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Foi de repente, não mais do que de repente. Aconteceu em 2020.
Passados mais de 20 anos, muitos de nós vamos olhar para trás e ainda pensarmos como tudo aconteceu. Como começou, como evoluiu e como foi, gradativamente, terminando. E deixou uma herança de aprendizados, os mais variados, que iam do pessoal, ao profissional, ao empresarial e ao comportamento em sociedade.
Em conversas com nossos filhos e netos, talvez em alguns casos bisnetos – se é que podem querer nos ouvir – vamos falar, gravar ou só teclar, para compartilhar o quanto aprendemos e reaprendemos sobre quase tudo.
Vamos lembrar como vínhamos em uma débil recuperação econômica, depois da nossa, até então maior crise econômico-financeira e social, e embalados pela ideia liberal, tínhamos alguma segurança de que as coisas deveriam melhorar. Não na velocidade que gostaríamos ou precisávamos, mas naquela possível numa democracia, onde uma essencial Reforma da Previdência, que a maioria esmagadora da população entendia fundamental, demorou tantos anos para ser aprovada.
Acreditávamos que as demais reformas, Tributária, Administrativa e outras mais, poderiam ser aprovadas com um pouco mais de celeridade e confiávamos na capacidade de articulação do Executivo e no bom senso do Legislativo.
Tínhamos a visão que o país estava maduro para discutir seu projeto de longo prazo, reconhecer e valorizar seus diferenciais competitivos e estratégicos no plano global e muito ligados ao agronegócio. Continuaríamos evoluindo com a digitalização, inclusive dos meios de pagamentos, o redesenho do sistema financeiro, a modernização da indústria de forma geral que saía abalada da crise e continuar expandindo de forma acelerada os setores de varejo, consumo e serviços.
De forma muito especial através do crédito às famílias que poderia duplicar ou triplicar o consumo interno, tomando por base quanto representava esse crédito em relação ao PIB e comparando com outros países mais desenvolvidos.
A confiança do setor empresarial e dos consumidores oscilava ao sabor das notícias e das crises políticas, mas mostrava tendência de crescimento, após o seu menor índice histórico em 2013.
Talvez, para uma grande maioria, ficou a constatação que éramos felizes e não sabíamos. Nós e boa parte do mundo desenvolvido.
E foi de repente, não mais do que de repente.
Algumas notícias de uma até então desconhecida província na China sobre uma nova síndrome, na linha das também nascidas anteriormente por lá.
E de repente fecha a província, e depois parte da China e em seguida, Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha. E continuou avançando pelo mundo todo.
Produz uma tragédia nos Estados Unidos e chegou no Brasil.
Contaminados na casa de milhões e mortes aos milhares.
E o efeito conjugado do que se tornou pandemia global com o tsunami econômico – financeiro fez desabar o valor dos ativos e precipitou uma mega crise de proporções desconhecidas que fez parecer a crise anterior, de 2007-2010, um simples exercício de stress financeiro.
E atingiu tudo e todos, sem exceção setorial ou geográfica.
Em intensidade distinta segundo a capacidade de entender, integrar, coordenar e liderar a preparação dos países e regiões para enfrentar o problema.
Os canais e as mídias digitais concentravam-se em informar, alertar e disseminar dados, gráficos e análises para sensibilizar e provocar ações e reações. Mas a grande maioria com o viés de que notícia boa não atrai.
O efeito de tudo isso foi um ano para ser esquecido que, porém, será lembrado por todos como um ano que não deveria ter existido.
Se mostrou a grandeza de muitos, felizmente uma maioria significativa, que se colocaram a campo para minimizar os problemas de quem precisava, estava desassistido e tinha menos, também mostrou a pequenez, quase insignificância, dos que se aproveitam de tudo para tirar vantagem pessoal ou política, mesmo em momentos de tragédia.
Mostrou que o Brasil continuava a ser um país com inúmeras e significativas virtudes estruturais, humanas, ambientais, econômicas e sociais, porém com fragilidades crônicas especialmente no que diz respeito às suas lideranças políticas e sua incapacidade de pensar a Nação e o Futuro, administrando com bom senso e rigor o presente.
Passados vinte anos vamos contar para quem quiser ouvir que, como sabíamos, depois da mais tenebrosa noite, vem o dia.
Que em algum momento no próprio ano de 2020 as coisas começaram, gradativamente, a se movimentar de forma positiva. Que o balanço do acontecido no país, quando comparado com outras realidades, não ficou maior ou menor em termos relativos. Ficou diferente.
Que empresas quebraram, desemprego aumentou, endividamento cresceu e voltamos alguns anos atrás em nossa recuperação econômica, social e política.
Que questões estruturais foram momentaneamente esquecidas e depois retomadas num ritmo ainda mais lento, pois a crise do coronavírus baixou o nível de diálogo, de disposição à composição, ao entendimento e à priorização dos grandes temas nacionais.
E todos que passaram por tudo isso, saíram melhores e com muito mais para contar, pois as dificuldades, habitualmente, forjam comportamentos individuais mais maduros, estruturados e melhor preparados. Mas essa regra nem sempre se aplica a muitos políticos que parecem viver um mundo à parte, distantes da realidade de todos os mortais.
Como País saímos menores por algum tempo depois da crise de 2020.
Como nação saímos mais conscientes que sem a decisiva participação do setor privado, com sua visão estratégica, capacidade de gestão, articulação e entendimento de forma estruturada e ambiciosa, não haverá futuro que potencialize nossos diferenciais e crie outra e mais ousada perspectiva.
Foi em 2020, de repente não mais que de repente, que percebemos que não dá para ser diferente.
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