Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Peso do Salário 'Sobe' Com Produtividade Baixa

Após acompanhar a evolução dos salários entre 2004 e 2007, a produtividade do trabalho na indústria de transformação passou a perder feio essa corrida nos quatro anos seguintes. Entre 2008 e 2011, o salário médio real cresceu 12,4%, enquanto a produtividade avançou apenas 4,7%, em cálculos que cruzam a pesquisa industrial e a de salários na indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de crescente, a alta dos salários em reais e em dólar, especialmente, traz preocupações ao setor industrial. Como eles estão longe de ser os mais altos do mundo, essa conta tem sugerido, para vários analistas, que o problema está mais na eficiência, do que no nível do rendimento.

Coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor da USP, Naercio de Menezes Filho é um dos que veem na baixa produtividade do trabalhador um dos problemas que atrapalham a competitividade da indústria. Para ele, os aumentos de salários em reais não têm sido muito salgados. Em dólares, porém, a conta aumenta. De 2005 a 2011, por exemplo, a folha de salários da indústria aumentou 57% em dólares, já descontando os ganhos de produtividade, segundo a MB Associados.

A comparação internacional mostra que, mesmo com o avanço expressivo em dólares, o custo da mão de obra industrial brasileira não é dos mais elevados. Em 2010, estava em pouco mais de US$ 10 a hora, segundo números do Departamento de Trabalho dos EUA. É superior ao de emergentes como México (US$ 6,23) e China (US$ 1,36 em 2008, um dado não totalmente comparável), mas inferior ao de países como EUA (US$ 34,74) e mesmo Coreia do Sul (US$ 16,62).

Menezes Filho diz que a produtividade do trabalho no Brasil tem crescido pouco. De 2005 a 2010, subiu 2,2% ao ano por aqui, abaixo dos 3,2% da Rússia, dos 6% na Índia e dos 10% na China, segundo o instituto de pesquisa americano Conference Board. Esses números, contudo, se referem ao conjunto da economia, e não apenas à indústria. "Mas as informações que nós temos é de que a produtividade no setor tem ficado relativamente estagnada", diz Menezes Filho. Para ele, os trabalhadores brasileiros são pouco eficientes por diversos fatores, a começar pelos poucos anos de escolaridade e pela péssima qualidade da educação. Como resultado, boa parte da mão de obra é pouco qualificada.

O economista também acha que a produtividade é afetada por práticas ultrapassadas de gestão, que tenderiam a predominar na maior parte das empresas. Isso diminui a eficiência dos trabalhadores. "Além disso, apenas 5% das empresas industriais gastam com pesquisa e desenvolvimento, o que significa que inovam pouco, tanto em produtos como em processos. No país, as companhias estão muito distantes das universidades."

Números da Universidade da Pensilvânia indicam que o trabalhador brasileiro é menos produtivo que o americano, o alemão e o coreano, mas ainda é mais eficiente que o chinês, segundo o economista Samuel Pessôa, sócio da Tendências Consultoria e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em 2008, o brasileiro produzia o equivalente a US$ 17,9 mil por ano; o americano, a US$ 84,7 mil; o alemão, a US$ 67 mil; o coreano, a US$ 50,9 mil; e o chinês, a US$ 11,9 mil. Esses dados se referem à capacidade de produção média dos trabalhadores de toda a economia.

Pessôa diz que a evidência internacional é de que "os diferenciais de produtividade do trabalho da indústria de transformação entre diferentes países é menor do que os diferenciais de produtividade média". Com isso, os diferenciais de produtividade entre Brasil e China na indústria devem ser menores do que o da média da economia. E, como a eficiência avança mais rápido no país asiático do que por aqui, a diferença tende a cair rapidamente.

Como Menezes Filho, o economista José Marcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos, também considera fundamental a indústria melhorar a produtividade, mas acha que houve, sim, um aumento razoável do custo da mão de obra em reais. Camargo calculou a evolução do custo unitário do trabalho (medida da evolução da folha de salários em comparação com a da produtividade) levando em conta os preços de bens industriais finais do Índice de Preços ao Produtor (IPA) da Fundação Getulio Vargas (FGV). De meados de 2008 - quando começa a aumentar - até o fim de 2011, ele subiu 19%. Esse indicador é importante por mostrar a capacidade ou não da indústria de reajustar os preços. Nos últimos anos, com a forte concorrência importada, os aumentos têm sido limitados.

Para comparar, o custo unitário do trabalho deflacionado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 12,8% no mesmo período. De um lado, a indústria vê a mão de obra subir acima dos ganhos de produtividade, num momento em que o mercado de trabalho está muito aquecido. De outro, gasta mais com os serviços, que sobem de 8% a 9% ao ano e dos quais também é consumidora. A saída é melhorar a produtividade, diz Camargo, que vê como alguns obstáculos para isso uma educação fraca e uma legislação trabalhista que incentiva a rotatividade do trabalhador pouco qualificado.

O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lucio, combate a ideia de que os salários subiram muito em reais, mesmo que possam ter avançado acima da produtividade. Segundo ele, é possível que os aumentos salariais tenham sido compensados por ganhos relacionados a melhora de tecnologia, gestão e logística. Lúcio não acha que o trabalhador brasileiro da indústria seja pouco produtivo.

Numa planta de ponta no Brasil, ele pode ser tão eficiente quanto o operário de um país desenvolvido, acredita ele. "O principal problema da perda de competitividade da indústria é o câmbio, combinado ao fato de que, depois da crise, todo mundo quer vender para o Brasil, um dos mercados que mais crescem."

O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, torce o nariz para quem aponta a alta de salários como um dos principais motivos da perda de competitividade da indústria. Ele acha que o aumento em reais não foi muito expressivo, e que o valor do rendimento médio no setor está longe de ser astronômico. "A alta muito forte ocorreu com o salário medido em dólares, por causa da valorização do câmbio", afirma Sarti, destacando que o peso da mão de obra na estrutura de custos da indústria é baixo, embora varie muito de setor para setor.

Pessôa vê um movimento de alta considerável da mão de obra em reais nos últimos anos, dado o aquecimento do mercado de trabalho, mas diz que ele se tornou muito mais dramático em dólares. "É o câmbio que mata a indústria", avalia Pessôa. Ele discorda, contudo, da estratégia para tentar mudar o nível do real, marcada pela combinação de compras maciças de reservas, controles de capital e redução de juros talvez além do razoável. Com a alta dos preços de commodities e a baixa taxa de poupança doméstica brasileira, o real ficará estruturalmente valorizado, acredita Pessôa.

Para melhorar a competitividade do setor industrial ele propõe aumentar a carga tributária dos setores de serviços e dos que produzem commodities, para permitir a desoneração da indústria de transformação. Aumentos de produtividade, por sua vez, são bem-vindos, mas não devem devolver a competitividade perdida para o câmbio valorizado, diz ele.

Fonte:|http://www.valor.com.br/brasil/2597290/peso-do-salario-sobe-com-pro...

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Comentário de Fabio Germiniani-TRIUMPH TEXTIL em 2 abril 2012 às 9:21

Produção baixa X processo longo, não ha como manter os custos no mesmo patamar nem mesmo dispensando uma parte desta M.O. Única forma é parar ou assimilar os custos (prejuízos), sem contar com os contratos de energia, etc.

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