Tecnologia promete eficiência no recrutamento, mas enfrenta desafios para garantir inclusão e diversidade.
A adoção da inteligência artificial (IA) em processos de contratação tem gerado intensos debates no mercado de trabalho. Enquanto as promessas de eficiência e imparcialidade atraem empresas, preocupações sobre possíveis vieses e exclusão continuam a ser centrais. A tecnologia tem o potencial de transformar profundamente a forma como as contratações são feitas, mas também levanta questões críticas sobre sua aplicação e impacto.
Em uma indústria onde mudanças são constantes e a demanda por talentos qualificados é crescente, a integração da IA requer um equilíbrio cuidadoso entre avanços tecnológicos e uma abordagem que preze pela equidade e inclusão. Nesse contexto, as recentes discussões sobre diversidade ganham relevância. O relatório de Diversidade de Gênero no Setor TIC, divulgado pela Brasscom, aponta avanços no aumento da representatividade feminina e de negros no setor de TIC, embora ainda haja muito a ser feito para alcançar uma verdadeira inclusão.
“Apesar dos avanços, ainda estamos longe de alcançar a equidade plena no setor. A diversidade é um motor de inovação, e é preciso criar as condições para que mulheres e negros ocupem efetivamente os cargos de liderança nas empresas de TIC”, afirmou Affonso Nina, presidente da Brasscom.
Em entrevista ao IT Forum, Diego Barbosa, cofundador da Rooby, e Eber Duarte, diretor de tecnologia da Catho, ajudam a esclarecer como essas empresas estão navegando esse terreno desafiador. Ambos buscam garantir que a inteligência artificial não só melhore a eficiência dos processos, mas também promova uma diversidade real e sustentável no ambiente corporativo.
A Catho, por exemplo, implementou soluções baseadas em IA que ajudam tanto candidatos quanto recrutadores. Ferramentas como o Autoenvio promovem candidaturas automáticas para vagas compatíveis com o perfil do usuário, enquanto algoritmos sugerem melhorias nos currículos. “Nosso objetivo é aprimorar a compatibilidade entre currículos e as vagas presentes no sistema para uma contratação mais assertiva”, explica Duarte. Ele também destaca que as soluções priorizam informações profissionais, excluindo dados como idade, gênero e etnia, além de eliminar fotos dos perfis, buscando reduzir vieses.
Na Rooby, o enfoque é a utilização de dados para análises mais aprofundadas. “Trabalhamos para que a tomada de decisão seja mais analítica e menos subjetiva”, afirma Barbosa. Um “framework” desenvolvido pela Rooby combina tecnologias de IA para avaliar competências e mapear perfis diversos no mercado. Ferramentas auxiliam no relacionamento com comunidades e na criação de relatórios analíticos detalhados, que servem como base para decisões dos clientes. “No final do dia, o foco é reduzir o viés presente em muitos processos seletivos tradicionais”, complementa.
A IA é frequentemente acusada de perpetuar ou até ampliar preconceitos existentes. Duarte assegura que os algoritmos da Catho foram desenvolvidos para mitigar esse risco. “Nossos sistemas não consideram informações pessoais ao calcular a conexão entre o profissional e a vaga”, diz. No entanto, admite-se que o setor ainda enfrenta desafios relacionados à formação educacional desigual, o que pode limitar as oportunidades de certos grupos.
Já na Rooby, a abordagem visa fomentar a representatividade. “A gente acredita muito nessa visão de representatividade mais do que na diversidade puramente”, explica Barbosa. Segundo ele, a empresa trabalha para apresentar aos clientes dados que desmistifiquem preconceitos sobre a escassez de talentos diversos em determinadas áreas. Essa “fotografia do mercado” busca ampliar as possibilidades de contratação, indo além dos perfis tradicionais. Mesmo assim, Barbosa ressalta que é necessário treinamento constante para evitar o uso inadequado da tecnologia.
Ambas as empresas reconhecem a importância de educar os candidatos e os recrutadores. Na Catho, conteúdos divulgados em blogs alertam sobre o uso ético de IA, especialmente em relação à criação de currículos. “Entendemos que, mais do que conectar empresas e candidatos, temos que atuar diretamente para propagar conhecimento e transformar o mercado de trabalho”, pontua Duarte.
Na Rooby, o foco é treinar tanto o time interno quanto os clientes, promovendo uma cultura de dados que valorize decisões embasadas e justas. “Nós também temos a missão de aculturar nossos clientes para que saibam como navegar pelos relatórios e extrair valor das ferramentas”, afirma o cofundador da empresa.
Para ele, o maior desafio é tornar a tecnologia acessível a todos, incluindo os candidatos. Ferramentas de simulação de entrevistas e otimização de currículos já existem, mas ainda estão majoritariamente disponíveis em inglês. “Essa barreira linguística é algo que precisamos superar para democratizar o uso da IA”, ressalta.
As iniciativas têm mostrado resultados promissores. Na Catho, a implementação de IA ajudou a aumentar a assertividade das contratações. Na Rooby, clientes relatam maior eficiência e menor tempo para preenchimento de vagas, além de ganhos em retenção de talentos. “Conseguimos reduzir significativamente o tempo de contratação, apresentando candidatos em até uma semana e concluindo o processo em 30 a 40 dias”, detalha o porta-voz da Rooby.
No entanto, os entrevistados alertam que a evolução das ferramentas precisa ser acompanhada por avanços culturais e regulamentação. “A governança da IA é um dos aspectos mais relevantes na adoção dessas tecnologias”, afirma o cofundador da Rooby. Apenas assim, dizem, será possível equilibrar eficiência e inclusão no recrutamento.
Ao final, permanece a questão: a IA melhora ou prejudica a diversidade? A resposta, ao que parece, depende de como será usada e integrada às práticas humanas.
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