Torneio que acontece anualmente em Houston, nos Estados Unidos, reúne grandes empresas, universidades e a nova geração de engenheiros.
Fabricar engenheiros não é uma realidade. Pelo menos, não ainda. Mas existe um lugar que reúne tudo que uma fábrica precisaria: tecnologia, investidores, recursos financeiros e humanos. O mundial de robótica da FIRST, que acontece anualmente em Houston, nos Estados Unidos, pode até não parecer esse lugar à primeira vista.
Quem passa pela frente do Centro de Convenções de George Brown vê crianças e adolescentes - milhares deles -, com chapéus estilizados, pulseiras coloridas, tênis que piscam. Eles jogam bola e conversam em grandes grupos, no parque que é um respiro verde em meio ao cinza que predomina no centro financeiro.
Do outro lado da rua, dentro do Centro de Convenções, o cenário muda, mas a estética, maximalista, não. A “fábrica de engenheiros” é o oposto do que poderíamos imaginar. Não há silêncio, nem pessoas isoladas trabalhando em seus computadores com braços robóticos de fundo.
O barulho é incessante, das partidas e dos competidores conversando. Tudo é feito em equipe, da definição das estratégias, ao jogo e conserto dos robôs. As roupas são extravagantes e os pits, que são os estandes de cada time, carregam uma infinidade de itens, de ursinhos de pelúcia, doces típicos e mapas a parafusos e máquinas.
Um engenheiro MC de tênis pink e verde limão
Trevor Langley, MC, ou master of ceremonies, da FIRST LEGO League Challenge (FLLC), é a personificação dessa dualidade. Ex-competidor, o jovem de 19 anos veste uma camisa estampada e um tênis rosa choque e verde limão para apresentar as partidas.
“Eu comecei na robótica aos 7 anos. Fiquei na FLL por oito anos, competi na FRC e foi aí que nasceu minha paixão pela engenharia e apresentação para o público”, lembra. Além de superar a timidez e aprender a trabalhar em equipe, o estudante conseguiu uma vaga em engenharia mecânica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), universidade referência nos Estados Unidos.
“Eu nunca teria entrado no MIT se não tivesse vindo pro mundial. Toda a minha experiência aqui contou e o contato com o escritório de admissão da universidade foi durante o evento. A robótica me deu as ferramentas e o acesso”, agradece.
Olheiros por toda parte
Cerca de 20 instituições renomadas, como Yale, McMaster University, no Canadá, e a Worcester Polytechnic Institute, já descobriram o celeiro de talentos que é o mundial de robótica.
Nos estandes das universidades, os estudantes podem falar sobre processos de admissão e bolsas estudantis. Já as empresas patrocinadoras do evento, incluindo NASA, Haas, Bae Systems, Mouser Eletronics e Disney, expõem tecnologias na tentativa de atrair os jovens.
Um advogado a menos
Pra sorte do Brasil, por enquanto, Ângelo Antônio Barbosa será um desses engenheiros. Ele entrou na 23060 Everest, do SESI de São Luis (MA), no 1° ano do ensino médio, depois de um professor identificar potencial dele e de alguns colegas.
Os amigos saíram pra se dedicar ao vestibular, mas ele ficou no time. Passou em 4° lugar em Direito na universidade federal do Maranhão e em 1° lugar na estadual em engenharia da computação. Acabou optando pelo segundo curso, para tristeza da família, que contava com mais um advogado.
“Desenvoltura e trabalho em equipe são valores frequentemente incentivados nas competições. E temos contato direto com máquinas. Montar um robô de médio porte e experimentar de fato uma linguagem de programação, escrever um código e ver acontecendo na vida real, não é algo que vemos na escola, se não fosse a robótica”, frisa.
Por uma engenharia mais diversa
Outra política levada bastante a sério é o respeito às diferenças e valorização da diversidade. Ellen Gleice, Heloisa Franco e Flora Maria são fruto disso. A participação das meninas no torneio é expressiva, o que é um sopro de esperança para a disparidade de gênero na área.
“Quanto entrei na equipe, fui pra área de MCI, que é máquina, criatividade e inovação. Aprendi o básico de programação e hoje sou responsável pelo CAD do robô, que é o design 3D, e pela documentação”, explica Ellen, da 8882 Infinity BR, do SESI Canaã, em Goiânia (GO).
Ainda no 1º ano, Heloisa (esq.) já se vê como engenheira biomédica
Ellen, da Infinity, desenvolveu um painel que chamou atenção dos juízes no mundial
Ainda no 1º ano, Heloisa (esq.) já se vê como engenheira biomédica
O maior orgulho da futura engenheira mecânica - ou mecatrônica, porque ela ainda não decidiu - é um painel que ela construiu para mostrar a evolução do processo de construção do robô. Já Heloísa, do time Los Atômicos, do SESI em Araras (SP), também se orgulha de seu projeto de inovação: um xadrez lúdico.
“Aprendi um pouco de programação e nosso projeto já usa C++, python e bloco (linguagens de programação)”, lista. Depois de três temporadas na FLL, ela pretende voltar às competições como voluntária e, apesar de ainda estar no 1º ano do ensino médio, já vislumbra uma graduação em engenharia biomédica.
Para Flora, que representa o Brasil como Dean’s List - prêmio individual que reconhece e liderança do competidor -, a física era uma primeira opção, mas ela já cogita cursar engenharia. Foi pelo trabalho não só de programadora, mas de inspiração para os colegas da equipe 9218 Alpha Technology, que ela saiu de Jacarepaguá (RJ) e veio parar nos Estados Unidos.
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