Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O Presidente não Pode Ceder Diante de um Conflito

Meses atrás fui chamada para fazer uma parceria com um colega, professor do Insead. O convite veio do presidente de uma multinacional. Após passar por uma relevante fusão, a empresa estava diante de um desafiador processo de mudança. Como não se realiza uma fusão mantendo o mesmo jeito de ser e de fazer, nosso trabalho seria dar apoio ao time dirigente na nova fase em nível de estratégia de negócio e de gestão.

A indústria vivia um momento competitivo particular, diferente do observado nos últimos anos. Para quem não estava mergulhado no setor, era "cristalino" que a mudança de patamar de preços não era transitória e tinha vindo para ficar. Assim, as premissas do modelo de negócio até então adotado na citada empresa estavam em xeque. Também era evidente seu subdesempenho satisfatório (conceito que criamos anos atrás para definir a empresa que não dá prejuízo, mas está longe de explorar o seu desempenho de forma ótima). Uma posição, portanto, muito perigosa.

Tivemos uma conversa lúcida e franca com o presidente. Era necessário que sua equipe de sete executivos estivesse, como costumo falar, "na mesma página" - pelo menos razoavelmente. Caso contrário, a chance de efetivar a transformação iria a zero. Todos se entusiasmaram com a proposta de trabalho. Ou melhor, quase todos: dois deles discordaram da necessidade de começar pelo próprio time diretivo. Mas era necessário manter a proposta. Afinal, não por acaso o gargalo está na parte de cima da garrafa.

O que teria levado os dois executivos a essa reação? Um deles parecia indignado, silenciosamente indignado. Seria porque não foi escolhido para a posição número 1? O outro, com estilo claramente autocrático, mostrava-se contrariado. Não queria ser questionado pelos seus próprios subordinados? Ambos talvez temessem os riscos de uma conversa aberta entre pares e com o chefe. As pessoas autoritárias, quando não estão em posição de comando, adotam normalmente o mesmo comportamento infantilizado que seus subordinados têm diante deles.

Tal relato faz pensar na importância do posicionamento do presidente em um momento desses. Equipes podem enfrentar situações de grande complexidade ou de conflito, seja pela diversidade de seus membros, seja por diferenças de agenda entre pessoas envolvidas em um mesmo projeto. Se não gerenciadas, essas situações podem levar as equipes a fazer concessões ou a entrar em colapso. E a atenção do presidente é indispensável nesses momentos.

Talvez o achado mais onipresente da gestão seja o fato de que seu sucesso depende da clareza do seu propósito estratégico e da sua articulação com a cultura da organização. Os propósitos têm de ser claros e compartilhados abertamente entre os líderes - e entre os líderes e seus liderados. Quando não se investe tempo nisso, não há o real comprometimento de todos com a mesma direção. Dessa forma, o risco de ocorrer o subdesempenho satisfatório é maior. Essa análise deve ser um dos pontos de orientação do presidente em suas tomadas de decisão.

E o que fez nosso presidente? Foi firme o suficiente para, mesmo com duas dissidências, iniciar o processo. Dirigir é ter coragem para, mesmo nesses momentos disruptivos, assumir os riscos de uma escolha.

Sempre haverá pessoas que, com inteligência, são contrárias à proposta apresentada. Cabe a você, presidente, decidir quando deve acolher ou não os "contras", pois há o risco de perder o 'timing' de fazer acontecer. Seu papel é gerenciar os conflitos, e não ceder a eles.

Meses depois, a decisão se mostrou correta: um dos discordantes voltou ao trilho compartilhando o propósito comum estabelecido por meio de um processo com o time (não apenas lidando com o racional, mas com o coração e a alma das pessoas). O outro foi substituído. Logo se observou que ele deveria ter sido substituído anos antes, pois impedia o florescimento de algumas condições necessárias para o desempenho empresarial excepcional. Portanto: coragem, senhores presidentes!

Betania Tanure é doutora e professora da PUC Minas e consultora da BTA

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