Vejam esta imagem.
É detalhe de uma foto publicada na edição da VEJA desta semana, datada de 2004. O rapaz à direita é o hoje deputado federal pelo PMDB Gabriel Chalita ainda antes da malhação. O da esquerda é Roberto Grobman. Os dois estão em Étretat, na França. O ex-amigo do peito de Chalita é agora o seu principal algoz. O depoimento que prestou ao Ministério Público é demolidor para o deputado. Candidato até havia pouco a um lugar no ministério de Dilma, homem do vice-presidente Michel Temer em São Paulo, considerado uma estrela ascendente da política, Chalita viu sua reputação desmoronar. Na quinta, informa VEJA desta semana, ele se reuniu com seus assessores e admitiu: “Eu estou acabado”. Leiam trechos da reportagem de Leonardo Coutinho. Volto depois.
(…)
Roberto Grobman, o ex-assessor, contou aos promotores que se aproximou de Chalita em 2004, quando ele era secretário da Educação de São Paulo. Fez isso por determinação do empresário Chaim Zaher, que era dono do Sistema COC de Ensino e teria interesse em conseguir contratos com o governo. Grobman diz que Zaher lhe pagava um salário para que ele atuasse na secretaria. “O Zaher queria ter uma pessoa dele lá dentro para que pudesse vender os seus produtos. Queria ser favorecido, obviamente.” Ficou, assim, estabelecida a bizarra situação em que Grobman, empregado pago por uma empresa privada, dava expediente numa secretaria de governo, com direito a cartão de visita timbrado e o título de “assessor de gabinete”.
Nessa condição, ele se tornou íntimo do então secretário, com quem viajou para diversos países (“O Chalita disse que gostou de mim e eu virei seu acompanhante de viagens”). Mas nem essa proximidade com o titular da pasta nem as supostas vantagens que o COC teria ofertado a Chalita — entre elas o pagamento de parte da reforma de um dos seus apartamentos, fato que Zaher nega — resultaram em algum negócio para o grupo. Diz Grobman: “O Chalita deixava o Zaher sempre no fim da fila. Dizia que tinha acordos mais importantes”.
Grobman permaneceu como assessor informal de Chalita por dois anos. Nesse período, disse ao Ministério Público, assistiu a reuniões em que ele combinava como seriam feitas as cobranças de propina a fornecedores da secretaria, como a Zinwell, uma empresa de origem chinesa contratada para fornecer por 5 milhões de reais 5000 antenas parabólicas para escolas. A “taxa”, de 25%, era entregue diretamente a Chalita em seu apartamento em Higienópolis. Segundo Grobman, o ex-secretário chamava o dinheiro de “Vanderlei”. “Quando tocava o interfone, ele gritava, eufórico: ‘Oba, chegou o Vanderlei!’. Só mais tarde descobri que Vanderlei não era uma pessoa. Como ele dizia que mandava a sua parte para uma conta bancária em Luxemburgo, fazia graça com o nome do técnico de futebol”, diz. Grobman contou ao MP que, por diversas vezes, viu Chalita distribuir o dinheiro que recebia. “Ele derramava as notas no chão do closet. Arrancava as tiras dos maços e jogava em cima dos assessores, imitando o Silvio Santos: ‘Quem quer dinheiro?!!’.”
(…)
Voltei
Leia a íntegra na edição impressa. Em nota, Chalita nega as acusações, diz ser vítima de uma disputa política e afirma que Grobman nunca foi seu assessor. Pois é… Conforme narra a reportagem de VEJA, o agora desafeto tinha e-mail funcional e cartão de visita — como assessor de gabinete de Chalita — e apareceu em prospectos da Unesco como representante da Secretaria da Educação em evento ocorrido na França, em 2004.
Foi lá que os dois, no intervalo dos extenuantes trabalhos, posaram para aquela foto, na belíssima praia de Étretat, na Normandia, com suas falésias que despencam no mar, celebrizadas em vários quadros de Claude Monet, como este abaixo, em que aparece a mais famosa delas, a Falaise d’Aval, que Maupassant associou a um elefante molhando a tromba no mar. Soubesse disso à época, Chalita teria escrito uns 37 livros só sobre a metáfora de Maupassant.
Que se apure tudo, até o fim.
Por Reinaldo Azevedo
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