Fonte:|estadao.com.br/noticias|
Tutty Vasques - O Estado de S.Paulo
- O perigo, nessas horas, é a gente começar a acreditar que esse inferno já foi paraíso. Sinceramente, não sei se o Brasil era melhor no tempo em que São Paulo dava café, Minas dava leite e a Vila Isabel dava samba. Rola nesse momento em relação ao Rio de Janeiro uma certa nostalgia por aí afora do tempo em que o apito da fábrica de tecidos era o que feria os ouvidos de Noel Rosa. O bairro carioca que serviu de berço ao compositor passou a ser reconhecido em todo o mundo como palco principal da guerra do tráfico que dominou o noticiário da semana.
A Vila virou vilã - não merecia! Ainda mais agora que prepara para 2010 as comemorações pelo centenário de Noel, com direito a samba-enredo de Martinho e o escambau. Vai passar pela avenida o bairro dos anos 1930, quando se deu por lá a primeira grande guerra de facções rivais: Wilson Batista, de um lado, e Noel Rosa, de outro, duelavam no rádio sacando canções antagônicas sobre a malandragem e as fronteiras da Cidade Maravilhosa com o banditismo.
Dizem que, no fundo, o que eles disputavam eram as mais lindas mulheres do pedaço, mas, se Wilson cantava em prosa e verso um tipo que dizia "Navalha no bolso/Eu passo gingando/Provoco e tenho orgulho/Em ser tão vadio", Noel reagia compondo Rapaz Folgado. A coisa foi esquentando até que Wilson Batista pegou pesado:
É conversa fiada
Dizerem que o samba
Na Vila tem feitiço.
Eu fui ver pra crer
E não vi nada disso.
A Vila é tranqüila,
Porém é preciso cuidado:
Antes de irem dormir,
Dêem duas voltas no
cadeado.
Eu fui lá na Vila ver o
arvoredo se mexer
E conhecer o berço dos
folgados.
A lua nessa noite
demorou tanto,
Assassinaram-me um samba.
Veio daí o meu pranto.
Foi assim que nasceu, em seguida e em resposta, Palpite Infeliz: "Quem é você que não sabe o que diz?" Já naquela época era muito difícil entender o que se passa em Vila Isabel. Eu passo!
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