Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O Vestir da Cor - Corantes Sintéticos no Brasil


O VESTIR DA COR  
O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE AS CORES
QUE NUTREM
A INSUSTENTÁVEL “DECÊNCIA” HUMANA

CORANTES SINTÉTICOS NO BRASIL

            A produção de corantes sintéticos no país supre 60% da sua demanda interna. Estas indústrias localizam-se no eixo Rio - São Paulo, dependem de derivados petroquímicos importados tais como: benzeno, naftaleno, tolueno - suas principais matérias-primas.
         Com clima tropical, a base de nossa indústria têxtil é o algodão, representa 70% do total de fibras industrializadas no país. O consumo de fibra têxtil per capita no Brasil é estimado em 7,0 kg de algodão por ano, por habitante, sendo ligeiramente maior do que a média mundial.
      No Brasil os corantes sintéticos representam um consumo per capita (por habitante) de aproximadamente 350 gramas de corantes por ano.
Nos últimos anos as importações oriundas da China e Índia, demonstra um aumento anual de 40%, devido a grande demanda interna por corantes ácidos (cerca de 8% da demanda mundial) e corantes reativos (6% do consumo mundial) utilizados para tingir couro e algodão, respectivamente. Tendência que aumenta os riscos ao meio ambiente e a saúde no Brasil, pois nestes países citados não existe legislação quanto a proibição de substâncias tóxicas, e muitos dos corantes que são proibidos na Europa, entram no Brasil sem nenhum controle.
De difícil fiscalização, o comércio quando feito por importadoras (não produtoras), pulverizam a sua utilização, uma vez que grande percentual das tinturarias, lavanderias e outras empresas compradoras, são pequenas empresas. E a grande maioria destas, não possuem tratamento adequado de efluentes.
EFLUENTES COLORIDOS

 A indústria têxtil mundial, anualmente descarta de 40.000 a 50.000 toneladas de corante em seus efluentes, e mais de 200 mil toneladas de sal que também são utilizado nos processos de tingimento. Assim, com aumento do uso desta grande variedade de tinturas, a poluição por corantes químicos em águas residuais está se tornando cada vez mais alarmante.
O desenvolvimento de tecnologia para tratamento de efluentes tem aumentado nos últimos anos devido a rigidez das regras ambientais. As principais técnicas para descoloração das águas residuais são adsorção, precipitação, degradação química, eletroquímica, fotoquímica e biodegradação, esta que é muito promissora para o tratamento de efluentes.
Entretanto os corantes sintéticos são xenobióticos (sob condições aeróbicas (presença de ar), microorganismos de rios e lagos não possuem enzimas específicas para degradação destes corantes, e sob condições anaeróbicas a degradação do corante se processa muito lentamente, podendo levar décadas. É importante salientar que, qualquer um dos métodos de tratamento para degradação de corantes será muito mais efetivo, mais fácil e mais barato se realizado na estação de tratamento da indústria, antes de atingir os rios e lagoas.O tratamento de efluentes na indústria têxtil requer investimentos de longo prazo, grandes áreas de construção e custo elevado.          
O lançamento sem controle destes efluentes interfere na absorção da luz e oxigênio pelos vegetais e animais aquáticos, com grande potencial de bioacumulação e ao serem transportados até estações de tratamento de águas para abastecimento, contaminam os mananciais e a água distribuída à população.
Mesmo quando ocorre o tratamento dos efluentes ainda nas dependências das indústrias em suas ETE’s (Estação de Tratamento de Efluentes), esta gera como sub-produto o Lodo industrial (lama tóxica) - E segundo legislação dos órgãos ambientais vigentes, este deve ser destinado para aterros industriais específicos, mas a toxicidade deste lodo permanece - contendo compostos de formulações químicas complexas, que são muito tóxicos para nós – humanos. 
São encontrados nestes lodos industriais entre outros contaminantes: metais pesados (chumbo, mercúrio, cromo, zinco, cobalto e cobre), derivados de benzeno e formaldeído.
A água que ainda contém traços de corante, é despejada nos rios, mas persiste o problema. Infelizmente o Planeta Terra não tem válvula de descarga, e milhões de toneladas de lodo industrial estão sendo destinados para aterros industriais.

