Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Casais sem filhos que trabalham já são 8% das famílias brasileiras e chegarão a 12% em 2020. Com mais renda e tempo livre, despontam como nova força econômica


Caio Cezar
CONSUMIDORES PODEROSOS
Juntos, Paulo e Taísa Bornhofen ganham R$ 20 mil por mês. Sem filhos, gastam boa parte desse dinheiro em viagens e cursos. Já existem no Brasil 4,4 milhões de casais como eles que, em média, têm renda 26% superior à de famílias com filhos

Os catarinenses Taísa e Paulo Bornhofen já sabem onde estarão em abril e em dezembro deste ano. No outono, o destino serão as águas azuis do Caribe. Oito meses depois, deixarão o verão brasileiro para, junto com os pais de Taísa, encarar o frio europeu e bater pernas na Itália. As duas viagens vão aumentar o número de carimbos nos passaportes do casal, que já conhece dez países e viaja duas vezes por ano ao exterior. Não é fácil manter uma rotina internacional como essa por duas razões: tempo e dinheiro, não necessariamente nesta ordem. Para o casal Bornhofen, no entanto, essas variáveis estão sob controle. Taísa, de 40 anos, e Paulo, de 47, trabalham. Juntos, têm renda mensal de R$ 20 mil, dividida apenas entre os dois, já que optaram por não ter filhos. Eles são o que os americanos apelidaram de dinks, sigla para double income no kids (renda dupla, sem crianças), um modelo contemporâneo de família que começa a se tornar estatisticamente relevante no Brasil.

 

De 2003 para cá, esse foi o grupo que mais cresceu no país. Eram apenas 2,6 milhões de casais. Agora, são 4,4 milhões – um aumento de 70%. Nos mesmos sete anos, o número total de famílias aumentou bem menos: 20%. Hoje, 8% dos lares brasileiros são habitados apenas por casais com menos de 64 anos, nos quais os dois cônjuges trabalham. Não há crianças, seja porque homem e mulher decidiram não ser pais, seja porque seus filhos já são independentes e saíram de casa. A projeção é de que, em 2020, os dinks cheguem a 12% do total das famílias.

 

Mais do que mera curiosidade estatística, a proliferação de casais sem filhos é uma tendência demográfica com implicações relevantes para o mercado de consumo. No Brasil, os dinks têm renda 22% superior à média das famílias em geral e 26% maior do que a das famílias com filhos em que o pai e a mãe trabalham. Nos lares com filhos nos quais apenas um dos cônjuges está empregado, a renda média é nada menos que 43% menor. Um levantamento feito para Época NEGÓCIOS pela Cognatis, uma consultoria de geomarketing, revela que 58,5% dos dinks concentram-se na classe C. Outros 16% estão entre as classes A e B. Os 25,5% restantes dividem-se entre os segmentos D e E.

 

A folga orçamentária desses casais não é nada desprezível. Para criar um filho até os 23 anos, considerando todas as despesas com escola, faculdade, médicos, roupas e entretenimento, Taísa e Paulo, um casal de classe A, não desembolsariam menos de R$ 1,84 milhão, segundo cálculos do Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing (Invent). Mesmo um casal com renda modesta, de classe D, que só tenha gastos com alimentação, roupas e lazer, hoje não cria um filho sem investir pelo menos R$ 78 mil. “Se fôssemos pais, com certeza não levaríamos a vida que temos hoje. Uma parte significativa dos nossos gastos seria deslocada para as crianças”, diz Taísa.

 

Além de viajar, ela, que é formada em administração de empresas e atua como gerente de e-commerce de uma rede varejista, destina boa parte de sua renda à própria educação. Já fez um MBA e, apesar de se virar bem em inglês, frequenta uma escola de línguas duas vezes por semana. Seu marido, oficial da Polícia Militar, já tem um mestrado e duas especializações. O orçamento também é comprometido com outras formas de lazer. Ela faz pilates. Ele prefere cursos de gastronomia. Voam com frequência de Blumenau, onde moram, a São Paulo, para conferir as estreias do teatro e jantar em bons restaurantes.

AS BRASILEIRAS JÁ SÃO 49,7% DA FORÇA DE TRABALHO. ERAM 29% HÁ
40 ANOS. CARREIRA, HOJE, TAMBÉM É PRIORIDADE PARA ELAS
MUDANÇA ESTRUTURAL

 

 

A multiplicação desse formato de casal coincide com (e colabora para) a perda relativa de importância da família considerada padrão até pouco tempo atrás: um casal com pelo menos dois filhos, em que o pai trabalha fora, enquanto a mãe se dedica aos cuidados com a casa e as crianças. A quantidade de brasileiros que se encaixam nesse perfil diminuiu 20% nos últimos sete anos. Foi o arranjo familiar que mais perdeu espaço no país nesse período, caindo de 12,6% em 2003 a 8,4% no fim de 2010. A projeção feita pela Cognatis com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE aponta que elas serão apenas 3,4% da sociedade em 2020.

 

Essa transformação é fruto de um longo processo de mudança do papel da mulher na sociedade e tem suas raízes na década de 60. Os movimentos feministas e de liberação sexual colocaram na cabeça das mulheres a ideia de que não precisavam levar uma vida voltada exclusivamente para os filhos e o marido. Elas começaram a participar mais do mercado de trabalho, e o desejo de uma carreira bem-sucedida passou a ocupar, para muitas, o mesmo patamar dos filhos na lista dos sonhos femininos. Ao mesmo tempo, a geração que foi criança ou adolescente nessa década, a dos baby boomers, deu início a uma intensa contestação dos modelos tradicionais de vida. “O ideal de família feliz deixou de ser aquele em que há pai, mãe e filhos. Houve uma busca incessante pela liberdade e pela felicidade individual”, afirma Laura Chiavone, presidente da Limo Inc, agência especializada em pesquisas de comportamento e movimentos sociais.

 

Alguns anos depois, já na década de 80, estava consolidada uma nova dinâmica familiar. Quem explica essa evolução é Cecília Russo, diretora do Grupo Troiano de Branding. O modelo do “ou” – a mulher trabalha ou cuida da casa – foi substituído pelo modelo do “e” – a mulher trabalha, faz as tarefas domésticas e ainda se dedica aos filhos. No Brasil, as mulheres já respondem por 49,7% da força de trabalho. Em meados da década de 70, somente 29% delas trabalhavam. Essa mudança teve impacto também na vida dos homens. Eles começaram a exercer funções antes restritas ao universo feminino.

Paralelamente, as pessoas passaram a ficar menos tempo casadas e a ter mais de um casamento ao longo da vida. Isso também permite o aparecimento de casais que estão na segunda ou terceira união e já não têm mais filhos.

 

A partir do início do século 21, a diversificação dos tipos de família passa a ser ainda maior. Lares chefiados por mulheres e pais que criam seus filhos sem a ajuda das mães não são mais tão incomuns. E um outro movimento ganha força: o dos relacionamentos e casamentos homossexuais (ainda que não oficiais). Atualmente, estima-se que 10% dos brasileiros sejam gays.

 

 

FONTE: ÉPOCA NEGÓCIOS

Por Raquel Salgado

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