Disputa por cargos executivos deve se acirrar no Brasil com a chegada de profissionais que deixam o mar revolto da Europa em busca da promessa de uma marolinha.
Se em outros tempos os europeus foram atraídos ao Brasil na busca por terras baratas e férteis, o início do século XXI tem registrado outro motivo para a migração. Sabendo que o país consolidou sua economia e trafega com alguma tranquilidade em meio à crise mundial, desta vez os europeus – principalmente os ibéricos – estão enviando a terras tupiniquins o que tem de mais especializado: profissionais liberais ou que atuam em setores como tecnologia da informação.
“Existem poucos dados sobre isso porque esse tipo de processo é difícil de mensurar em um plano estatístico no curto prazo. Mas já há registro de fluxo importante de europeus, principalmente portugueses e espanhóis – fenômeno muito ligado à crise”, explica Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em geografia humana e pesquisador do Grupo de Análises de Conjuntura Internacional (GACINT), da USP.
O que pode parecer péssimo para o país e seus trabalhadores é, na ótica de Magnoli, uma boa notícia. “É uma oportunidade. O país deveria estimular esses fluxos. A competição é boa, precisamos expandir o setor de serviços e internacionalizar a indústria. Infelizmente, não é esse setor que tem puxado a economia brasileira”, lamenta.
Para Magnoli, a expansão deve estar baseada na competição entre empresas e trabalhadores. Além disso, trata-se de uma chance histórica de criar redes de negócios, já que os profissionais estrangeiros trazem consigo as relações construídas em seus respectivos países.
Os europeus, sustenta Magnoli, não vencerão facilmente a competição com brasileiros pelos melhores postos de trabalho. O sociólogo enfatiza que o Brasil, embora careça de escolas de alta qualidade, possui uma elite de estabelecimentos de excelência - tanto na educação básica, quanto no ensino superior. Portanto, há profissionais de alta qualificação nos mais diversos setores. “Embora sejam em número insuficiente, temos excelentes escolas em todos os níveis de ensino, públicas e privadas”, sustenta.
Olhando para o conjunto do sistema educacional, no entanto,Magnoli reconhece que o país precisa avançar, e muito. “Classificações internacionais colocam o Brasil em posições muito baixas no ensino de matemática, ciências, no que você quiser. Deveria ser uma prioridade nacional uma revolução no ensino público. Mas isso na verdade, apesar das proclamações, não está no radar de prioridades do governo”, lamenta.
A crise e o movimento da mão de obra
É inegável que a crise econômica redesenha por completo o panorama mundial. Segundo Magnoli, a tendência é de uma inversão nos fluxos de comércio entre Estados Unidos e China. Ou seja, mais consumo na China e menos nos Estados Unidos. “Dito assim, parece simples, coisa que se resolve numa equação de economista. Mas, na verdade, implica transformações políticas profundas nos dois países – ainda mais perigosas na China porque tem um sistema político muito mais inflexível”, analisa.
De outro lado surge a crise do euro, desenvolvida a partir de uma visão deflacionária, imposta pela Alemanha, e que implica em anos de recessão e deflação nos países endividados da Europa. É essa postura que empurra os profissionais europeus ao outro lado do Atlântico, na busca por uma economia mais estável.
“A consequência é um tensionamento extremo dos sistemas políticos e a virtual destruição de alguns deles, como já se observa na Grécia. Também há fenômenos como a ascensão dos separatismos regionais, como Catalunha e Pais Basco, na Espanha, e logo, logo na Escócia – em proporção menor, mas importante. São reflexos dessa opção pela recessão que a Europa está fazendo”, alerta Magnoli.
No entanto, o sociólogo acredita que o longo ciclo de crescimento da economia mundial entre 2000 e 2008, baseado no crédito e na dívida – modelo que impulsionou a economia brasileira para a frente – está encerrado. Prova disso é o baixo crescimento do PIB. “Daqui pra frente depende muito de decisões políticas. Se os chineses decidirem acelerar ou desacelerar o processo de valorização da moeda, isso implicará uma série de reformas. Eleições dos Estados Unidos também influenciarão”, acredita.
Em qualquer cenário, o problema do Brasil é que o crescimento com base principalmente na exportação de commodities, grande válvula de escape da economia do país na ultima década, se esgotou. A atividade continua sendo importante, mas não terá mais a capacidade de puxar a economia brasileira como um todo – o que de fato aconteceu na última década.
Ao mesmo tempo, a possibilidade de crescimento com base no crédito oferecido pelo Estado a empresas e consumidores também esta superada.O Estado não tem mais condições de continuar produzindo crédito no ritmo que já produziu, principalmente no período pós-2009.
“A economia brasileira está em uma encruzilhada e não parece ter a solução, ainda. O país precisa de incentivos que não serão ofertados pelo Estado ou estatais no volume de que a economia brasileira precisa. Desde a ascensão de Lula se cometeram vários erros, como a montagem de um sistema de capitalismo de Estado, quando as estatais e o crédito público se transformaram em locomotivas fundamentais da economia. A principal locomotiva da economia teria que ser o investimento privado”, pondera Magnoli.
Por já ter percebido este cenário, o governo brasileiro criou pacotes de concessões e abertura de parcerias público-privadas – uma decisão que Magnoli observa com ceticismo. “Isso até contraria a doutrina do governo, que acredita no capitalismo de Estado. Vejo aí um problema sério: o governo brasileiro não quer abrir mão da sua prioridade – a ação estatal – mas ao mesmo tempo percebe que isso não resolve o problema. Portanto, apela para concessões, privatizações... Mas de maneira lenta, inconstante e vacilante”, opina.
A alternativa, segundo o sociólogo, é estimular o investimento privado e reduzir o papel do estado e das estatais no impulso econômico. “No fundo o governo está dizendo que quer fazer isso, pois percebeu os limites da sua própria política. Mas há guerra inclusive dentro do governo entre os que querem e os que não admitem essa reorientação”, lamenta. Demétrio Magnoli palestrou sobre o atual cenário político-econômico mundial e seus impactos no Brasil, no último dia 20, durante seminário do Institutos de Estudos Empresariais, em Garopaba (SC).
Fonte:http://www.amanha.com.br/home-internas/3840-os-europeus-estao-chegando
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