Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O aumento recente da produtividade no Brasil foi temporário ou permanente?

 
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Os dados sugerem que o salto de produtividade que ocorreu ano passado no Brasil, ligado à pandemia, foi em grande medida temporário e será provavelmente revertido com o avanço da vacinação e a recuperação dos setores mais afetados, especialmente no setor de serviços.

Como tenho discutido neste espaço, a pandemia da Covid-19 teve impacto profundo sobre os indicadores de produtividade no Brasil e no mundo. A questão que se coloca é se esse efeito foi temporário ou permanente. A resposta é de grande importância para avaliarmos a natureza da recuperação em 2020 e o potencial de crescimento no longo prazo.

Em 2020, produtividade por hora trabalhada teve crescimento de 4% na média mundial, segundo dados do Conference Board. Um dado surpreendente é que o crescimento da produtividade foi maior em economias emergentes e em desenvolvimento (5,3%) que nas economias avançadas (1,1%). Na média da América Latina houve um aumento de 10,5% e no Brasil foi registrado crescimento de 12,2%.

Essas evidências sugerem que o fator preponderante para esse aumento da produtividade provavelmente não foi a incorporação de novas tecnologias, que deveria beneficiar mais as economias avançadas.

Por exemplo, enquanto o potencial de trabalho remoto no Brasil, calculado segundo a metodologia de Dingel e Neiman (“How many Jobs Can be Done at Home?”) é de cerca de 25%, nos Estados Unidos ele alcança 37%. Segundo dados da PNAD Covid, o trabalho remoto efetivo no Brasil em 2020 foi ainda menor que o potencial, tendo alcançado um pico um pouco acima de 10% em maio e declinado para 8,7% em novembro, último dado coletado.

Os dados referentes ao primeiro trimestre de 2021 ajudam a entender melhor a dinâmica da produtividade ao longo dos trimestres. Nos Estados Unidos foi verificada uma elevação de 4,1% da produtividade por hora trabalhada para a economia como um todo em relação ao primeiro trimestre de 2020, e um aumento menor no setor manufatureiro (1,8%). Em comparação com o quarto trimestre de 2020, o crescimento da produtividade agregada foi de 5,4% em termos anualizados, indicando um crescimento ainda forte na margem.

Já no Reino Unido houve alta de 1% na produtividade por hora trabalhada em relação ao mesmo trimestre do ano passado e de 0,8% (dado não anualizado) em relação ao trimestre anterior, o que sugere uma volta à trajetória de crescimento pré-pandemia mais rápida que nos Estados Unidos.

Para o Brasil, os dados divulgados recentemente pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE mostram um aumento da produtividade por hora trabalhada (horas efetivas) de 4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo trimestre de 2020. Embora elevado, isso representa uma desaceleração expressiva em comparação com o crescimento de 10,1% do quarto trimestre de 2020 em relação ao quarto trimestre de 2019.

Este padrão de desaceleração do crescimento da produtividade por hora trabalhada no Brasil fica ainda mais evidente quando fazemos a comparação com o trimestre imediatamente anterior, com sucessivas quedas na margem desde o terceiro trimestre de 2020. No segundo trimestre de 2020 a produtividade por hora efetiva encontrava-se 25% acima do patamar do quarto trimestre de 2019. Após a queda nos trimestres seguintes, no primeiro trimestre de 2021 este indicador estava 8,9% acima do nível pré-pandemia.

O mesmo padrão pode ser observado quando utilizamos o indicador de produtividade total dos fatores (PTF). No primeiro trimestre deste ano houve aumento de apenas 0,4% em relação ao mesmo trimestre de 2020. Já na comparação com o trimestre anterior, têm sido registradas quedas desde o terceiro trimestre do ano passado. No primeiro trimestre de 2021 este indicador estava apenas 2,3% acima do nível pré-pandemia, após ter atingido quase 20% de aumento no segundo trimestre do ano passado.

Outras informações reforçam a interpretação de que o aumento de produtividade no Brasil foi temporário. Em particular, o fato de que setores e trabalhadores de menor produtividade foram mais negativamente afetados pela pandemia.

Enquanto o setor de outros serviços, um dos menos produtivos da economia brasileira, teve uma queda de 7,3% do valor adicionado no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a indústria de transformação, de produtividade mais elevada, cresceu 5,6%.

Também ocorreram mudanças significativas na composição do mercado de trabalho durante a pandemia, que continuam em 2021. No primeiro trimestre deste ano, houve redução de 8,4% no emprego dos trabalhadores informais e queda menor das ocupações formais (6,2%) em comparação com mesmo trimestre do ano passado. Além disso, os trabalhadores com menor escolaridade continuaram a ser mais afetados, com redução de 15,2% no emprego de pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto. Por outro lado, houve aumento das ocupações dos trabalhadores com ensino superior completo (4,8%).

Portanto, os dados sugerem que o salto de produtividade que ocorreu ano passado no Brasil foi em grande medida temporário e será provavelmente revertido com o avanço da vacinação e a recuperação dos setores mais afetados, especialmente no setor de serviços. Embora ainda possa levar um tempo dependendo da evolução da pandemia, provavelmente retornaremos ao padrão de baixo crescimento da produtividade que prevalecia anteriormente.

Fonte: “Blog do Ibre”, 28/06/2021
Foto: Reprodução

Fernando Veloso

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro e professor da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da FGV/RJ. É pesquisador associado do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV/RJ. Graduado em economia pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ) e PhD em economia pela Universidade de Chicago. Foi secretário-executivo da Sociedade Brasileira de Econometria. Participou da organização dos livros “Educação básica no Brasil – construindo o país do futuro” (Editora Campus, 2009) e "Desenvolvimento econômico - Uma perspectiva brasileira" (Editora Campus, 2013).

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