Outro destino são os incineradores, mas a queima resulta no desprendimento de inúmeros compostos tóxicos na atmosfera, como as dioxinas, substâncias cancerígenas que apresentam alto potencial desregulador hormonal, também produzidas pela queima de lixo plástico, pneus, solventes ou defensivos agrícolas.        
Corantes Sintéticos em Produtos Têxteis com Certificado Orgânico
            Ao tingir têxteis produzidos com Algodão Orgânico, nos deparamos com normas adotadas por certificadoras privadas, como as novas normas GOTS - Global Organic Textile Standard e a Oeko-Tex, estas estabelecem parâmetros que restringem o uso de diversos tipos de produtos químicos em produtos têxteis certificados.
            Por exemplo, as normas GOTS proíbem o uso de apenas uma classe de corantes Azo (aqueles que liberam aminas cancerígenas) e restringem o uso de corantes dispersos utilizados para o tingimento de poliéster (que deve ser <30 mg/kg de têxtil); restringem o uso de metais pesados (como o cromo, cobalto, cobre, níquel, mercúrio, antimônio, chumbo e arsênio), todos com parâmetros com seus níveis de restrição específicos (mas não proibidos, como muitos acreditam).  
     Assim, o tipo de corante sintético utilizado, pode significar muito quando avaliado o quanto uma peça de vestuário colorida permanece com sua integridade orgânica. E nas lojas, será muito difícil obter a informação completa dos corantes e produtos auxiliares utilizados para tingir a “roupa orgânica” que você está levando para casa.
            Nestas normas, além da composição do corante, existem requisitos que devem ser respeitados sobre a toxicidade oral destes compostos, toxicidade aquática,  biodegradabilidade, eliminação versus bioacumulação (absorção permanente por órgãos e tecidos vivos). Informações GOTS  http://www.organic-textile-services.com/download/gots-portugiesisch....
            Após a divulgação destas normas, alguns fabricantes de corantes sintéticos passaram a divulgar lista de produtos (corantes e auxiliares) que atendem a esses parâmetros estabelecidos, mas quando consultamos estas Certificadoras Privadas para saber qual foi o laboratório que realizou estas análises, a resposta é que estes laudos de aprovação dos corantes sintéticos e auxiliares para uso em algodão orgânico, foram realizados pelos próprios fabricantes dos corantes sintéticos.
Infelizmente, estas Certificadoras Privadas, com o objetivo de defenderem seus interesses, e aumentar o número de clientes no setor têxtil, crescendo assim seu faturamento, cederam espaço aprovando o uso destes compostos sintéticos para o tingimento de têxteis orgânicos. Mas em um futuro muito próximo, estas normas precisarão ser revistas.

Considerações finais

            É urgente e de extrema importância a conscientização dos fabricantes e usuários em esclarecer os riscos que estes compostos tóxicos e poluentes causam a população. O incentivo à pesquisa é primordial no desenvolvimento de novos corantes capazes de atender às necessidades de proteção aos seres humanos e ao meio-ambiente.
            Atitudes importantes para atender a estas necessidades seriam:
ñAprimorar a capacidade de fixação do corante à fibra, o que gera uma maior taxa de esgotamento e reduz a quantidade de corante no processo, diminuindo seu custo e certamente resultando na melhoria da qualidade dos efluentes.
ñAtacar o problema na fonte, ao realizar o tratamento de efluentes ainda nas dependências das indústrias, pode reduzir custos e riscos ambientais ao compararmos os gastos com tratamentos posteriores para remoção destes compostos em baixo nível de concentração e na presença de inúmeros outros interferentes.
ñRever a relação custo/benefício destes processos e o desenvolvimento de novas técnicas capazes de efetiva remoção destes corantes. Torná-las eficazes e economicamente viáveis por meio da legislação. Enquanto não houverem leis extremamente rígidas, como uma lei de incentivo ou isenção fiscal para empresas que visam impacto ambiental zero, nada mudará neste contexto.
Ao revermos as formas de avaliar e calcular esta relação custo-benefício, identificando novos indicadores de sustentabilidade (sociais e ambientais), como:
- Redução da Pressão Ambiental exercida pela Empresa;
- Melhoria da Qualidade Ambiental resultante das ações adotadas pela Empresa;
- Resposta Positiva dos Clientes e da Sociedade;
Porque, a media prazo, insistir com o uso de compostos químicos que contaminam nossos recursos naturais, como a água (bem mais precioso do planeta), tem um custo altíssimo e irreversível.
Quando houver maior consciência, mobilização e atitude da população, junto aos interesses políticos e econômicos, ao proibir a produção dos corantes nocivos e tóxicos, abrimos espaço ao uso de corantes naturais, o que já vem ocorrendo na indústria alimentícia a nível mundial.
            A Etno Botânica vem pesquisando novas formas no cultivo de plantas tintoriais e desenvolve tecnologias inovadoras na produção destes corantes de origem vegetal e nos diversos tipos de aplicação (indústria cosmética, couro, papel, plásticos de origem vegetal e etc.).
            Ainda que de forma modesta, os corantes naturais estão gradativamente ganhando espaço no mundo da moda, o que me deixa bastante otimista. Provavelmente a solução para a toxidez destes compostos sintéticos, seja uma combinação de maiores investimentos em pesquisa na produção de corantes mais responsáveis e no desenvolvimento sustentável, com foco no retorno dos corantes naturais.
 
