Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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“O progresso a qualquer preço” de jk aos dias de hoje

“A punições não podem paralisar a economia do país”, sentenciou o ministro da Justiça. Cardozo disse que a corrupção está “enraizada no comportamento das pessoas”. É o mesmo que também afiançam os advogados dos empreiteiros presos, “inocentes, já que são vítimas de nossos costumes políticos”. Pois bem, onde estes costumes se ampliaram exponencialmente? Sem dúvida, nos proclamas juscelinistas do desenvolvimento a qualquer preço, que custou o emparedamento das cidades, a destruição do meio ambiente, a falta de vivências nas ruas e, fundamentalmente, a quebra dos valores éticos. O símbolo-chave da época era a propaganda que mostrava as gigantescas árvores da Amazônia sendo derrubadas (como na foto de 1960) para a construção da Belém-Brasília “enfrentando a selva”, que redimiria e “salvaria” o país.

“A punições não podem paralisar a economia do país”, sentenciou o ministro da Justiça. Cardozo disse que a corrupção está “enraizada no comportamento das pessoas”. É o mesmo que afiançam os advogados dos empreiteiros já  que são “vítimas de nossos costumes políticos”. Onde estes costumes se ampliaram? Nos proclamas juscelinistas do desenvolvimento a qualquer preço, que custou o emparedamento das cidades, a destruição do meio ambiente e a o início da corrupção com empreiteiras. O símbolo-chave da época era a propaganda que mostrava as gigantescas árvores da Amazônia sendo derrubadas (como na foto de 1960, com JK sobre o tronco abatido) para a construção da Belém-Brasília, que redimiria e “salvaria” o país.

1. O governo de JK quis realizar os tais “50 anos em 5” aproveitando-se da euforia do nacionalismo getulista e impulsionando a esperança da população para a utopia da Nova Capital que, se trouxe certos louvores, cometeu o equívoco histórico de separar ainda mais os governantes de seus governados.

2. Se houve a expansão da indústria automobilística neste país que a tudodestrói impunemente, assistimos à derrocada de um dos mais eficientes e não-poluentes sistemas de transportes: o ferroviário. O Rio tinha cerca de 400 km de malhas urbanas de bondes, que foram… arrasadas.

3. Se houve criação de empregos na construção de estradas, foi à custa de um imenso êxodo de brasileiros que terminaram saindo das regiões Norte e Nordeste para engrossar sua condição de enjeitados em favelas ou periferias do “Sul Maravilha”. Se houve euforia no plano político, com a vivência de um clima de liberdade, não com menos liberdade e desenvoltura se triplicou nossa dívida externa e se alimentou a goela da corrupção por meio das grandes empreiteiras – praticamente as mesmas de hoje.

4. O Brasil entregou-se aos braços da sociedade de consumo, baseada no modelo norte-americano, mas sem apropriar-se do conceito de democracia deles: uma sociedade que permite o acesso de todos aos bens da educação e, em consequência, o crescimento social pelo mérito.

5. Aqui continuou a prevalecer, acima da norma impessoal que a todos trata indistintamente, uma nação de iguais “da boca para fora”, onde quem tem poder político ou econômico é mais “igual” que os outros e onde é raro ocorrer mobilidade social: quem está por cima fica mais por cima e enriquece ainda mais, numa crônica enfermidade de concentração de riqueza.

6. Os 50 anos de futuro que seriam encurtados em 5 também serviram para encurtar 50 anos de passado em 5; com isso, perdemos muito daquele entusiasmo de construção das bases institucionais da política e da cultura brasileiras que vinham sendo estruturadas nas décadas anteriores.

7. No plano interno, perdemos muito da suavidade com que nos aproximávamos uns dos outros, embora seja evidente que JK contribuiu para nossa inserção internacional; passamos a ser vistos como produtores de cultura, não apenas musical.

8. Um Brasil mais ameno foi deixado de lado, levados pela ganância e corrupção. Os valores que cultuávamos foram adormecidos, principalmente na formação educacional. Hoje, pouco temos na escola pública da narrativa do que somos no campo das artes, da música, da literatura.

9. O símbolo de governo JK era o novo no lugar de tudo quanto era “ferro velho”: a cidade antiga, os homens maduros, as ideias imediatamente tornadas antiquadas. Gilberto Freyre, em sua obra Ordem e Progresso, é quem já percebia essa tendência curiosa de nosso país: a de abandonar pelos cantos o passado – o que demonstra que nem tudo o mencionado é mera decorrência de Jk.

10. A verdade é que continuamos vítimas e reféns deste modelo cultural do “progresso a qualquer preço”— sintoma que se inoculou na memória do país, o que permite a um ministro da Justiça sugerir que, coitados!, os presidentes de empreiteiras (os mesmos que declararam só ter quatro reais e sete centavos em suas contas bancárias) devam ser tratados de forma diferenciada dos outros presos durante o processo… para não parar o país.      

http://veja.abril.com.br/blog/leonel-kaz/

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