Sufocadas por pressões salariais, as empresas investem em treinamento para melhorar o desempenho dos seus funcionários e produzir mais com a mesma equipe.
Ninguém sabe ao certo qual será o tamanho do crescimento econômico do Brasil em 2013, mas as empresas estão cientes de que o mercado de trabalho continuará aquecido, com pressões por reajuste salarial. Foi assim em 2012, o ano do “pibinho”, e será agora de novo, principalmente se vier o “pibão bem grandão” almejado pela presidenta Dilma Rousseff, ou mesmo um intermediário, daqueles que não são motivo para nossa alegria, mas também não envergonhem ninguém. Diante de uma inexorável elevação de custos trabalhistas, não resta outra alternativa para o setor privado a não ser aumentar a produtividade dos seus funcionários. O raciocínio é simples: para compensar um salário maior, a empresa precisa tornar o trabalhador mais eficiente.
Colhendo os frutos: Marcos Alves, da Mercedes-Benz, diz que 1,5 mil
funcionários foram treinados durante seis meses em 2012
Se alguém ainda tem dúvidas sobre o aperto do mercado de trabalho, é bom dar uma olhada nos números. A taxa média de desemprego deve cair de 5,5% em 2012 para 5,3% neste ano, o menor nível de todos os tempos, segundo a LCA Consultores. Esse índice pode ser interpretado praticamente como uma situação de pleno emprego. Para isso, cerca de 1,5 milhão de vagas formais serão criadas no País, até dezembro. “É um volume 50% maior que o registrado no ano passado”, diz Fabio Romão, economista da LCA. É, sem dúvida nenhuma, um prato cheio para os sindicatos de trabalhadores barganharem com os representantes patronais nos dissídios coletivos em posição de força. Ganhar produtividade, no entanto, está longe de ser um caminho natural no Brasil, num quadro como o relatado acima.
Executivos na sala de aula: a ernst & young terco investe R$ 60 milhões por ano
em sua universidade corporativa, informam Menegassi (à esq.) e Lourenzo
O País, ao contrário, vem regredindo nesse quesito nos últimos anos. Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a produtividade do trabalho, que tinha subido 4,7% entre 2001 e 2006, caiu 0,9% nos cinco anos seguintes. Essa retração coincide com o período de grande absorção pela indústria de mão de obra desqualificada, mas bem remunerada. “A ordem economicamente saudável seria a empresa aumentar a produtividade, o lucro e depois os salários”, diz Renato da Fonseca, gerente da área de pesquisa e competitividade da CNI. “O que assusta é que, no Brasil, os recentes reajustes salariais não estão refletindo nenhum ganho de produtividade.”
DESEMPENHO INFERIOR Nas últimas décadas, diversos países asiáticos adotaram simultaneamente duas estratégias para ganhar competitividade. Incorporaram equipamentos mais modernos e investiram na educação dos jovens. Os resultados são visíveis. Um ranking do instituto de pesquisa americano The Conference Board mostra que o trabalhador brasileiro apresenta um desempenho inferior ao dos seus principais vizinhos latinos, enquanto os chineses e indianos evoluem a passos largos (leia tabela "Competitividade no mundo"). No Brasil, a situação fica ainda mais preocupante quando se observa que a Formação Bruta de Capital Fixo, que inclui a compra de máquinas e equipamentos, vem caindo a cinco trimestres consecutivos, e os avanços na educação são tímidos.
Agora, diante de desonerações tributárias promovidas pelo governo, cabe às empresas aproveitar a folga de caixa para inovar e treinar os seus funcionários. “As empresas estão assimilando a ideia de que qualificar o seu quadro de colaboradores é essencial para a sua própria sobrevivência”, diz Alexandre Slivnik, vice-presidente da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), que promove anualmente uma pesquisa sobre o tema. A edição de 2013 mostra que as empresas vão aumentar em 15,3% o orçamento médio para treinamento e desenvolvimento em relação ao ano passado (leia dados na tabela "Qualificação corporativa"). É o caso da multinacional de auditoria e consultoria Ernst & Young Terco (EYT), que sente na pele o enorme aquecimento do mercado de trabalho.
Com quase cinco mil empregados no Brasil, em sua maior parte altamente qualificados, a empresa sofre constantes ataques da concorrência. “Nós perdemos mil funcionários por ano”, diz Jorge Menegassi, presidente da EYT, que investirá R$ 60 milhões em treinamento neste ano, o equivalente a 6% das receitas. “Nós treinamos mais do que precisamos, pois sabemos que uma parte vai para o mercado.” A empresa criou uma universidade corporativa, em maio de 2007, quando o tema escassez de mão de obra ainda não era debatido no Brasil. “Conforme vai sendo qualificado, o profissional fica mais eficiente e produtivo”, afirma Menegassi. “E isso se torna um fator de atração e retenção de talentos.” No dia a dia, a EYT consegue aferir os ganhos de produtividade. “Após os cursos, o funcionário passa a fazer o mesmo serviço em menos tempo”, diz Armando Lourenzo, diretor da Universidade Corporativa.
Desatando o nó: Milton Cardoso, da Abicalçados, diz que o setor ganhou
produtividade no ano passado porque as demissões
superaram a queda na produção
“A empresa reduz hora extra e ele ganha qualidade de vida.” Há ainda casos em que uma dificuldade econômica temporária impulsiona a busca por ganhos de produtividade. No ano passado, diante de uma queda de 40% na produção do setor, a fabricante de caminhões Mercedes-Benz utilizou a velha máxima de “plantar agora para colher depois”. Em vez de demitir – o que para muitos seria a solução mais racional –, a montadora optou por um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para qualificar 1,5 mil funcionários durante os seis meses em que as linhas de produção ficaram praticamente paradas. Agora, com o reaquecimento da economia, a companhia está retomando o segundo turno de produção com uma equipe totalmente qualificada.
“Passamos a ter centenas de funcionários-curinga, que estão capacitados a trabalhar em diversas funções”, diz Marcos Alves, diretor de recursos humanos da Mercedes-Benz. A indústria calçadista, por outro lado, viveu uma situação inusitada no ano passado. O setor só ficou mais competitivo porque as demissões – alta de 6% – superaram a queda da produção, de 3%. “Tivemos um aumento de produtividade por motivos negativos”, diz Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados). “O correto seria pelo crescimento da produção.” Enquanto se diz sufocado pela invasão de calçados do Oriente, o setor tenta fazer a lição de casa. “O nosso investimento em qualificação é constante”, afirma Cardoso, ciente de que os chineses seguem à risca a receita da produtividade.
Fonte:http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/109820_O+MILAGRE+DA+MULTIP...
Por Luís Artur NOGUEIRA
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