Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Em um novo livro, o biólogo francês Jean-François Bouvet mostra que passamos por uma evolução inédita. Para ele, as transformações ambientais feitas pelo homem têm hoje mais influência em nossa biologia que a seleção natural. Nesta entrevista, ele rebate quem acredita que a ciência só nos trouxe progresso e explica como chegamos a esse ponto

Rita Loiola
Jean-François Bouvet

Para o cientista francês Jean-François Bouvet a exposição a químicos, pesticidas e poluentes modernos modificou nossa biologia de forma permanente. E sem volta. (Philippe Matsas/Flammarion/Divulgação)

Velho, gordo e infértil. Para o biólogo francês Jean-François Bouvet, esse é o retrato do ser humano atual — e do seu futuro. Em seu livro Mutants – à quoi ressemblerons-nous demain? (Mutantes – como seremos amanhã?, lançado em março e sem tradução em português), ele reúne uma série de dados de pesquisas feitas ao redor do mundo para mostrar que o homem passa por uma evolução inédita – que pode estar prejudicando seu bem-estar.

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Mutants – à quoi 
ressemblerons-nous demain?

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Mutants

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O biólogo francês Jean-François Bouvet reúne uma série de estudos feitos ao redor do mundo para mostrar que estamos passando por uma evolução inédita, batizada por ele de retroevolução. O ser humano poluiu o ambiente com novos químicos que estão alterando nossa biologia de maneira permanente e perigosa.

Autor: JEAN-FRANÇOIS BOUVET
Editora: FLAMMARION

"Desde a Revolução Industrial, no início do século XIX, vivemos um processo em que o ambiente modificado pelo homem tem mais influência em sua evolução que a seleção natural. E essas mudanças são, geralmente, negativas", explica o cientista que, durante dez anos, desenvolveu pesquisas em neurobiologia na Universidade Claude Bernard, em Lyon, na França, e escreveu outros quatro livros, publicados na Europa e Estados Unidos.

Big bang químico — Para ele, a explosão de novas moléculas criadas pelo avanço da ciência e da indústria modificou permanentemente o sistema endócrino e hormonal dos seres humanos. Os efeitos de químicos como o do pesticida DDT, de antibióticos ou de substâncias presentes em nosso cotidiano, como o bisfenol A, os parabenos ou os ftalatos revolucionaram nossa biologia em uma escala jamais vista. O número de casos de obesidade dobrou desde os anos 1980, meninos e meninas ao redor do mundo entram na puberdade por volta dos 7 anos e, o que é mais grave, a concentração de espermatozoides no sêmen foi reduzida em 40% nos últimos 50 anos, em todo o planeta. Se o objetivo da evolução é selecionar os mais aptos a gerar descendência, esses indícios reunidos indicariam que ela está enfrentando problemas.

Pouco otimista em relação ao futuro da humanidade, Bouvet explica nesta entrevista o que seria uma evolução inédita, como serão os homens nos próximos anos e se promessas da medicina, como as células-tronco ou pesquisas genéticas, podem reverter esse processo.

Por que você afirma que o ser humano vive uma evolução jamais vista? Estamos cada vez mais gordos e menos férteis. É verdade que estamos também mais velhos – desde 1990, a expectativa de vida aumentou quatro anos na Europa, seis anos na África e oito anos na Ásia. No entanto, essa não é uma velhice saudável. O indicador que mede a expectativa de vida sem incapacidade [Disability Free Life Expectancy, em inglês, usado pela Comissão Europeia] permanece estável nos últimos dez anos. Ou seja, o aumento dos anos de vida significa uma sobrevida sem saúde. Na França, temos 25 novos casos de Alzheimer diagnosticados por hora: são 860 000 doentes e a previsão é de 2 milhões até 2020. Isso nunca nos aconteceu e não pode ser considerado um progresso. 

Mas esses homens não são os mais aptos ao mundo moderno, selecionados pela evolução? Pela primeira vez na história há outro fator mais importante que a seleção natural para a evolução: o ambiente modificado pelo homem. Até a Revolução Industrial não tínhamos a capacidade técnica de transformar quimicamente a natureza. Modificamos o ambiente que, por sua vez, devolve essas alterações, perturbando-nos com os químicos que inventamos e que agora agem de maneira deletéria sobre nós. Esse processo em que a natureza manda de volta o que fizemos a ela é o que chamo de retroevolução.

Muitos antropólogos e biólogos evolutivos defendem que mudanças ambientais têm forte impacto na seleção natural. No entanto, eles não costumam enxergar essa tendência como negativa. O que ela teria de tão ruim? Sou um homem da ciência e não escrevi um livro otimista. Há um fenômeno global em que o homem inventa novas moléculas e faz isso tão rapidamente que não há tempo para estudos sérios sobre seu impacto. Elas são logo colocadas no mercado e, só depois, percebemos que são perigosas. Estou falando de coisas como os pesticidas, o bisfenol A, os parabenos ou os ftalatos, que jogamos no ambiente sem parar. Uma pesquisa de 2012 com cerca de 4 000 americanos mostra que a porcentagem de obesos em uma população aumenta quando a taxa de bisfenol A cresce nos organismos. No país, mais de 95% dos adultos apresentam o químico na sua urina e um terço das mulheres e 30% dos homens são obesos. Em todo o mundo, a obesidade, relacionada a doenças crônicas como diabetes e hipertensão, dobrou desde os anos 1980. Não dá para ser muito otimista em um cenário como esse.

O uso de alguns desses químicos está sendo restringido no mundo. Isso não ajuda? Eles continuam onipresentes. O bisfenol A é uma substância utilizada em plásticos, para facilitar sua maleabilidade. E o DDT, proibido nos Estados Unidos em 1972, continua sendo usado em vários países para combater os mosquitos da malária — o que significa que ainda é muito empregado no planeta. Além disso, ele permanece no ambiente por até dez anos. Um estudo feito em 2005 pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com mulheres da China — lugar onde o pesticida foi proibido em 1984 — mostrou que as que tiveram puberdade precoce eram as que tinham sido mais expostas ao químico. E a esfera sexual é uma das mais afetadas também pela poluição. Um estudo brasileiro, da Universidade de São Paulo, publicado no ano passado, mostrou que ratas submetidas a partículas finas de ar poluído tinham diversos problemas reprodutivos, com uma modificação substancial no ovário. Não somos ratos, mas não dá para imaginar que essas partículas sejam inofensivas. 

http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/o-futuro-e-de-velhos-gordo...

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