Eber Lopes Ferreira  - Nov/2011

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Comentário de Julio Caetano H. B. C. em 13 fevereiro 2012 às 14:24

Importante tema a ser incluido em evento da ABTT na forma de Painel.

Comentário de ETNO BOTÂNICA em 13 fevereiro 2012 às 13:54

Boa tarde Silvia Borges,...quando respondi a sua questão: "Como se dá a fixação do corante à fibra," com a informação das aulas que realizamos aqui no Atelie Etno Botãnica, não foi cok a intenção de realizar um comercial informativo, desculpe-me se "te pareceu assim", mas a fixação dos extratos e pimentos junto á qualquer tipo de fibra, deve-se aos  mordentes e outros auxiliares de tingimentos como o Nature Etno Fix PCA, que ao longo de anos viemos a desenvolver. A Etno Botânica é uma empresa que além de 20 anos de pesquisa desenvolvida sobre corantes naturais, possui linha completa de auxiliares biodegradáveis, todos resultados destas pesquisas.O assunto "Fixação" é bastante complexo, pois depende do tipo de planta e tipo de fibra( Extratos, pigmentos e fixadores dependem do tipo de fibra que será tingida: Fibra animal/ fibra vegetal/ sintética.Não conseguiria te detalhar fibra a fibra, ou corante a corante, pois seria um assunto bastante complexo.Existe o livro "Corantes Naturais da Flora Brasileira - Guia Prático de Tingimentos com Plantas, Autor: Eber Lopes Ferreira", onde se encontra além da parte teórica, receitas de tingimentos, e infelizmente é uma das poucas obras que trata do assunto de forma simples e prática.

Sr Fernando Antônio Lima!! Falei com o Eber sobre seu post e ele pediu para te dizer que "desde então" avançamos bastante nas pesquisas.O foco do ATELIE ETNO BOTÂNICA é a Cor de Origem Vegetal, cor como substância, passível de ser utilizada para colorir os mais diferentes materiais, nos diferentes estados da matéria. 

Trabalhamos na Pesquisa de nossas fontes (plantas tintoriais nativas do Brasil), como também em diferentes processos e técnicas de sua extração, manipulação e aplicação. Nosso processo se desenvolve por toda cadeia produtiva de cada uma das matérias-primas, seja ela cultivada ou obtida a partir de fontes renováveis tendo como base as normas e critérios de manejo florestal. 

É em conjunto à cooperativas e associações de pequenos agricultores que habitam o Cerrado, a Amazônia e o Sertão Brasileiro, que realizamos este trabalho, ou seja, adotamos a agricultura familiar como base de sustentação de toda a produção de nossas matérias-primas, sejam elas fibras têxteis ou corantes de origem vegetal. 

Junto a estas cooperativas também fomentamos o cultivo de algodão orgânico e outras fibras de origem vegetal. Cuidamos da industrialização deste algodão e oferecemos fios, tecidos e malhas para os nossos clientes no segmento têxtil. 

O algodão orgânico e as matérias-primas utilizadas na produção de corantes vegetais são “cultivados e colhidos a mão”, isto é, produzidos em escala humana, por dezenas de pequenas propriedades rurais em diversas regiões do Brasil. 

