Especialistas consultados pelo DCI acreditam que mudança populacional pode diminuir oferta de mão de obra e pressionar os ganhos.
A população brasileira já se encontra no nível de passagem entre uma população em idade ativa maior para uma menor oferta de trabalhadores. Segundo especialistas consultados pelo DCI, esse fenômeno causa uma diminuição na mão de obra disponível e consequentemente uma maior pressão nos salários e benefícios.
Segundo a economista do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Ana Bonomi Barufi, "no Brasil, em especial, a taxa de fecundidade apresentou um movimento de queda muito forte, passando de 6,28 filhos por mulher em idade fértil em 1960 para 1,90 filhos por mulher em idade fértil em 2010. Com isso, a pirâmide etária tem sofrido um estreitamento de sua base, deixando de ter seu formato piramidal e passando a compor uma figura mais próxima de um losango", disse.
Ana explica que em um primeiro momento, a consequência dessa mudança de formato da pirâmide etária brasileira é positiva, pois "o País ingressou em um momento denominado bônus demográfico, no qual a população em idade ativa [PIA - considerada aqui como o grupo de pessoas de 15 a 64 anos] tem participação relativa na população bastante elevada, o que gera um fator favorável ao crescimento econômico devido à maior disponibilidade de mão de obra".
Além disso, ela explica que adicionalmente a isso, a população dependente (jovens e idosos) tem um peso menor no total populacional, o que significa que os gastos para sustentar esses grupos terão um peso relativamente mais baixo.
O Brasil, de acordo com a especialista, já vive a transição do primeiro para o segundo momento do fenômeno, que é caracterizado por uma taxa menor de participação do grupo de pessoas até 15 anos de idade que irão passar, com o tempo, para o meio da pirâmide populacional (de 15 a 64 anos). "O movimento de alta da PIA já esta começando a reverter, está desacelerando esse ganho de participação. A gente está tendo cada vez menos pessoas nessa faixa [etária]", completou.
O especialista em relações do trabalho e professor aposentado da Universidade de São Paulo, José Pastore, chama a atenção para o fato de que essa diminuição da população que forma o meio da pirâmide social também pressiona os salários. "Com a forte queda da fecundidade, reduz cada vez mais o numero de jovens que entram no mercado de trabalho. Com a melhoria do valor da Previdência e da Bolsa Família, muitos idosos saem do mercado de trabalho. Ou seja, reduz-se a oferta de pessoas dispostas a trabalhar. Isso agrava a falta de mão de obra e pressiona os salários e os benefícios", disse.
A economista do Bradesco explica que "o mercado de trabalho acaba por ficar mais pressionado [cai a taxa de desemprego e os rendimentos médios sobem], principalmente considerando a dinâmica verificada na última década de maior aquecimento da economia, que ampliou a necessidade de trabalhadores nos diversos setores. Com isso, a necessidade de contratação das empresas pode deixar de ser satisfeita em determinados momentos, ou então pode aumentar muito o custo de contratação de um trabalhador, elevando os custos de produção que as empresas enfrentam e gerando uma dificuldade para a expansão da economia brasileira", completou.
Possíveis soluções
De acordo com os especialistas consultados pelo DCI, uma das soluções para essa questão seria expandir a produtividade da economia tanto com investimentos por parte das empresas como por meio da ampliação da produtividade dos trabalhadores. A economista do Bradesco usa como exemplo os incentivos governamentais para capacitação dos trabalhadores, como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), o Programa Universidade Para Todos (Prouni) e o Ciências sem Fronteiras, que concede bolsas em instituições estrangeiras.
Ela chama a atenção para o fato de que soluções do tipo "demográfica" como aumentar o estímulo para que a as mulheres tenham mais filhos "podem demorar muito tempo para surtir efeito, além de ser de difícil implementação", completou.
Pastore também coloca que a imigração poderia ser uma alternativa possível. "Concordo em estimular a imigração de pessoas com boa qualificação e de maneira seletiva - ou seja, para preencherem posições que estão vagas e que não são preenchidas por brasileiros", disse.
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