Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Nanofibras com óleo geram tecidos medicinais

Nanofibras com óleo geram tecidos medicinais

 

 

Liana John - 02/05/2013 às 16:59

 

Vivemos um tempo de grandes invenções no universo das fiações e tecelagens. No ramo dos tecidos esportivos há os de secagem rapidíssima, os que deixam o suor sair, mas impedem a água de entrar e os superleves porém capazes de manter o corpo aquecido, mesmo quando a temperatura externa está muito abaixo de zero. No setor dos uniformes ocupacionais, existem tecidos à prova de fogo, de bala, de choque elétrico e até à prova de picadas de abelhas. E no mundo da moda, então, nem se fala: texturas suaves, toque de pelica, toque de veludo, couros sintéticos, antimofo, antiaderentes, anticloro, antitranspirantes, resistentes a raios ultravioleta, transparências, brilhos, formas, cores e todo o espectro de efeitos especiais visíveis, incluindo luminescências e pisca-pisca.

Fica difícil até pensar em algo ainda por se criado, tantas são as opções já disponíveis no mercado!

Talvez por isso uma equipe da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) resolveu partir para o invisível – pelo menos a olho nu – e desenvolveu tecidos de nanofibras impregnadas de óleos essenciais. Os testes foram feitos com os óleos de copaíba (Copaifera langsdorffii), considerado anti-inflamatório, antimicrobiano e antioxidante, e de andiroba (Carapa guianensis), mais conhecido como repelente de insetos, porém igualmente anti-inflamatório e bactericida.

“Mas essa é uma tecnologia aberta a muitos outros óleos e substâncias bioativas”, comemora o doutor em Química Têxtil Edison Bittencourt, coordenador da pesquisa e orientador dos dois pesquisadores cujo trabalho de pós-graduação resultou na nova tecnologia: Ana Luiza Garcia Millás e João Vinícios Wirbitzki da Silveira. Os três detêm a patente depositada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), requerida por intermédio da Agência de Inovações da Unicamp, Inova.

Os tecidos feitos com a nanofibra “oleada” têm diversos usos medicinais especiais. Podem ser usados para curativos e suportes para regeneração cutânea (pele sintética); dispositivos para liberação controlada de medicamentos (semelhantes aos adesivos anticoncepcionais) e membranas ultrafiltrantes. Também servem para produzir embalagens para a indústria alimentícia, protegendo os alimentos contra fungos, bactérias e parasitas. Esses usos ainda podem ser muito diversificados, dependendo do tipo de óleo incorporado às nanofibras.

Nano, como sabemos, são as coisas feitas na escala do nanômetro, equivalente a um milionésimo de milímetro, ou seja, um milímetro dividido em um milhão de pedacinhos microscópicos. Para produzir um fio assim minúsculo, os pesquisadores lançaram mão da tecnologia de eletrofiação, conhecida como eletrospinning.

“O material de base é acetato de celulose”, detalha Bittencourt. “O acetato sai da ponta de uma agulha em direção a um alvo metálico, devido a uma diferença de potência elétrica. A fibra é atraída pelo alvo, formando um fio com diâmetro menor do que o comprimento de onda da luz visível – entre 400 e 700 nanômetros. Então é incorporado o óleo essencial. As nanofibras adquirem as propriedades terapêuticas do óleo que for utilizado”.

Da maneira como os fios são produzidos na Unicamp, eles formam uma rede aleatória, com fibras em todas as direções, sem ordem. Com mais um pequeno desenvolvimento será possível enrolar as nanofibras enquanto elas são produzidas, em diversas orientações, inclusive paralelas.

Seja qual for a forma, os tecidos se prestam muito bem aos usos medicinais. “Fizemos testes em parceria com a Faculdade de Medicina da própria Unicamp, cujo laboratório é muito bem equipado para aplicações de substituição da pele humana e ficamos todos muito empolgados com os resultados”, acrescenta o especialista. “Não tínhamos a mínima pretensão de enveredar por esta área quando iniciamos, mas o caminho é promissor”.

A equipe estudou também a regeneração da celulose a partir das nanofibras, ou seja, o que fazer com o material após o uso. Ao ser exposto à amônia em estado gasoso, o tecido volta a ser acetato de celulose, garantindo a sustentabilidade pós-consumo.

Os recursos iniciais para o trabalho na Unicamp vieram da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), como bolsas de pós-graduação. Com os bons resultados, Ana Luiza e João Vinícius receberam também as disputadas bolsas do Santander e da Fundação Fullbright e passaram vários meses em laboratórios da Espanha, Inglaterra e Estados Unidos, trabalhando nas múltiplas aplicações derivadas da nova tecnologia.

Ao que parece, essa equipe apenas entreabriu a porta de um imenso cômodo tão rico em possibilidades quanto é a nossa biodiversidade em óleos essenciais.

Fotos: Edison Bittecourt/Unicamp (ao alto: nanofibra impregnada de óleo, vista ao microscópio eletrônico, acima: fios de nanofibras, formando uma rede aleatória)

Liana John: sementes de andiroba, das quais se extrai um dos óleos usados nas nanofibras

 Fonte:| http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/biodiversa/nanofibras-c...

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