É a partir deste processo, cuidadosamente desenvolvido após anos de pesquisa e desenvolvimento que propomos um pensamento destes conceitos sustentáveis, tendo como ponto de partida as cores e trazendo para o mercado produtos como algodão orgânico, corantes, extratos, pigmentos e auxiliares obtidos por um processo inovador que reúne responsabilidade social, respeito ao meio ambiente e inovação tecnológica.

Deixo aqui nosso contato para quaisquer dúvidas: corantesnaturais@gmail.com e visite www.etno-botanica.com, onde poderá perceber um pouco da "evolução"!!!

Obrigada Silvia Borges e Fernando Antonio Lima!!

Alexsandra de Oliveira

Atelier Etno Botânica 

Comentário de Fernando Antonio Lima em 13 fevereiro 2012 às 13:05

O Eber é um pesquisador e conhecedor dos corantes naturais e o conhecí alguns anos atrás quando tentamos tingir em escala industial tecidos com corantes naturais. Sobre o assunto coloco aquí minhas observações:

1 - mordentes são necessários para a fixação dos corantes às fibras.

2-  uso de mordentes geralmente produzirá cores melhores, mais vívidas e mais permanentes. Muitos produtos químicos podem ser usados como mordentes, dos quais a maioria são tóxicos: os mordentes mais comuns são o alume, sulfato de cobre, dicromato de potássio, sulfato ferroso e tanino. 

3 - a solidez à luz da grande maioria é muito baixa, portanto de uso muito limitado. Na escala de solidez a luz, que mandamos analisar no Cetiqt  o máximo que conseguimos foi 1 a 2, quando um tingimento reativo varia de 4 a 5 e os tina 6 a 7.

Portanto muito caminho ainda se tem que percorrer para considerar os corantes naturais como ecologicamente corretos e não tóxicos pelo menos na indústria têxtil.


Comentário de silvia borges em 13 fevereiro 2012 às 11:53

Esse artigo é muito interessante e esclarecedor, principalmente para nós que não trabalhamos diretamente com a fabricação dos tecidos.

Sei que pigmento e tintura são 2 produtos totalmente diferentes. O pigmento não se dissolve na água ou no óleo, e portanto não é absorvido pelas células, precisando receber alguma forma de fixação. Alguns produtos, para serem absorvidos precisam ser reduzidos (sem oxigênio) fora do alcance "caseiro".

Vale ressaltar que corantes artificiais também são usados na fabricação de comida de cachorro, vinho, carnes, tinturas de cabelos, tinta, molhos, etc. por isso o aspécto ecológico é bem sério.

Houve 1 outro artigo publicado sobre corantes naturais, há poucos dias atrás. Ao terminar minha leitura, escrevi uma pergunta suscinta e direta:

"Como se dá a fixação do corante à fibra, no caso, estava perguntando sobre fixação de corantes naturais?"

Aguardei uma resposta positiva mas recebi um retorno basicamente dizendo que se eu quisesse aprender sobre o assunto, teria que fazer um curso em São Paulo: mais um desses "comerciais informativos". Pensei que houvesse 1 livro publicado em Português sobre coloração de material com base em tintura natural.

Sei que os processos complexos de pigmentação artificial seriam melhor estudados num curso universitário de pós-graduação em química. Não é isso que me interessava. Só queria ver se alguém consegue ir mais adiante na formulação de uma alternativa.

Quanto ao assunto, a Enciclopédia Britânica diz:

Any of a class of intensely coloured complex organic compounds used to colour textiles, leather, paper, and other materials. Dyes known to the ancients came from plants such as indigo and madder (see madder family) or from the shells of mollusks; today most dyes are made from coal tar and petrochemicals. The chemical structure of dyes is relatively easy to modify, so many new colours and types of dyes have been synthesized. Dye molecules are deposited from solution onto materials in such a way that they cannot be removed by the original solvent. Fibre-reactive dyes form a covalent bond with the fibre. Other dyes require prior application of a mordant, an inorganic material that causes the dye to precipitate as an insoluble salt. Another technique is vat dyeing, in which a soluble colourless compound is absorbed by the fibres, then oxidized (see oxidation-reduction) to the insoluble coloured compound, making it remarkably resistant to the fading effects of washing, light, and chemicals. See also azo dye.

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