um baque na partida. Na segunda parte do ano, as pessoas faziam as compras online e viam que eram entregues, e os vendedores recebiam o valor do que vendiam, e tivemos uma recuperação, mas ainda muito distantes dos patamares de 2022. Mas optamos por uma estratégia mais conservadora no marketplace em termos de produtos e preços.

 

O crédito bancário secou?

Exatamente. E isso é bastante comum em processos de RJ. As linhas de crédito secam especialmente com bancos de primeira linha. Existe uma linha de crédito muito cara, que se chama ‘distressed finance’ (fornecida por fundos que compram papéis de empresas com problemas financeiros), que nós não precisamos usar exatamente por causa do DIP. Então, ficamos com a linha DIP e o capital de giro.

 

Como ficou a relação com os fornecedores?

O pagamento à vista perdura até a homologação da recuperação judicial. Esperamos a homologação no final deste mês ou começo de fevereiro, e a partir daí, os fornecedores já voltam a dar crédito para a Americanas. O que aconteceu em 2023 foi uma conversa em dois segmentos. Primeiro, mostrar que operacionalmente a Americanas continuava no jogo e, segundo, foi uma postura de voltar, e vou ser muito transparente, de maneira menos arrogante do que éramos em um passado recente. Entendemos que somos relevantes para esses fornecedores e que precisamos deles. Com vários, Mondelez, Samsung, Nestlé, Mondial, tivemos conversas difíceis, mas em nenhum momento as conversas duras de dívida transformaram as conversas comerciais em discussões improdutivas.

 

O que seria essa arrogância?

Impor condições de pagamento, de entrega e condições negociais, sem uma conversa de alto nível. A Samsung, um dos principais fornecedores da Americanas, é o número um no nosso quadro geral de credores, e jamais tinha vindo ao terceiro andar da sede, que é onde fica a diretoria. Esse foi um dos primeiros pontos que o diretor financeiro da Samsung falou, que nunca havia conversado com o presidente antigo, nunca havia sido atendido para além do time comercial.

 

Ao assumirem a Americanas em recuperação judicial, vocês chegaram a duvidar da viabilidade operacional da empresa?

Não. As discussões sobre RJ, em um momento ou outro, são mais duras, mas operacionalmente, temos algumas vantagens. O sortimento tão diverso nas lojas físicas faz com que a relação com o cliente seja contínua. Todo dia tem gente que passa para comprar seu chocolate. Em uma varejista de eletroeletrônicos, o cliente não compra celular todo dia. Além disso, até por conta da situação que levou à crise da Americanas, a operação ficou um pouco abandonada. Vimos várias alavancas de recuperação de valor e começamos a usufruir delas. Conseguimos fazer campanhas que alavancaram vendas. Temos, grosseiramente, 50 milhões de clientes que passam nas lojas todo ano.

 

Com a aprovação do plano e sua homologação, quais os próximos passos?

Em 2023, mantivemos a operação funcionando, mas a primeira parte da reestruturação foi de fato fazer a aprovação da RJ, que recuperaria nossa estrutura de capital. O que vem pela frente em 2024 e provavelmente também em 2025 é para uma geração de caixa operacional mais robusta.

 

Quais os projetos para a rede física?

Chamamos de reformatação de lojas – que ainda estão com fluxo bagunçado, com um desenho de categorias que não é uniforme: a loja na Glória é diferente da loja de Ipanema (bairros do Rio de Janeiro, cidade em que fica a sede da companhia). Temos de sentar com os fornecedores, e estamos fazendo isso, para desenhar planos de negócios. Quando cheguei, tínhamos 1.733 lojas com 1.731 matrizes de abastecimento, como se cada loja tivesse seu sortimento específico. Em 2023, simplificamos demais e trouxemos de 1.731 matrizes para cinco. Temos hoje grupos de lojas por tamanho. Em 2024, vamos colocar camadas adicionais, incluindo renda da vizinhança, demografia, localização para fazer um abastecimento mais específico.

 

A AME é um ativo que vocês pretendem manter?

A AME e o marketplace estão como UPIs (Unidades Produtivas Isoladas) no plano de RJ exclusivamente por uma flexibilidade para o caso de existirem potenciais interessados. Não vemos venda nem de AME nem do digital, a não ser vendas parciais. Em Hortifruti e Unico, o desenho é venda do ativo.

Por Matheus Piovesana, Altamiro Silva Junior 

https://sbvc.com.br/mostramos-que-a-americanas-continua-no-jogo-diz...

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI

Exibições: 20

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço