Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O futuro vai ficando cada vez mais diferente do passado. Aos poucos o cenário passará a ser de um ambiente com competição mais justa.

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Pode-se observar um movimento de sensível redução na tolerância social e judiciária com relação a atos de corrupção, em diferentes âmbitos. Os protestos ocorridos nos últimos anos, anabolizados pela operação Lava-Jato e por prisões de corruptos e corruptores, sugerem que a sociedade espera comportamento ético dos agentes econômicos, principalmente nas esferas governamentais.  Mas é possível visualizar esse movimento se estendendo também para a iniciativa privada, onde nem sempre os desvios éticos atingem diretamente a sociedade e onde raramente tais desvios se tornam escândalos.

Aparentemente, um dos desvios éticos corporativos mais frequentes é a sonegação: fiscal, tributária e trabalhista. Nesse sentido, algo que vem dificultando a vida de muitas empresas varejistas é o aperto cada vez maior contra esses desvios A substituição tributária e as tecnologias para detecção de sonegação implantadas nos últimos anos tem obrigado as empresas varejistas a rever a condução dos seus negócios. As pressões sociais são gigantescas. Para as empresas que historicamente sonegam impostos, o cenário piorou, e muito. Se esse tipo de empresa quiser ter um futuro, terá que mudar seu passado. Seu mindset.

A chamada “economia subterrânea” é definida pelo Instituto ETCO como sendo a produção de Bens e Serviços não reportada ao governo deliberadamente para evadir impostos, evadir contribuições para a seguridade social, evadir o cumprimento de leis e regulamentações trabalhistas e evitar custos decorrentes do cumprimento de normas aplicáveis na atividade. Diversos estudos indicam que o varejo brasileiro praticava até 40% de sonegação, dependendo do segmento. Era quase como  se dobrássemos os números oficiais publicados por órgãos como o IBGE. A distorção é que esse índice de sonegação não é praticado de forma equânime pelas empresas varejistas.

Geralmente, quanto maior o porte da empresa menor o seu grau de sonegação, até porque fica ampliada sua visibilidade perante governos, agentes e sociedade. O grande desafio é identificar quais fatores deixam rastros de sonegação, sem necessariamente ter que se perguntar diretamente. Assim como ocorre com a imitação, a sonegação é prática nunca admitida pelas empresas. Trabalhos desenvolvidos pelo Instituto ETCO, em parceria com a FGV, sugerem que quanto maior o nível de atividade econômica, corrupção e carga tributária, maior a sonegação. De maneira inversa, quanto maior o volume de exportações, menor a sonegação. Adicionalmente, quanto maior uma eventual recessão econômica, maior tende a ser a sonegação.

Com tudo isso, pode parecer que a sonegação é um fenômeno de base econômica, mas não é bem assim. Para o Banco Mundial, por exemplo, trata-se de um fenômeno social, cuja base é a sociedade que tolera, e eventualmente aprova, que as empresas deixem de repassar recursos aos governos. As justificativas para a sonegação são diversas. Vão desde a corrupção endêmica do estado, para o qual quanto mais recursos recebe mais desvia, até pérolas como “o consumidor se beneficia, pois podemos vender mais barato”. Balela. O consumidor não se apropria desse ganho, e, corrupto ou não, o estado deixa de receber recursos. Antigamente a empresa saía ilesa desse estória, ou pelo menos assim parecia.

Parecia. Porque nessa atuação de Robin Hood, a empresa sonegadora vai desenvolvendo em seu interior uma espécie de câncer, e acaba se expondo perante funcionários e fornecedores, criando vários “sócios” involuntários. São compradores obrigados a pedir ao fornecedor que emita meia-nota. O DP tem folha de pagamento paralela para controlar o pagamento das comissões que são pagas por fora do salário registrado em carteira. Gerentes de loja administram a emissão dos cupons nos PDVs.  E por aí vai.

A empresa começa a desenvolver mecanismos para planejar e controlar a sonegação, mecanismos esses que vão ficando cada vez mais sofisticados, e, não raro, mais caros, conforme a empresa cresce. Multiplica-se uma plêiade de documentos oficiosos, que vão tornando a burocracia interna cada vez mais pesada. Perdem eficiência e eficácia, com processos fantasmas, e os melhores talentos do mercado tendem a não ficar por muito tempo em empresas assim. Se a empresa não der claros indícios de que essa situação é transitória, transitória é a permanência dos verdadeiros talentos nesse tipo de empresa.

Estudos mostram que as empresas integrantes da economia subterrânea são menos produtivas, e, portanto, menos competitivas. Essas empresas acreditam que compensam suas ineficiências com os ganhos da sonegação, mas na prática não conseguem, e a sonegação acaba sendo parcialmente absorvida pela ineficiência interna, pelo desembolso de propinas e pelo enorme passivo tributário e trabalhista que vai se acumulando. Desnecessário dizer que a anacrônica estrutura tributária brasileira, com uma miríade de impostos, contribuições, taxas, tributos, normas, regulamentações etc., ainda acaba dando brechas para sonegações gigantescas.

Para piorar,  a fiscalização ineficiente, para dizer o mínimo, e as frequentes anistias fiscais acabavam premiando quem sonegava, em detrimento de quem agia corretamente. Mas é exatamente aí que o jogo está virando: enquanto a tão esperada reforma tributária não ocorre, observa-se que pelo menos a fiscalização tem sido mais eficiente, com mecanismos tecnológicos que escanteiam do processo o fiscal corrupto e obrigam a empresa varejista a recolher seus impostos e multas quando autuadas. Tudo isso temperado com as pressões sociais por transparência, contra práticas fiscais e tributárias não-ortodoxas.

Assim, o futuro vai ficando cada vez mais diferente do passado. Aos poucos o cenário passará a ser de um ambiente com competição mais justa, onde a diferença de desempenho entre varejista será predominantemente decorrente da qualidade da sua gestão.  Cumprir as regras do jogo não será mais um diferencial, mas sim a regra do setor, demandando maior competências em pessoas, processos e sistemas, tudo orientados a obter o lucro mercantil que seria natural em uma operação de varejo. Caberá aos players, principalmente aos pequenos e médios começarem a reinventar sua gestão, sob pena de ser vitima de um passado que trazia uma falsa fórmula de riqueza. Porque o futuro do varejo necessariamente terá que deixar para trás esse passado…

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