O tricampeão morreu como símbolo de competência e garra (Lionel Cironneau/AP)
Que Neymar seria no Mundial a figura mais importante da seleção brasileira, ninguém duvidava. Desde o primeiro jogo, contra a Croácia, ele deixou claro que era de outra natureza, de outro planeta. Marcou o gol de empate em jogada-solo. Desempatou no segundo tempo, criou as melhores chances na segunda partida, contra o México; foi de novo o melhor no último jogo, contra Camarões. Personagem principal da primeira fase. Vieram as oitavas, e ele tomou uma bordoada incapacitante nos primeiros minutos de jogo. Desafiou a dor e conseguiu ainda ser o destaque no primeiro tempo contra o Chile. No intervalo, a musculatura esfriou, e Neymar virou zumbi. Mesmo assim, teve perna para bater o último pênalti e decidir a favor do Brasil.
O jogador se despedia da Copa aí para dar lugar ao mito. Contra a Colômbia, Neymar esteve irreconhecível, errou passes fáceis que não costuma errar nem de olhos fechados. Parecia incomodado com as pancadas acumuladas na Copa. Ficaria bem mais incomodado no final, quando tomou a joelhada que fraturou a abinha da vértebra. A impressão é que Neymar estava saindo da competição, mas ele apenas estava trocando de posição. Sem saber e sem querer, ele estava assumindo um papel simbólico para o Brasil. Há vinte anos o país perdeu Ayrton Senna, às vésperas de uma Copa do Mundo. Ayrton, símbolo máximo de competência e garra, era quase um sinônimo da palavra vitória. Palavra, aliás, que não era pronunciada no futebol brasileiro desde 1970. Pois aquela seleção de Parreira se agarrou ao legado de Senna para se inspirar e vencer a Copa de 94, quebrando o jejum de 24 anos.
Neymar é o Senna da hora, só que está vivíssimo. Não é que tenha se despedido da Copa por um músculo distendido ou por cartões, fatos desagradáveis, ainda que corriqueiros em Mundiais. Neymar foi arrancado da Copa. De maneira dramática. Uma entrada pelas costas. Uma fratura que se caracteriza pela dor. Martírio total. Ninguém precisou acertar pelas redes sociais o novo cântico. “Ney-mar, Ney-mar, Ney-mar” já ecoou nos estádios em jogos da Argentina e da Holanda. Dá para imaginar como será na semifinal de Belo Horizonte, contra a Alemanha. É bem possível que Neymar esteja com os companheiros no estádio, quem sabe mesmo no banco de reservas, se a dor permitir.
É até patético entrar na onda de que a seleção brasileira jogará melhor sem Neymar. Além de absurdo, é uma ingratidão com o jogador que carregou o Brasil nas costas nos últimos anos. Suas jogadas imprevisíveis farão muita falta. Mas agora, com as costas avariadas e no papel de Senna, o camisa 10 da seleção cumprirá outra missão. Ele virou canto poderoso para uma torcida que não sabe cantar. Sua ausência obrigará os companheiros a ser mais participativos e criativos. É incrível: até em uma cadeira de rodas, Neymar segue sendo o craque da seleção brasileira.
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