Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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fonte: |.universia.com.br|

Brasil precisa de mais engenheiros

Meta demanda que o País dobre o número de formados na área

Publicado em 26/03/2010 - 16:00

Para 2014, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) definiu como meta formar 100 mil engenheiros, o que significa mais do que dobrar o número de formandos de 2008. Afinal, técnicos ou tecnólogos não entram nessa conta e o Censo da Educação Superior do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) indica que, no ano de referência, formaram-se nas diversas especialidades da engenharia 47.098 profissionais.

Parte da responsabilidade pela meta está nas mãos da comissão formada pela Capes com o objetivo de propor ações indutoras e estimular o desenvolvimento da pesquisa, da pós-graduação, da produção científica e da inovação tecnológica nesta área do conhecimento. Para Sandoval Carneiro Júnior, presidente da comissão e diretor de relações internacionais da Capes, a taxa de formação de engenheiros no Brasil é inferior à de outras nações. "Dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o que menos forma engenheiros. A Rússia forma 190 mil por ano, a Índia 220 mil e a China 650 mil", diz ele com base em dados de documento elaborado pela comissão e entregue ao ministro da Educação, Fernando Haddad.

Para a indústria, a escassez de engenheiros é um fato preocupante desde 2008. "Mesmo com a recessão em 2009, setores como a construção tiveram demanda além do esperado. Não só não houve desemprego de engenheiros como os salários, em média, aumentaram 20%", afirma Marcos Maciel Formiga, representante da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e membro da comissão da Capes. Para ele, se a taxa de crescimento econômico continuar acima de 5%, haverá necessidade de duplicar o número de engenheiros formados anualmente.

Segundo Carneiro Júnior, um dos riscos imediatos da falta de mão de obra qualificada é o de encarecimento do setor produtivo. Ele acredita que as empresas passarão a buscar profissionais estrangeiros, a custos elevados e com a exigência de adaptação do conhecimento técnico à realidade local. Além disso, intensifica-se a dependência brasileira de inovação tecnológica. "O Brasil entra numa fase de crescimento e precisamos sair do modelo econômico baseado na exportação de materiais primários e commodities, cujo valor agregado é pequeno", alerta Carneiro Júnior. De acordo com ele, para mudar esse quadro, é necessário contar com profissionais capazes de desenvolver inovação tecnológica.

No entanto, para Divonzir Arthur Gusso, pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), não há motivo para voltar os olhos apenas para a engenharia. "Se a economia começar a crescer muito, pode faltar mão de obra de modo geral", acredita. Ele, que é um dos autores do artigo "Escassez de engenheiros: realmente um risco?", publicado na edição nº 6 da publicação Radar, do IPEA, afirma não ser o caso de investir na criação de novos cursos, mas de corrigir os rumos da formação.

Combate à evasão

Carneiro Júnior é contundente ao afirmar que o principal desvio é a evasão universitária, tendo sido o que motivou a Capes a criar a comissão. Segundo dados por ele apresentados, a evasão, mesmo em IES (instituições de Ensino Superior) públicas chega a 60% e atinge 75% em entidades particulares. "Vagas temos de sobra. Em 2007, 450 mil alunos se inscreveram para 198 mil vagas de engenharia, mas dessas, apenas 115 mil foram preenchidas. Sobraram 80 mil ociosas", diz.

A mesma opinião tem o professor Alexandre Pacheco, coordenador da comissão de graduação da escola de engenharia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) onde, afirma, apenas no curso de Engenharia Civil, todos os anos são oferecidas 175 vagas, com ingresso de cerca de 150 alunos. Segundo ele, apenas em torno de 80 chegam a se formar. "O pessoal tem muita dificuldade nos primeiros dois anos, quando a evasão é pronunciada", declara Pacheco. Um dos motivos para a evasão seria o perfil estritamente acadêmico do ciclo básico a maior responsabilidade. "Depois que entra na parte profissionalizante, o pessoal costuma engrenar, faz estágios e iniciação científica", acrescenta ele.

Vestibular
Vagas Oferecidas Ingressos Concluintes
2005 148.080 89.030 36.918
2008 239.134 140.878 47.098

Fonte: Censo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira)

A suposta responsabilidade pelas falhas que levam à evasão divide-se entre o Ensino Médio e as faculdades. O primeiro respondia pelas deficiências na área de exatas. Tanto que na UFRGS foi criado um programa para detectar alunos com dificuldades nas áreas de física e matemática. Eles são encaminhados para curso preparatório de recuperação. "Modificamos os critérios de recusa de matrícula devido à má performance, o que culminava com a saída do aluno do curso", revela o coordenador.

A própria CNI, por meio do programa Inova Engenharia, atua junto ao Ensino Médio para estimular estudantes a optarem pela engenharia. "Apenas um aluno dentre 700 optará pela engenharia. Não temos como conviver com essa realidade. Então essa mobilização vai tentar sensibilizar a sociedade para a importância desse profissional", conta Formiga, superintendente da CNI.

Já às universidades caberia a responsabilidade por modernizar currículos e torná-los mais atraentes aos alunos a partir do estímulo à aplicação prática dos conceitos nos primeiros anos sem comprometer a base científica. Essa é a opinião de Carneiro Júnior, para quem a questão é amenizar a aridez da teoria por meio da iniciação cientifica, com engajamento em projetos práticos de laboratório. Dentro da sala de aula, ainda na opinião dele, a metodologia precisa ser modernizada com mudança do foco do professor para o problema. "Em vez de apenas estudar teoria, desafiar os alunos a propor soluções", exemplifica ele.

