Quem nunca ouviu falar assim: “aquele cara de vendas é um Zé Ruela!”, “… e daí vem um Zé Ruela e mata todo o processo…”, “o cara que foi
contratado é um Zé Ruela”. Afinal de contas, quem é esse tal personagem
tão comentado nas rodinhas de funcionários?
Homônimos a parte, geralmente o tal Zé Ruela é um indivíduo sem atitude, com baixa capacidade de resolução de problemas, avesso ao
envolvimento com tarefas que exijam responsabilidade; descompromissado
ao extremo, faz parte do coro dos descontentes e dificilmente adota uma
postura proativa, preferindo deixar como está para ver como é que fica.
Resumindo: é alguém ordinário, sem importância, que está ali só por
estar e mais atrapalha do que ajuda.
Se o funcionamento de uma empresa pode ser comparado a um motor e se as pessoas forem as engrenagens, o Zé Ruela é a engrenagem na qual
faltam dentes. Não dá para contar com ele, porque foge do trabalho tal
como os vampiros do alho (se bem dizem que o alho retarda o
envelhecimento, e histórias de vampiros são mofadas de tão velhinhas).
Ficar um pouco a mais na empresa depois do expediente? Nunca! O Zé Ruela é o primeiro a arranjar compromissos fajutos para não poder
esticar o horário. Treinamentos no final de semana, mesmo que sejam
esporádicos? Nem pensar! O Zé Ruela acha que ele é a única pessoa que
tem “outras coisas para fazer” aos sábados e domingos; o restante do
pessoal que se dane. Ajudar a organizar o ambiente de trabalho
(sala/departamento)? De jeito nenhum, pois o Zé Ruela entende que
ambiente de trabalho é apenas o seu “quadrado”, e vive como se estivesse
em uma ilha, sem se preocupar com o que acontece na baia ao lado. Nunca
critique um Zé Ruela, mesmo em uma conversa particular, tête-à-tête,
pois ele é incapaz de enxergar os próprios erros e certamente vai sair
comentando pelos corredores que está sendo perseguido, que a coisa é
pessoal, e por aí vai.
Naquelas conversas atravessadas que geram bate-bocas e discussões, pode ter certeza de que tudo surgiu por causa de um Zé Ruela que não
tinha o que fazer e resolveu ocupar-se com a vida alheia. Zé Ruela que é
Zé Ruela gosta de ver o circo pegar fogo, e passa adiante informações
não confirmadas (da temida RP – Rádio Peão) e fica atrás da moita só
assistindo de camarote.
O Zé Ruela não costuma ser convidado para nada, e quando o é, sempre reclama de tudo: da comida, da bebida, dos prêmios, do horário. É
impossível agradá-lo, mesmo fazendo o que ele quer e o que pede.
Ah, o chefe advertiu o Zé Ruela em virtude de alguma atitude imprópria ou falha em procedimentos? Com certeza ele vai se defender
mais ou menos assim: “eu fiz porque aqui todo mundo faz”, ou talvez “a
empresa devia se preocupar com que faz tal coisa e tal coisa”, ou ainda
“é, mas o fulano fez isso, isso e isso, e ninguém falou nada para ele”.
Costuma achar que é o bode expiatório da empresa sem, no entanto,
explicar por qual motivo. Assim, figuras tão insignificantes conseguem
tornar-se o centro das atenções de uma hora para outra, e não porque
cresceram em eficácia, mas porque suas burradas ficaram ainda mais
aparentes e destoaram significativamente dos demais colegas de trabalho.
O Zé Ruela sossegadamente tira o pão da boca de quem trabalha direito, e nem fica com remorso. Age como se só a sua barriga roncasse
de fome, como se fosse o único que sente frio por falta de agasalho e
pensa sinceramente que a empresa deve bancar seus caprichos porque, já
que foi selecionado para trabalhar ali, provavelmente deve ser o melhor
profissional do mercado, um verdadeiro achado. Os headhunters das
grandes corporações estavam dormindo no ponto e nem leram o currículo do
sujeito.Ainda bem!
