A queda do preço do petróleo, que se agravou nas últimas horas, torna ainda mais dramática a situação da Rússia, que precisa do barril negociando a 100 dólares para evitar uma recessão.
E se a coisa piorar um pouquinho, pode sobrar para o Brasil.
As vendas de petróleo e gás respondem por mais de dois terços das exportações da Rússia. Além do país estar perdendo receita com o barril barato, o acesso ao crédito também está secando como resultado das sanções do Ocidente, que tenta conter o neoimperialismo de Vladimir Putin.
No primeiro semestre deste ano, o preço médio do petróleo era de 110 dólares por barril. Ontem, o West Texas Intermediate (WTI) listado na bolsa de Chicago derreteu para menos de 70 dólares por barril depois que os membros da OPEP não chegaram a um acordo para cortar a produção. (Já não se fazem mais cartéis como antes.) O Brent — principal benchmark do mercado de petróleo — agora sai a 73 dólares.
Para compensar a perda de receita, a Rússia deixou o rublo andar. A moeda já se desvalorizou 31% em relação ao dólar em três meses, e negocia no nível mais baixo da história (veja gráfico abaixo).
O Brasil é sensível ao que acontece na Rússia. Em 1998, a “crise russa” contaminou os mercados emergentes e fez secar linhas de crédito para o Brasil.
Se os russos começarem a dar calote, o custo de tomar dinheiro no mercado internacional vai subir para empresas como a Petrobrás — assumindo que ela ainda tenha acesso ao mercado de dívida.
As empresas russas devem cerca de 500 bilhões de dólares em empréstimos internacionais. Deste total, 130 bilhões vencem até o fim de 2015.
No mês passado, a Standard & Poor’s manteve o rating da Rússia em BBB-, o nível mais baixo do grau de investimento. A perspectiva é negativa, o que significa que a Rússia está sujeita a um downgrade em abril — a próxima revisão da nota agendada pela agência — ou antes.
A situação da estatal do petróleo, a Rosneft, é preocupante.
Com seu acesso a dólares limitado, a empresa pediu que o Kremlin saque de seus fundos soberanos e a ajude a honrar 30 bilhões de dólares em dívidas que vencem nos próximos 12 meses.
Segundo a Bloomberg, quando se compara o tamanho de sua dívida com seu lucro, a Rosneft é a segunda petroleira mais endividada do mundo.
A primeira é a Petrobrás.
Por Geraldo Samor
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