A cadeia inconsequente da moda fast fashion está com os dias contados, é o que diz a pesquisadora e trendhunter holandesa Li Edelkoort, que já foi apontada pela revista Time como uma das pessoas mais influentes do mundo da moda. Ela apresentou recentemente o “Manifesto anti-fashion”, em que apresentou, em dez tópicos, as razões que a motivam a acreditar que a moda do jeito que conhecemos hoje está obsoleta devido a essa imensa exploração de mão de obra escrava, produtos tóxicos ao ambiente e o ritmo desenfreado de produção e descarte sem pensar nas consequências ambientais e sociais.
Manifesto anti-fashion
Edelkoort disse que seu interesse em moda agora foi substituído pelo interesse em roupas, uma vez que a moda tem perdido o contato com o que está acontecendo no mundo e no que as pessoas querem. “A moda é insular e está se colocando fora da sociedade, o que é um passo muito perigoso“. Edelkoort listou uma série de razões para a crise na moda:
1. Educação:
Nas faculdades, ainda educamos os alunos para brilharem sozinhos, para serem estrelas disputadas por grandes marcas de luxo. Mas esquecemos que isso, na verdade, é a exceção. No século XXI esta realidade individualista está caindo por terra e o trabalho colaborativo faz muito mais sentido.
2. Materialização:
Ao cortarem drasticamente os custos, as grandes empresas de moda estão levando a indústria têxtil e a mão de obra artesanal à falência. Como resultado, as faculdades deixam de ensinar criação têxtil e conceitos básicos sobre tecidos. Ou seja, é uma bola de neve que pode levar à quase extinção dos trabalhos manuais. É mais um conhecimento que se perde.
3. Manufatura:
Com redes de abastecimento cada vez menores, o sistema precisou se reestruturar. Como? Recorrendo aos países de economia fraca explorando a mão de obra barata e sem proteções trabalhistas. Assim, o lucro das marcas é ainda maior.
4. Preços:
Para a moda, quase tão grave quanto a mão de obra escrava é a mensagem que se passa com roupas tão baratas: “Compre, use e jogue fora, como se fosse uma camisinha”, diz Li. As pessoas acabam não “saboreando” o que compraram e, pior, isto ensina aos jovens consumidores que a moda não tem valor. A cultura da moda acaba sendo destruída pelo fast fashion.
5. Designers:
Os grandes nomes do passado mudavam a sociedade, pois introduziam novas silhuetas, novas posturas e novas formas de movimento. Lembra as ombreiras dos anos 80? Elas mudavam a forma como a mulher se mexia. Pois hoje, os designers só querem reciclar tendências do passado. “A energia deles está toda em criar bolsas e sapatos, a pedido do marketing. Eles quase não se preocupam com as roupas”, explica a pesquisadora.
6. Marketing:
Graças ao que ele se transformou, os produtos e a indústria são vistos só de uma perspectiva: a de como vender mais. Os designers são pressionados, produzindo coleção atrás de coleção de forma absurda, em busca de mais faturamento. Isto os esgota e mata a criatividade, devido aos inúmeros lançamentos de coleções que acontecem anualmente. Haja gente para consumir tanta roupa.
7. Publicidade:
“Os anúncios são repetitivos e fica difícil ler os valores da marca”, fala. Para piorar, as grandes publicações exibem em seus editoriais de moda exclusivamente as peças de grifes anunciantes. Como resultado, as pequenas (e novas) marcas nunca terão vez.
8. Imprensa e Blogs:
Editores de moda com conhecimento e repertório estão sendo substituídos por jovens escritores sem especialidade nem perspectiva crítica. “Eles generalizam e dão opiniões, ao invés de críticas profissionais”.
9. Varejo:
Não acompanhou a mudança dos tempos.
10. Consumidor:
“Os consumidores de hoje e de amanhã vão escolher sozinhos, criando e até desenhando o que vestem. Sem contar que Silicon Valley deu origem à primeira geração de super-ricos que não ligam para moda”, defende. A moda não vai recuperá-los. “Mas, vamos, sim, falar cada vez mais de roupas e é a elas que devemos levantar um brinde”, conclui.
Por fim, Li Edelkoort levanta uma bandeira pra lá de interessante: a de que, neste cenário, a Alta Costura terá um retorno triunfal, ocupando este vazio que a moda de hoje vai deixar. “É no ateliê de Alta Costura que encontramos um laboratório. A profissão de couturier se tornará cobiçada e esta forma exclusiva de costura inspirará todas as outras”, finaliza. O estilista Jean Paul Gaultier abandonou recentemente suas coleções de ready-to-wear ou “pronto para vestir” para focar em Alta-Costura, fragrâncias e projetos especiais. O ritmo frenético das coleções ready-to-wear foi apontado pelo estilista como um fator para a decisão, por limitar sua liberdade para inovar e também por ter que enfrentar os concorrentes mais rápidos e baratos, os chamados fast fashions, representados por lojas de produção massificada e redes globais que copiavam suas coleções.