A fim de complementar a estratégia de atração e retenção de alunos nos cursos de engenharia, Formiga acredita ser necessário pensar na questão financeira, tanto com relação às mensalidades quanto sob o aspecto dos salários. "Os cursos são difíceis e as faculdades particulares caras. Os alunos vão para as áreas de humanas e sociais, que também abrem chance de prestar concurso", analisa ele. Um dos caminhos sugeridos por Carneiro Júnior para atenuar o problema seria desenvolver um programa de ajuda de custo, não reembolsável, para IES comunitárias com bom desempenho no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). "Durante muito tempo, os salários da engenharia foram baixos o que, aliado à necessidade de investir durante cinco anos em muito estudo, afastou os alunos", argumenta o coordenador.

Omissão tecnológica

O viés cientificista da educação no Brasil é apontado por Formiga como um dos fatores responsáveis pelo achatamento dos salários de engenheiros. Isso porque os investimentos por parte da indústria em tecnologia seriam escassos. "Estamos mais preocupados com ciência do que com tecnologia. E engenheiros são mais tecnologistas. No, o registro de patentes chega a 400 ou 500 por ano. No mesmo período de análise, a Coréia registrou dez vezes mais patentes do que nós", compara ele.

Dados da pesquisa Inova Engenharia 2008
Propostas para a modernização da educação em engenharia no Brasil
Engenheiros contratados por porte (número de funcionários)
Descrição
Até 49 50-249 250-499 500 ou mais Total %
Ramos que empregam os primeiros 49,2% do total de engenheiros 21.930 30.267 16.542
60.086 128.825 49,2%
Construção 7.655 6.468 2.291
2.679 19.093 14,8%
Serviços prestados principalmente às empresas
3.909 5.018 2.732
4.929 16.588 12,9%
Administração pública, defesa e seguridade social
176 1.652 1.414
10.365 13.607 10,6%
Eletricidade, gás e água quente
450 1.421 598
5.218 7.687 6,0%
Fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias
104 685 740
4.880 6.409 5,0%
Total de Engenheiros
34.224 45.511 24.317
88.157 192.209 49,2%
Ramos que empregam os próximos 26,5% do total de engenheiros
Até 49 50-249 250-499
500 ou mais Total %
Correio e telecomunicações
470 1.267 734 3.412 5.883 4,6%
Fabricação de máquinas e equipamentos
945 1.596 622
1.810 4.973 3,9%
Captação, tratamento e distribuição de água
211 790 555
2.285 3.841
3,0%
Fabricação de outros equipamentos de transporte
44
140 27 3.394 3.605
2,8%
Fabricação de produtos químicos
360
1.327 953
927 3.567
2,8%
Fabricação de coque, refino de petróleo, elaboração de combustíveis nucleares
22 170 247
2.840 3.279
2,5%
Comércio por atacado e representantes comerciais e agentes do comércio
1.374
1.031 370
451 3.226
2,5%
Metalurgia básica
100
291 301
2.290 2.982
2,3%
Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais
321 591 791
1.122 2.825
2,2%
Total de Engenheiros
3.847
7.203 4.600
1.122 34.181
26,5%
Fonte: Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) / IEL (Instituto Euvaldo Lodi)

Para essas afirmações, Formiga tomou como base o documento desenvolvido pelo programa Inova Engenharia, que aponta que apenas um terço dos engenheiros permanece no trabalho em sua área de formação. De acordo com o Sumário analítico Mercado de Trabalho para o Engenheiro e Tecnólogo no Brasil, desenvolvido pela CNI, "do total de engenheiros empregados (...) quase metade está concentrada em cinco ramos de atividade, sendo que dois deles estão em áreas não diretamente relacionadas à produção. Um é o ramo de serviços prestados principalmente às empresas (...).O outro é a administração pública, defesa e seguridade social, ou seja órgãos do governo".

Dentre os fatores que fazem com que engenheiros migrem para outros setores, Formiga aponta os melhores salários. "Nada melhor que o setor financeiro para engenheiros, onde exercem suas capacidades e recebem melhor", resume. Para ele, embora esse fenômeno mostre o aspecto positivo referente à polivalência desses profissionais, também revela um aspecto preocupante. "Queremos que o setor empregue mais engenheiros em atividades de engenharia. Com competitividade acirrada, não se sobrevive sem inovação e engenharia é fundamental", diz ele.

O aumento dos salários nas áreas diretamente ligadas à engenharia voltaria a atrair profissionais já formados e alocados em outras áreas e atenuariam o risco de escassez. A possibilidade é apontada no artigo "Escassez de engenheiros: realmente um risco?". "Temos 750 mil engenheiros formados e usamos como engenheiros apenas 211 mil. Se houver demanda efetiva, os salários sobem e o pessoal para de ir para o outro lado", atesta Gusso.

Assim, a valorização do engenheiro na indústria passa pela mudança de suas funções principais. Para Carneiro Júnior, muitos profissionais utilizam apenas nível técnico de conhecimento, envolvidos com adaptação de projetos às condições locais. "A indústria tem de participar com recursos e definição de prioridades e aumentar a quantidade de estágios de qualidade, que contribuam para a formação", afirma o diretor de relações internacionais da Capes. Condição atestada também pelo Sumário analítico da CNI, que indica que "quando se trata do elemento cada vez mais crítico da inovação, os engenheiros são considerados adequados apenas na adaptação da inovação, ficando um pouco abaixo no conhecimento e na implantação e significativamente abaixo na geração de inovação".

As possibilidades da indústria para contribuir com a formação profissional envolvem o aproveitamento da polivalência do profissional de engenharia citada por Formiga, o que é explorado com a criação de universidades corporativas. "O profissional bem formado é exigido e, por meio da universidade corporativa, forma-se a especificidade. O profissional, quando bem formado se adapta às novas situações", ressalta o representante da CNI.

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