Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O espíritodo Xamã: Vestuário para rituais do poder

O texto a seguir foi digitado a partir do livro “O espírito do xamã: magia, filosofia e espiritualidade em harmonia com a natureza”, de Williams. É uma boa leitura para introduzir no riquíssimo universo do vestuário xamanista. Boa viagem!

 

Vestir o poder

A xamã recolhe-se em sua cabana para vestir uma roupa ritualística. Primeiro, uma longa túnica acolchoada em azul vivo com adornos. Depois, um grande espelho de latão pendurado no pescoço. Nas costas, um manto com borlas coloridas. Um chapéu com franjas e guizos balançando cobre-lhe a cabeça e o rosto. Finalmente, ela pega um toucado de galhada, cada uma amarrada com seda azul. A xamã invoca os espíritos ao colocar a galhada na cabeça, pedindo a eles que deem força a seus trajes ritualísticos.

 

Vestir-se para o ritual

Cada elemento da vestimenta elaborada dos xamãs da tribo buryatdesempenha um papel de proteção e auxílio ao xamã durante os rituais, e não há duas roupas iguais. Demonstrando a presença de espíritos, as franjas e os sinos dão vida à roupa, que também é adornada com imagens de animais de poder e outros espíritos importantes, geralmente feitos de metal. Um espelho (toli) dá proteção contra influências negativas, refletindo qualquer olhar maligno de volta a quem o lançar. A galhada (orgay) representa o espírito do veado, concedendo velocidade no outro mundo e boa caça. A face do xamã é coberta como proteção, particularmente quando viaja ao mundo dos mortos; se os espíritos da morte não reconhecerem o xamã não virão procurá-lo depois. (A vestimenta evenque tem uma tira traseira muito útil, que permite a um assistente puxar o xamã de volta ao mundo dos vivos.) As roupas são um aspecto vital do poder xamanístico, e sem ela os xamãs da tribo buryat não ousariam interagir com os espíritos. Um xamã evenque (saman) do norte da Sibéria, cujas vestes foram levadas por antropólogos no século XVIII, perdeu todos os seus poderes.

Os xamãs evenques têm roupas diferentes para suas jornadas ao supra ou submundo, enquanto os angakkuq da Groenlândia têm trajes distintos para cada tarefa, como a kila, um manto usado apenas para adivinhação. O xamã segura a kila enquanto a comunidade faz perguntas. Se a resposta é “não”, os espíritos entram na kila e o manto fica pesado; se este permanecer leve, a resposta é “sim”. Xamãsorogens (saman) da China indicam a idade pelo número de pontas de suas galhadas, assim como um veado. Na Coreia, quando o mudangfaz a dança dos espíritos, troca de roupa várias vezes para representar os espíritos que incorpora. Se dor mulher, o mudang usa, por baixo, roupas masculinas e, mais raramente, se for homem, usa roupas femininas. Esse disfarce de gênero permite ao xamã incorporar tantos espíritos masculinos quanto femininos. Nos rituais tailandeses, os médiuns, que em geral têm origem camponesa, também usam vestes espirituais – as roupas dos nobres tradicionais. Mais uma vez as regras são invertidas no outro mundo e os médiuns de postos mais baixos encarnam os espíritos mais nobres.

As vestes mudang ficam em santuários quando não estão em uso, e as pessoas deixam oferendas de alimentos, tecido ou dinheiro para honrar os espíritos que as habitam. Às vezes, alguém (geralmente uma mulher) doa uma nova roupa, bordando seu nome no tecido para que permaneça próximo ao espírito.

No Tibete, muitos monastérios têm um oráculo que combina elementos do xamanismo do Bön com rituais budistas. Durante uma sessão espírita, para representar o momento importante quando os espíritos chegam, o médium envolve um pano vermelho em sua cabeça e por cima um adorno, indicando que a realidade comum deu lugar a algo sagrado.

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Fonte: WILLIAMS, M. O espírito do xamã: magia, filosofia e espiritualidade em harmonia com a natureza. São Paulo, Alúde Editorial, 2013, 176 p.

Escolher as vestes

Usar roupas comuns para viajar ao outro mundo pode deixar uma pessoa despreparada, até mesmo exposta. Nesse caso, ela precisa fazer as próprias vestes xamanistas. Certamente, para muitos xamãs tradicionais, o próprio ato de vestir uma roupa muda sua consciência e prepara a alma para a jornada. Se quiser, ela pode ter várias roupas para representar diferentes aspectos de sua prática.

As vestes podem ser elaboradas, como as dos buryats, ou simples. Uma mulher xamã dos teleuts do oeste da Sibéria usa apenas uma touca (astyucke) em suas jornadas. Os xamãs chepangs (pande) da pobre área centro-sul do Nepal usam somente dois colares para isso. A pessoa pode pendurar objetos de poder e outros amuletos em suas vestes, para proteção e para atrair espíritos ajudantes. Os talimãs dos xamãs iacutos do leste da Sibéria são de metal, assim suas roupas chegam a pesar até 18 quilos!

Nem todas as roupas xamanistas são imbuídas de poder. A vestimenta do txiv neeb da tribo hmong da Tailândia e do Laos, por exemplo, inclui uma franja que cobre o rosto como a usada por xamãs siberianos, mas ela é parte da preparação para o ritual xamanista, não para incorporação de poder. Isso é um importante lembrete de que nunca devemos ser confiantes demais em um traje – ou qualquer outra ferramenta xamanista. Se não somos capazes de trabalhar sem certos instrumentos, jogamos nossa responsabilidade e poder para esses objetos. Roupas especiais são um atalho para o trabalho xamanista, mas não devem ser o único caminho para nos conectarmos com nosso poder.

Usar vestes ritualísticas ou não depende de cada um. Pode acontecer de os espíritos darem uma roupa à pessoa em outro mundo e ela querer recriá-la nesta realidade. Na Sibéria, muitos xamãs primeiro veem seus trajes em um sonho; se isso acontecer, é preciso avaliar se eles são para atrair e incorporar poder ou apenas um objeto cênico. Para ajuda e conselhos, viajar a seus espíritos-guias e pedir poder e força às vestes ritualísticas são boas soluções.

 

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