Fonte: Living Design
Assista ao vídeo“Li Edelkoort” no blog Stylo Urbano
Outro aspecto importante é a maior revolução de todas que vai modificar totalmente a forma de produzir roupas no futuro, as máquinas de impressão 3D. Leia mais sobre elas aqui e aqui. Outro ponto importante é acustomização de roupas em grande escala onde o cliente entra na loja, escolhe o modelo que deseja customizar e terá sua roupa tecida exclusivamente por uma máquina automatizada.
Os pesquisadores de tendências agora apostam no slow fashion , termo criado por Kate Fletcher em 2007 (Centro de Moda Sustentável, Inglaterra). O slow fashion não é uma tendência sazonal que vem e vai, mas um movimento de moda sustentável que está ganhando cada vez mais seguidores no mundo da moda. Quando percebermos que não precisamos comprar novas tendências a cada 6 semanas, como os varejistas do fast-fashion querem, precisamos dar um passo atrás e reavaliar o que é realmente importante para nós. Os primeiros passos do movimento slow fashion não significa que precisamos fazer nossas próprias meias de tricô; nós simplesmente precisamos tomar decisões de comprar de forma mais consciente e durável.
Outra iniciativa interessante é o “Fashion Revolution Day”, um dia que tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre o verdadeiro custo da moda e as consequências de sua produção e consumo. Criada pelas desginers Carry Somers e Orsola de Castro, a data conquistou adeptos do mundo todo que se uniram em uma campanha nas redes sociais que faz o seguinte questionamento: “quem fez sua roupa?” com hashtags do movimento (#fashrev, #whomademyclothes e #quemfezminhasroupas). Como um jeans da Forever 21 pode custar 12,90 dólares? Como esse valor paga todo o processo de produção e ainda gera lucro para a marca? Esse tipo de questionamento é essencial para que uma verdadeira revolução aconteça no mundo da Moda, na qual as marcas sejam transparentes sobre sua produção, as condições de trabalho, os cuidados com o meio ambiente e tudo o que envolve a cadeia produtiva.
“Compre menos, escolha melhor, faça durar”
O vídeo a seguir mostra a realidade da indústria da moda e do ritmo fast fashion, destacando os problemas que precisamos enfrentar para que esse cenário do século XIX mude de uma vez por todas. Essaobsolescência programada com certeza não é o futuro da moda.
Assista ao vídeo“Fashion Revolution Brasil 2014” no blog Stylo Urbano
Um interessante reality show online sobre os abusos do fast fashion foi produzido pelo Aftenposten, o maior jornal da Noruega, onde um grupo de jovens blogueiros de moda voaram em 2014 para a capital do Camboja, Phnom Penh, para experimentaram por um mês os horrores da exploração de um trabalhador da indústria têxtil no país asiático. “Eu não aguento mais”. “Que tipo de vida é essa?”, diz a jovem loira Anniken Jørgensen, uma entre os três jovens blogueiros de moda que fizeram parte do experimento social.
Quando as multinacionais se deslocam para países em desenvolvimento é porque nestas áreas, os governos oferecem às empresas privilégios econômicos: não pagam impostos, podem ganhar dinheiro facilmente no país e o governo costuma manter uma estrutura de empresas prestadoras de serviços para as multinacionais. Além disso, muitas vezes essas empresas colocam etiquetas nas roupas Made in UK, Made in EUA ou Made in Spain, embora elas tenham sido costuradas na Índia, Bangladesh, Marrocos, Guatemala e México.
Também é muito comum o trabalho ser do tipo escravo pois o salário é muito baixo, embora muitas vezes esses salários são mais elevados do que os observados em outras profissões do mesmo país. Assim, muitas pessoas aceitam o trabalho em tais condições. De certa forma as grandes corporações lucram absurdamente às custas do sofrimento dos outros. O lema dessas grandes corporações é: “Um centavo a mais em cima do outro, até que tenhamos comido tudo“. O documentário espanhol “Vítimas da moda, do glamour a escravidão” mostra a forma insustentável que a indústria da moda trata o meio ambiente com inúmeros produtos químicos perigosos usados no tingimento dos produtos vendidos aos consumidores além do descarte desses poluentes nos rios.
Assista ao vídeo“Vítimas da moda, do glamour a escravidão” no blog Stylo Urbano
O documentário “China Blue” produzido em 2005, aborda o complexo assunto da globalização no sentido humano. O filme, que foi feito sem a permissão das autoridades chinesas, oferece um relatório alarmante sobre as pressões impostas pelas companhias ocidentais e suas consequências humanas, como os verdadeiros lucros são obtidos e mantidos nos países de primeiro mundo. O final inesperado mostra de forma bem clara, a conexão entre as trabalhadoras exploradas e os consumidores americanos. Está na hora de surfarmos na onda sustentável do slow fashion e deixar o desumano e insustentável fast fashion para trás.
Assista ao vídeo“China Blue” no blog Stylo Urbano
O fast fashion está obsoleto diz pesquisadora de tendências Li Edel...
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