Nas empresas onde existe de fato a cooperação e o trabalho em equipe, todos têm consciência das necessidades uns dos outros e dividem tarefas
sem maiores problemas: não há incômodo em trocar o toner da impressora,
ninguém fica estressado por ter que ir ao almoxarifado pegar um pacote
de papéis para a impressora e tampouco se for para fazer café para a
turma – ou simplesmente pegar a garrafa na copa. Em compensação, nos
locais onde o “zérruelismo” é prática corrente, será praxe sortear quem
fará cada coisa porque muitos querem usufruir, porém pouquíssimos têm
boa vontade; quando o azarado do Zé Ruela é incumbido de alguma tarefa,
fica de cara feia, sai chutando cadeiras e portas, faz tudo com má
vontade (quando faz), reclama o tempo todo e ameaça superiores com
pedidos de demissão, entre outras atitudes impensadas e imbecis.
E quando o infeliz perde o emprego, então? A culpa é da chefia, do RH, da diretoria, do sindicato, do Presidente da República, do Conselho
de Segurança da ONU… menos dele, que sempre é o injustiçado da história.
Coitadinho do Zé Ruela, esse bichinho tão inofensivo!
Mas por que o Zé Ruela ainda existe? Simples: é porque algumas características dele são culturais, estão arraigadas e surgem em seu
processo de formação. Elas vêm das primeiras lições sobre cidadania e
comportamento. O Zé Ruela é moldado ainda pequenino, quando ainda está
“verde”. Você certamente já ouviu aquela frase “pau que nasce torto…”?
Pois é, acredito que ninguém nasce torto, mas pode vir a crescer torto
por causa do terreno em que foi plantado. Salvo algumas raríssimas
exceções, pessoas sem berço – isto é, bom caráter, disciplina, ética,
civilidade, respeito, hombridade e afins – gerarão uma crescente legião
de Zés Ruelas que fatalmente ocuparão os mais variados postos de
trabalho e as mais diversas ocupações. Se bem que falar em “ocupações”
nesse caso é mera licença poética, já que o Zé Ruela é um desocupado
contumaz, desconectado da realidade. Em outras palavras, é um peso
morto.
O Zé Ruela tem necessidade de atenção e faz de tudo para consegui-la. Um exemplo: há alguns anos conheci um rapaz que fazia questão de dar
prejuízo na execução de suas tarefas, somente para mostrar ao supervisor
de produção que ele ainda estava por ali: era prevaricador, fanfarrão,
arruaceiro e arrogante; um profissional experiente, porém sem nenhum
escrúpulo. E sabem o que era pior nisso tudo? O cara conseguiu um cargo
de liderança!
Uma catástrofe, sem sombra de dúvida. Na época surgiu burburinho
incessante: quem era mais Zé Ruela, o dito cujo ou quem o promoveu? Que
motivos havia para beneficiar alguém com tais (des)qualificações?
Hoje meditando sobre os fatos da época, consigo visualizar uma única explicação: o Zé Ruela era bajulador e o Zé Ruela-mor (leia-se, o
superior dele) padecia de um mal chamado “estrelismo”: ele gostava de
ser paparicado e de saber que tinha alguém na empresa como fiel seguidor
e “cão de guarda”.
Juntou-se ali a fome com a vontade de comer e deu no que deu. Muita gente boa, inconformada com o absurdo, simplesmente resolveu ir cantar
em outra freguesia, abandonando aquele navio fantasma infestado de
ratos. Perda para aquela empresa, que resolveu apostar em certas
soluções organizacionais de (duvidoso) baixo custo operacional e
simplesmente naufragou, sendo comprada por seu principal concorrente.
O Zé Ruela é um cancro corporativo, responsável por boa parte das dores de cabeças dos gestores. Como a tendência desse corpo estranho é
alastrar-se e contaminar estruturas adjacentes, ele acaba arregimentando
simpatizantes por onde passa; alguém que já não andava muito satisfeito
com a própria situação e acaba se deixando influenciar por um Zé Ruela,
torna-se tão ou até mais impertinente do que o original. Vive como o
piolho: andando pela cabeça dos outros.
Se você percebeu que às vezes sente vontade de praticar quaisquer desses atos, tome cuidado! A “zérruelice” é uma doença grave que
fatalmente vai custar seu emprego e também pode acabar com sua carreira e
futuras aspirações profissionais/pessoais/sociais, já que ninguém vai
querer mais um chupim barulhento para sustentar.
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